Eleitor de João Lisboa tem mais direitos do que você

Texto publicado originalmente no Blog Adote São Paulo

 

 

João Lisboa é cidade pequena do oeste do Maranhão com todas as dificuldades que uma cidade pequena do oeste do Maranhão pode ter. São pouco mais de 20 mil habitantes, tem um comércio claudicante e está longe de ser o modelo de desenvolvimento urbano como prometido aos seus moradores na época em que se emancipou de Imperatriz, nos anos de 1960. A luta eleitoral para assumir um lugar no Palácio da Gameleira – nome pomposo para o prédio simples que abriga o gabinete do prefeito e secretarias municipais -, também tem cenas que se assemelham a pobreza política deste Brasil. São quatro os candidatos à prefeitura e 96 querem uma das 11 cadeiras na Câmara Municipal, nenhum deles tem em seu plano de governo qualquer proposta que valha análise mais profunda, mesmo assim recomendo ao eleitor paulistano que fique atento com o que está acontecendo por lá e mais algumas pequenas cidades pelo interior do Brasil.

 

Ao contrário dos 8 milhões de eleitores da capital paulista, os de João Lisboa terão o direito de saber, antes de decidirem seu voto, quem são as empresas e empresários que estão financiando as campanhas de todos os candidatos. Isto só foi possível porque o juiz Márlon Reis, um dos incentivadores da Lei do Ficha Limpa, exigiu a divulgação antecipada dos doadores da campanha eleitoral com base na Lei de Acesso à Informação e em princípios de cidadania da Constituição da República, conforme me explicou em entrevista nesta semana. Além de João Lisboa, a decisão do magistrado se estende as cidades maranhenses de Buritirana e Senador La Roque.

 

Para Márlon Reis democracia reclama transparência e informações de direito público não podem ser secretas. Ele lembra que enquanto nos Estados Unidos os nomes dos doadores são revelados em tempo real, aqui se nega ao eleitor o acesso a esses dados elementares. E por que elementares? Porque não se pode mais votar às cegas sem ter noção de quem são as pessoas e grupos interessados na eleição deste ou daquele candidato. Após a iniciativa do magistrado, juízes eleitorais de vários Estados passaram a adotar o mesmo procedimento e, atualmente, a regra já vale em algumas cidades do Paraná, Tocantins, Amazonas e Mato Grosso.

 

Infelizmente, nem o presidente do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo nem mesmo algum juiz das zonas eleitorais da cidade demonstraram até agora interesse em tornar públicas as informações sobre os doadores de campanha, apesar destas estarem disponíveis no tribunal desde seis de agosto, data em que candidatos e partidos tiveram de apresentar a primeira prévia da movimentação financeira em suas contas de campanha. Os candidatos, ao menos a maioria, também preferem esconder a informação do seu eleitor, pois poderiam por iniciativa própria publicarem em seus sites o dinheiro que entra para sustentar suas campanhas.

 

Esta aí um desafio que você pode fazer ao seu candidato: ser transparente e divulgar quem financia sua campanha. E um desafio que podemos fazer ao TRE de São Paulo: obrigar a publicação antecipada dessas informações de interesse do eleitor.

4 comentários sobre “Eleitor de João Lisboa tem mais direitos do que você

  1. Caro Mílton,

    Temos um sério problema de escala! Escala porque numa cidade relativamente pequena, todomundo conhece todomundo!
    Em Sãpã, não dá…
    Trabalho aqui no centro e não conheço diretamente, nunca falei com meu visinho ilustre, um tal de Gilberto, que sempre anda de helicóptero… Nem outro ali do outro lado do viaduto, um certo Tônho Ermírio, dono de uma tal de Votorantin…
    Agora, em João Liboa, ái do prefeito se ele esquecer de dar bom-dia para quem ele encontra no caminho do trabalho ou quando vai à Igreja…
    Ali, tododos que doam ou deixam de doar viram conversa no bar ou nas rodas de amigos! Coisa de cidade pequena.

  2. Não há iniciativa e interesse, pois não há dúvidas de que não existe lógica em receber qualquer ajuda pela inciativa privada.
    Se há doação, há interesse.
    Isso é uma das maiores afrontas que o eleitor sofre a cada eleição.
    E pela uninimidade de procedimento, julgo, há divergência entre proposta do plano de trabalho versus interesse público.
    Meu desânimo eleitoral não é iniciamente na propoaganda eleitoral gratuita.
    Passa pelo é no escamoteiamento nas condutas dos candidatos na sua vida pública, passando por sua prestação de contas e caminhando até as coligações.
    Prá quem quiser conferir a prestação de contas dos cadidados e partidos é só ir a página do TSE.
    Não se assustem com os valores dos candidatos a Prefeito! Acreditem, com os valores deu prá fazer tudo isso…
    Encontra-se disponível a primeira parcial da origem dos recursos recebidos para financiamento de campanha. A segunda parcial tem data limite para 02/09/2012.
    http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2012/prestacao-de-contas

  3. O que me deixa intrigado é como uma cidade pequena dessa entre outras pequenas, também conseguem pagar o funcionalismo público e ainda por cima ter “autonomia” financeira.

    Alguem pode me explicar como é que conseguem pagar prefeito e vereadores fora secretários de algumas pastas que não precisariam ter ???

    Abraços

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