Toda a cidade de São Paulo ganha com a luta dos moradores do Butantã pela preservação do bairro

Por Carlos Magno Gibrail

Bairro do Butantã Foto: Wikepedia

 

O distrito do Butantã é efetivamente privilegiado, tanto no aspecto da natureza quanto na questão da mobilização dos moradores. As inúmeras entidades existentes, constituídas para defender o patrimônio do bairro, estão conscientes das riquezas naturais e históricas. Afinal, numa área de 55km2 existem 520 praças e 8 grandes parques, onde vivem 650 mil pessoas.

Atualmente a região apresenta acentuado adensamento com a construção de habitações próximas a Linha Amarela do Metrô, mantendo atentas as sociedades do bairro.

O Parque da Fonte, uma área que fica próxima ao Morro do Querosene, entre a Rodovia Raposo Tavares e a Av. Corifeu de Azevedo Marques, tem recebido toda a atenção dos moradores com o objetivo de preservar o local. 

A Prefeitura pretende municipalizar o terreno, e através da Secretaria do Verde e Meio Ambiente enfrenta uma disputa judicial, e aguarda decisão da justiça sobre imissão de posse da área destinada ao Parque da Fonte. Ao mesmo tempo invasores clandestinos, que já começaram a se infiltrar, e construtoras que desejam construir dezenas de prédios, também querem usufruir da área.

O terreno do Parque já foi declarado de Utilidade Pública pela Prefeitura. Em seguida houve o tombamento da Fonte.

O impasse está entre a Prefeitura e os proprietários na definição do preço, na medida em que os R$ 5 milhões originais segundo a Prefeitura se transformaram em R$ 2 milhões pelas dívidas então existentes.

Detalhe importante é que esta área é classificada pelo Zoneamento como ZEPAM, ou seja, área de preservação ambiental.

Tudo indica que a definição deste processo iniciado em 2011 deverá ocorrer proximamente. Se não pela tradicional lentidão nas tramitações judiciais, talvez pela movimentação dos invasores clandestinos e das construtoras. 

Daí que a Veja SP, no dia 7 de outubro, em artigo assinado por seu redator chefe, Raul Lores, publicou reportagem sobre os moradores do Butantã que estão querendo mais um parque:

“Cobrança por mais um parque no Butantã: os privilegiados querem mais”

A matéria é surpreendente. A saber:

– Ao querer demonstrar que o bairro é pouco populoso, se serve de dados errados. Ou seja, o distrito de Butantã tem 11.818 habitantes por km2, e não 4.320. O cálculo correto é: 650.000hab/55km2, em vez de 54.000hab/12,5km2

– Não cabe aos moradores distribuir verbas da Prefeitura, cabe sim a eles preservar o meio ambiente e lutar pela melhor qualidade de vida, e se o Butantã tem áreas verdes é porque soube mantê-las. 

– Quanto mais houver áreas verdes melhor para a cidade como um todo, embora a cada Zoneamento as áreas atacadas pelos agentes imobiliários são justamente as remanescentes. Veja o que está acontecendo na Av. Morumbi transformada em ZCOR3. 

– É impossível transportar recursos naturais de um bairro para outro, além do que é imprescindível preservar os existentes, se possível dando acesso a toda população. Por exemplo: todos da cidade podem visitar o Instituto Butantã ou a Cidade Universitária (ao menos deveriam). 

– Atacar, duvidar e debochar de hipóteses históricas da região é de mau gosto, principalmente para quem estudou arquitetura e urbanismo e já viveu em Pequim, Nova York, Washington. 

Vale a pena visitar o Butantã, antes que preconceitos ocorram; há também a Casa de Vidro, Casa da Fazenda, Fundação Oscar Americano, Palácio dos Bandeirantes, Estádio do Morumbi, do arquiteto Artigas, etc.

Se o leitor tiver interesse em acompanhar a vida no Butantã, veja o Jornal do Butantã, de quem recorri para as informações deste artigo. Reforçando com uma conversa com o redator chefe Wilson Doninni.

N.E: Ouça a reportagem sobre o Distrito do Butantã da série “Giro pelas 32”, parceria da rádio CBN e do site 32xSP

Carlos Magno Gibrail é consultor, autor do livro “Arquitetura do Varejo”, mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung.       

50 comentários sobre “Toda a cidade de São Paulo ganha com a luta dos moradores do Butantã pela preservação do bairro

      • Concordo, plenamente, o Butantã tem todas as Classes Sociais, em perfeita harmonia, todos disfrutando das Maravilhas, Verdes de nossa Região, isto e Qualidade de Vida, que deve ser estendida para toda nossa São Paulo, não ao contrário, tentar aniquila-la!

    • Acho que você não entendeu a abordagem da matéria. O foco é por mais áreas verdes por toda a cidade, não podemos nos contentar com migalhas que o poder público e alguns setores insistem em nos impor. Precisamos ter um planejamento urbano sustentável para não comprometer nossos recursos naturais e, consequentemente, as futuras gerações. Que SP você quer para seus filhos e netos? Cinza ou verde?

    • Não queremos nem pobres nem pequenos de espíritos e atitudes. Queremos os grandes, que olham para cima e são capazes de enxergar um cenário em condições de igualdade para todos. Por que iríamos nos pautar pelo pior ? Vamos lutar para que todos tenham o mesmo patrimônio ambiental. Que todos consigam enxergar a riqueza que existe em se poder desfrutar de áreas verdes povoadas por inúmeras outras espécies que só nos causam um enorne bem estar e,
      estes sim, capazes de produzir o verdadeiro sentido da igualdade. BUTANTÃ PARA TODOS !

  1. Excelente matéria traz luz e justiça a um assunto tratado de forma leviana e preconceituosa pelo Sr. Raul Lores. Aliás vi há pouco que ele estava atuando como mediador em um debate promovido pelo setor imobiliário…

      • Pior, O Sr Raul Lores faz um discurso lindo defendendo aumento de ZEIS mas nao esclarece muito bem a questão do metro quadrado das “moradias populares” a um preço tão alto!

    • O jornalista da revista VejaSP, @rauljustelores, usa sua posição e este assunto para autopromoção e influenciar leitores sobre os “benefícios” de uma cidade cinza e prédios com mais de 30 andares por toda a cidade indiscriminadamente, participando, inclusive, como co-anfitrião em eventos promovidos pelo SECOVI. Parece que há uma boa parceria entre esses personagens que defendem as mesmas ideias e lançam diariamente o velho e batido discurso do “eles x nós” para defender a extinção de qualquer barreira edilícia pela cidade.
      #raulvcnãomecala

  2. As primeiras associações de bairros da cidade surgiram por melhorias, como luz elétrica, asfalto, calçamento, lá na década de 40 e 50. Naquele tempo, os moradores pagavam carnês à Light e contribuições de melhoria para a prefeitura. Não era nada de graça. Nos idos de 1996, 1998, houve um movimento de desqualificação das associações de moradores de bairros, com argumentos que seriam braços de vereadores, coisas do tipo. A história da defesa dos bairros, da cidade, da qualidade de vida, do meio ambiente e do patrimônio cultural comprovam a importante e imprescindível atuação da cidadania por meio das associações de moradores, que juntas estão se tornando o maior movimento organizado contra a destruição da cidade pelos setores retrógrados do mercado imobiliário, este que fala de forma desqualificada por meios nada democráticos. Parabéns ao Gibrail. Parabéns à cidadania e aos moradores que defendem seus bairros e nossa cidade, inclusive contra o poder publico, incapaz de ouvir a sociedade e, infelizmente, inimigo contumaz.

  3. Convido o Sr Fabio Peres a vir visitar o nosso bairro e conhecer a ‘gente diferenciada’ a que se refere de maneira irônica. Moro especificamente no Instituto de Previdência, junto ao parque Previdência. Grande parte mora aqui no bairro ha mais de 30 anos, alguns ja na terceira geração. Somos diferenciados, sim, mas não da maneira que insinuou, e sim porque defendemos a preservação de uma das ultimas áreas verdes da cidade. Venha conhecer e depois fale.

  4. Muito bom artigo. É uma resposta ao que foi publicado na última edição da VejaSP onde o autor desta, além de distorcer fatos, e números, foi tendencioso mostrando desconhecer o assunto e os bairros dos quais fez menção. O Butantã é alvo do setor imobiliário que não se interessa pela preservação dos verdes desta nossa sofrida cidade. Muito estranho esse ataque gratuito,.

  5. A matéria jocosa e de muito mal gosto da revista Veja presta um desserviço ao jornalismo e à cidade de São Paulo que luta pra preservar o que resta de verde e de patrimônio histórico-cultural, espaços estes cotidianamente ameaçados pela ganância econômica sem freios, principalmente do setor imobiliário. O jornalista da Veja faz um ataque muito esquisito ao bairro e aos seus moradores, sem ouví-los, e com dados errados. Porque será?

  6. Surpresa com o grau de agressividade do artigo publicado em Veja sobre o Butantã. Concordo ponto por ponto com o artigo de Milton Jung. Excelente resposta. Qual é a lógica em defender a especulação imobiliária (que neste caso, e em muitos, não inclui moradia popular) em detrimento de novas áreas verdes? Sem contar o total desconhecimento sobre o bairro, que Jung pontua tão bem. É bom lembrar que o Butantã é um bairro de uma diversidade enorme, onde convivem moradores de diferentes poderes aquisitivos. Basta se dar ao trabalho de visitar.

    • Concordo, plenamente com toda a excelente matéria fidedigna do Milton Yong, expondo a realidade real e isenta do Butantã, bem como com todos os seus comentários Eliana Frias!

  7. ” É impossível transportar recursos naturais de um bairro a outro…” só com esta frase a matéria publicada na Vejinha pelo Raul Lores já perdeu a pouca racionalidade que tinha. Temos sim que defender as áreas verdes que restam na cidade, no estado e no país. Não dá pra achar que dá pra compensar uma área verde natural e pública com um paisagismo dentro de um condomínio fechado e portanto, de uso privativo. Entregar o parque da fonte pra especulações imobiliárias não vai fazer com que a prefeitura ou a iniciativa privada crie um parque público na cidade Ademar ou no Sacomã.

  8. Ótima resposta ao artigo de Raul Lores! Ao invés de criticar a mobilização dos moradores do Butantã na luta pela preservação da área verde existente, o redator chefe da Veja deveria dedicar seus esforços a identificar outras áreas nas demais regiões da cidade que possam vir a se tornar parques e praças, reforçando a luta pela melhoria da qualidade de vida nesta megalópole. O fato é: há uma oportunidade que está colocada hoje na região do Butantã. Existe uma área preservada, com três nascentes, cujo proprietário possui dívidas com a prefeitura barateando o valor do terreno, que já foi reconhecido como área de preservação pelo Plano Diretor. Vamos desperdiçar essa oportunidade para melhorar a vida urbana alegando que há outras áreas mais carentes? Há que ampliar a luta e não minar as lutas em andamento!

  9. Parabéns pelo artigo. Esse Raul Juste Lores escreveu um artigo bizarro. Argumentos distorcidos, desrespeito com os moradores locais. Desconhecimento da realidade complexa do Butantã. Jornalismo de péssima qualidade!!!!

  10. Matéria extremamente responsável em relação ao Bairro do Butantã, sua diversidade cultural e ambiental! Realmente faz jus às características do bairro e suas lutas que somam na qualidade de vida de São Paulo. Escrito por alguém que parece de fato conhecer o Butantã.

  11. Excelente texto do Milton Jung. Contraponto perfeito à matéria do sr Raul Lores, daquele panfleto chamado revista, que demonstra seu total desconhecimento sobre a região do Butantã. Não à toa foi mediador do debate do Secovi. Mostrou quem está representando e seu interesse em publicar números totalmente equivocados sobre a região.

    • Sinceramente, não sei como uma revista como a Veja, mantém uma redação tão tendenciosa e despreparada para contato com o público, depois reclamam que vai a bancarrota !!

  12. Raul Juste Lotes tem um viés desenvolvimentista. Sempre defende a especulação imobiliária em detrimento da preservação do patrimônio histórico com o tosco argumento de que o bem não tem sido preservado adequadamente. Se não temos capacidade para preservarmos então vamos destruir em vez de cobrarmos pela correta preservação?
    Fica evidente que atende aos interesses do setor imobiliário, sendo assim, bate de frente com as associações de bairro que cobram atitudes preservavionistas por parte das autoridades e batem de frente com os interesses especulativos.

  13. Ótima matéria! Uma excelente resposta ao modo como a revista tratou o Butantã, aquilo é um desserviço, atacar os moradores, desqualificando as demandas locais. E quem sabe do próprio bairro é quem vive ali e não um “estudioso” prepotente, com um discurso falso de justiça social, atuando a serviço do setor imobiliário!

  14. Muitíssimo obrigado, Milton!
    O Raul ainda fala em fazer um Minha Casa Minha Vida no local, de maneira hipócrita, pois ele sabe e afirma na sua matéria q o q se planeja para o local é um empreendimento privado q não vai trazer nenhuma justiça social para a cidade. A serviço do q está esse urbanista da Vejinha????

  15. Sao Paulo precisa de areas verdes
    É uma cidade carente de praças e parques .
    São areas de conforto e saúde para todos
    Quem defende a especulação imobiliaria é quem realmente esta realmente enchendo o bolso .
    Vamos abrir os olhos e as mentes .
    O que vc prefere , um predio ou uma praça ?

    • Prefiro praças, parques e ruas arborizadas.
      Só os imóveis residenciais abandonados, vagos e ociosos zerariam todo o déficit habitacional da cidade de São Paulo, portanto não precisamos de mais prédios, precisamos de gestores inteligentes que saibam equacionar os problemas e as soluções.

      • Prefiro praças. Prefiro cidadania. Prefiro associações de moradores do que associações comerciais de gestores sem cidadania e sem compreensão da responsabilidade urbana. Prefiro movimentos de cidadão urbanos do que movimentos de representantes do mercado imobiliário e seus fluxos monetários que mentem com estudos maquiados e pagos com o lucros da exploração. Infelizmente não tem nenhum candidato a prefeito que vá colocar a mão no vespeiro para corrigir o planejamento, invertendo a lógica do mercado privilegiando a lógica da cidadania.

  16. Prefiro praças, parques e ruas arborizadas.
    Só os imóveis residenciais abandonados, vagos e ociosos zerariam todo o déficit habitacional da cidade de São Paulo, portanto não precisamos de mais prédios, precisamos de gestores inteligentes que saibam equacionar os problemas e as soluções.

  17. O setor imobiliária está tomando conta não só do Butantã, mas, de outras regiões que deveriam ser de preservação. Estão invadindo Itapevi e outros municípios próximos a nós do Butantã. Os animais estão sendo empurrados para outros lugares ou”simplesmente”…. morrendo, pq seu habitat está sendo destruído. Até quando? Qual é o limite? Ele existe? Penso que se não tiver movimentos como estes, daqui a pouco não teremos mais pq previdência, nem Butantã, nem cidade universitária e tantos outros parques e áreas verdes.

  18. Acabo de ter duas surpresas. Uma boa e outra péssima: 1) Patricia Cidral, com sua peculiaridade, anuncia entrevista com o Cortela para discutir os limites da liberdade, e 2) Patricia Cidral, com sua peculiaridade, anuncia que vai entrevista Raul Lores, para discutir Plano Diretor. Acredito que Cortela tenha o que dizer, mas Lores realmente não tem noção do que seja interesse público, muito menos liberdade e a democracia que sustenta. Muita peculiaridade para uma profunda análise. A CBN é muito melhor do que isso.

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