Poesia de Mário Quintana
Interpretação de Milton Ferretti Jung
O bom do sono é mesmo o sonomar
O sono de alto mar sem terra à vista
onde és como um barco sem barqueiro
cujo rumo é traçado pelo ar…
Mas no fundo do mar só tem vasos barrocos!
Viste? Água não tem e não tem sol nem lua.
E essa luz, que parece que flutua,
é a mesma dos lampiões de acetilene
daquela antiga, pequenina rua…
Mortos? Nenhum… Nem vivos… Eles são
habitantes de um trêmulo intermundo
e nunca se detém mais do que um segundo
ante o parado olhar dos escafandros.
E onde o relógio é um animal estranho
incompreensivel e sem nome algum
e o tempo ondeia sem medida exata
e onde nada se encontra e tudo se acha,
por que é que vieste – intruso – devassar
essas formas e faces e esse mundo
onde o enigma és tu?
Retorna, irmão:
o bom sono é mesmo o sonomar!