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Era o ano de 1986. Mauro Galvão, um dos grandes zagueiros que o Brasil já teve, faria a sua estreia na seleção brasileira. Eu faria a minha no futebol da rádio Guaíba de Porto Alegre. Já trabalhava na casa há uns dois anos, mas no que costumavam chamar de esporte amador — esporadicamente fazia uns “frilas” no futebol. E assinava as reportagens como Mílton Júnior, para que não houvesse confusão com o nome do pai, já que ele, o Milton Jung original, era também narrador esportivo da emissora.
Minha primeira tarefa no futebol: assistir ao lado da família do zagueiro, que na época jogava no Internacional de Porto Alegre, à primeira partida dele com a amarelinha da seleção. Era um jogo amistoso, se não me engano em Goiânia, Goiás.
Cheguei na casa da família Galvão que ficava próxima do estádio colorado e fui recebido por seu Oquelesio, pai do Mauro, de braços abertos. Ele lembrava do tempo em que eu havia jogado ao lado do filho na escolinha de futebol do Grêmio — sim, Mauro sempre foi gremista apesar de ter iniciado carreira e ganhado títulos importantes no Internacional. A lembrança de seu Oquelesio, evidentemente, não se devida às minhas qualidades técnicas em campo, mas por eu ser filho de quem eu era — e o pai sempre esteve presente nos nossos jogos.
Se para a família de seu Oquelesio a ansiedade era resultado da estreia de Mauro na seleção, a minha era pela oportunidade de participar de uma jornada esportiva que tinha no comando, como narrador, exatamente o meu pai.
Galvão estava no banco da seleção. Eu, sentado no sofá da sala de seu Oquelesio.
Ao meu lado, além do pai, estavam a mãe, a mulher e o filho recém-nascido de Mauro. Durante todo o primeiro tempo sem o filho famoso em campo, a família aliviava a ansiedade com alguns salgadinhos aqui, uns pasteizinhos ali e muitos goles de cerveja.
Constrangido por estar na casa dos outros e nervoso por participar da primeira jornada esportiva, não conseguia sequer aproveitar os petiscos oferecidos. A cerveja, nem pensar. Mesmo alguns anos depois de deixar a prática esportiva de lado, mantinha o hábito de não beber nada que tivesse álcool.
O momento tão esperado chegou no segundo tempo. Mauro Galvão aquecia ao lado do gramado. Eu preparava a garganta para a primeira intervenção. Assim que o craque entrou em campo, eu fui ao ar. Por telefone, relatei a satisfação da família como se aquela fosse a mais importante reportagem de todos os tempos.
A felicidade da família com a entrada do filho na seleção só não era maior do que a minha com a primeira participação na jornada esportiva. Alegria que me fez esquecer alguns cuidados básicos e aceitar o primeiro gole de cerveja depois de anos. Afinal, tínhamos todos motivos de sobra para um brinde. Um não. Dois, três, quatro copos — sei lá quantos mais.
Bola prá cá, cerveja prá lá. E o jogo chegando ao fim. Galvão fez em campo o que se esperava de um jovem zagueiro em dia de estreia. Não comprometeu. O novato aqui também estava bem. Até o último gole, ops, até o último apito.
Com o jogo encerrado, corri para o telefone, liguei para a rádio e pedi para ir ao ar.
O pai, Milton Jung, orgulhoso de chamar o filho mais uma vez, logo passou a bola para mim. Já na primeira frase senti os efeitos da cerveja. As palavras saíram arrastadas. O pensamento estava lento. As ideias, esquecidas na sala.
Apesar disso consegui aos trancos e tropeços passar algumas informações, mas na hora de devolver a bola para o velho Mílton, o jovem aqui se atrapalhou com o próprio nome e tascou de forma solene: “eram essas as informações, ao vivo, diretamente da casa da família de Mauro Galvão. Agora é com você, caro Mílton Júnior!”.
O silêncio do outro lado da linha foi o mais doloroso puxão de orelha de pai para filho que já recebi.
Prezado Milton. Sou advogado e estou entrando em contato buscando uma aproximação de um cientista amigo que acaba de requerer a patente de Protocolo da Cura de importante infecção, com o mundo corporativo. Nada ainda foi divulgado, para poder encaminhar o assunto com mais propriedade. Será que você pode aproximar as partes ? Obrigado