Humberto Andrade
Ouvinte da CBN

Pouco depois que me mudei para São Paulo, no fim dos anos de 1990, eu trabalhava em uma obra no Brooklin Novo, próximo à Av. Berrini e fui almoçar no shopping D&D. Num dos corredores, eu o vi saindo com a esposa de um restaurante. Ele passou por mim na direção contrária e foi … eu fiquei paralisado olhando. Era ele, Doutor Sócrates, meu ídolo de infância.
Aquele time do Corinthians do bicampeonato paulista, 82/83, da Democracia Corintiana, me marcou muito. Foi a afirmação de um menino de nove, dez anos, que me dera a certeza que seria corintiano por convicção. Até então, era corintiano apenas por influência do meu pai, desde o nascimento.
Naquele instante, que não sai da minha lembrança, hesitei em chegar até ele. Tive vergonha e pensei que se o chamasse poderia ser indiscreto e atrapalhar.
E Sócrates foi caminhando em direção ao fim do corredor, lentamente, até sumir de vista.
Me arrependo de não ter puxado assunto e ter falado com ele qualquer coisa.
Fico pensando como seria. Poderia ter gritado:
– Sóócrateesss!
E apertando sua mão, agradeceria:
– Obrigado!
– Obrigado pelo quê? – imagino que ele perguntaria, sério e em tom filosófico.
– Obrigado por tudo, por tudo! – eu responderia, nervoso e sem jeito. Como quem quisesse agradecer por ele me ter feito corintiano.
– Obrigado por fazer uma criança feliz, Sócrates!
Depois que ele morreu, em dezembro de 2011, eu percebi que essas oportunidades podem ser únicas. Hoje em dia, quando vejo um jogador que eu goste, de qualquer time, eu sempre puxo um assunto bobo, que seja, cumprimento e peço para tirar uma foto.
Daquele time excepcional, tive a chance mais tarde de conhecer o Zenon. Sempre fui muito bem tratado por todos, inclusive os que jogam ou jogaram pelo Palmeiras. Os ex-jogadores, principalmente, adoram esse carinho.
Certo dia foi incrível, encontrei o Dudu, ex-Palmeiras, ex-Cruzeiro, agora no Atlético Mineiro. Encontrei duas vezes no mesmo dia. De manhã na Pompeia, numa escolinha de futebol. Cheguei na cara de pau: – Você tira foto com corintiano? E ele gentilmente disse: – Claro!
À tarde, num açougue gourmet em Perdizes. “E agora, faz vídeo com corintiano?” Mais uma e eu já posso pedir música no Fantástico.
Quando eu estou com meu filho e vejo que ele está envergonhado em se aproximar de algum jogador, eu o incentivo a participar da tietagem. Eu sei que ele gosta, e se perder a oportunidade vai se arrepender — assim como eu com o Doutor Sócrates.
Ouça o Conte Sua História de São Paulo
Humberto Andrade é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva seu texto e envie agora para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.