Avalanche Tricolor: Torcida e time fazem uma baita diferença

 

Grêmio 2 x 1 Atlético (GO)
Brasileiro – Olímpico Monumental

 

Gremio x Atletico-GO

 

Você, caro e raro leitor deste blog, sabe bem que muito mais do que o placar final e a conquista alcançada, escrevo esta coluna, desde 2007, com base na emoção emanada da camisa que nossos jogadores suam em campo. E hoje me atrevo a escrever esta Avalanche antes mesmo de saber o resultado final da partida. Já estamos vencendo por 2 a 1, mas poderia ter começado este parágrafo antes mesmo de ver Elano brilhar com dois belos gols, um que partiu do seu talento na cobrança de falta – parecia ter colocado a bola com a mão no arco adversário – e outro no qual fechou com precisão uma belíssima jogada construída, não por um jogador, pelo coletivo tricolor.

 

Fui conquistado por este Grêmio desde o momento em que a câmera percorreu as arquibancadas e percebi que todos os espaços estavam devidamente ocupados. Acreditei neste time no instante em que o juiz apitou o início do jogo e havia uma tensão que ligava cada um de nossos jogadores, os levava a correr com uma gana que há muito não via nesta equipe. Estava evidente que algo novo surgia na relação entre torcida e time, aquele algo que fazia falta e me incomodava tanto, como já expressei em Avalanches e comentários anteriores. O Grêmio de hoje, sei lá qual será o resultado final, é um time com outra alma, apoiada pela paixão de seus torcedores, e isto pode fazer uma baita diferença para as nossas pretensões neste Campeonato Brasileiro. Porque é isto que nos torna Imortal !

Avalanche Tricolor: goleiros, eles não são o problema

 

Grêmio 0 x 1 Atlético – MG
Brasileiro – Olímpico Monumental

 

 

Três defesas incríveis de Marcelo Grohe, que impediram uma derrota vexatória em casa, foram provavelmente os únicos momentos em que a torcida do Grêmio pode comemorar com satisfação, no início da noite deste domingo. O goleiro, que fazia sua estreia no time titular, apenas ratificou a opinião de muitos torcedores que confiam nele desde que demonstrou talento e segurança substituindo Galatto e depois Victor, sempre que este era convocado para a seleção brasileira. Grohe é mesmo um goleiro de qualidade, transmite seriedade e esperou muito pela chance de vestir definitivamente a camisa de número 1. Desejo que todos estes anos de paciência e resignação sejam recompensados.

 

Vibrar com as defesas de Grohe, porém, está muito aquém do que imaginava para esta que foi a mais importante partida que disputamos neste campeonato até aqui. Os três pontos desperdiçados nos colocariam em posição privilegiada na competição e impediriam a ascensão do adversário à liderança. Neste Brasileiro de pontos corridos, jogos assim são como se estivéssemos em uma final, o que a comemoração dos “mineiros” após o jogo deixou bem claro. E em decisão se espera não apenas bola no pé, mas bola chutada com perigo no gol, caminho mais apropriado para chegarmos ao resultado positivo.

 

A derrota apenas reforçou o sentimento de frustração que se revelou, há três dias, quando soube que o Grêmio havia vendido Victor para o Atlético Mineiro. Ao contrário de uma parcela da torcida, continuava a confiar na performance dele. Mais importante, porém, é que ele era dos poucos ídolos que ainda estavam preservados no clube que tem se especializado em se desfazer de seus principais jogadores sob a justificativa de que é preciso deixar as contas em dia. Concordo que não se pode cometer absurdos com o dinheiro alheio, mas talvez se deixassem de gastar na contratação de gente que não faz a menor diferença para o elenco nem são capazes de comover um torcedor, sobraria mais para segurar aqueles que respeitamos.

Avalanche Tricolor: Em reforma e feliz

 

Atlético GO 0 x 1 Grêmio
Brasileiro – Serra Dourada GO

 

 

Foram quase cinco meses de reforma na casa em que moro, período no qual ouvi palavras consoladoras de amigos e conhecidos. Houve até quem nos prevenisse para a possibilidade de separação do casal, disseram que o índice de divórcio é enorme devido aos transtornos provocados por marteladas e afins. Nunca soube disso, mas se são os amigos que estão falando, melhor reforçar os votos de confiança feitos há quase 20 anos. Principalmente porque iríamos continuar morando no mesmo ambiente da obra. Ninguém apostou que o projeto estivesse entregue antes de cinco meses, mesmo que eu reforçasse a informação de que minha previsão já tinha a margem de erro, natural quando se pretende, por exemplo, trocar o telhado no verão chuvoso de São Paulo. Entendo a preocupação,

 

Du-vi-de-o-dó !
Isso é coisa lá para o segundo semestre.
Pode colocar mais um mês, com certeza. Eles nunca entregam nada em dia.

 

O “eles”, que aparece na frase acima, uma das muitas que ouvi neste tempo todo (quando as marretadas nas paredes permitiam), são pedreiro, marceneiro, eletricista, pintor, arrematador, telhadista, decorador, gesseiro, calculista, engenheiro e arquiteto – apenas para citar algumas das muitas profissões com as quais convivi nesta primeira metade do ano. É um time completo que precisa estar muito bem afinado, pois um depende do outro, e qualquer tropeço aqui vai atrapalhar logo ali. No meu caso, esta equipe funcionou com perfeição, a ponto de me permitir nessa quarta-feira, estar sentado no sofá da nova sala de televisão, assistindo tranquilamente ao Grêmio vencer seu adversário, no Campeonato Brasileiro.

 

Claro que nosso time ajudou neste clima de tranquilidade, pois apesar de um placar magro, como dizem os locutores de futebol, o desempenho foi interessante para uma equipe que teve de passar por uma reforma com a temporada já iniciada e os campeonatos em curso. Percebe-se que têm peças se encaixando na posição, haja vista a melhora de Marco Antonio no meio de campo, a defesa mais equilibrada, com todos as ressalvas que possamos fazer, e um ataque com o fundamental reforço de Kleber, retornando do estaleiro. Seria injustiça não citar Miralles que fez um gol daqueles que esperamos que o centroavante faça quando a marcação esta dura e o espaço é pequeno. E Fernando, disparado o melhor jogador deste grupo.

 

Longe de mim achar que está tudo pronto, sei que sempre tem alguma coisa a fazer e, no caso do time, precisamos ainda ajustar alguns reforços. Mas você sabe que me entusiasmo muito facilmente com o Grêmio, pois sou incapaz de ver seu desempenho com o olho da razão, deixo que o coração fale por mim sempre (ou quase sempre), por isso fico pensando se não devo agir com o time da mesma forma que meus amigos têm me recomendado em relação a casa, desde que anunciei o fim da reforma. Eles pedem para que eu não festeje antes da hora, pois sempre aparece algum probleminha, um vazamento de cano, um telhado mal colocado, um piso que entorta ou uma pintura que borra.

 

Quer saber !? Por mais que goste de todos eles, vou tapar os ouvidos desta vez e aproveitar o momento. Se não me divertir agora, curtir o prazer da obra feita e dos resultados conquistados pelo time em reforma, vou sorrir quando ? Hoje, tenho o direito de ser feliz.

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Avalanche Tricolor: Mérito para quem luta

 

Grêmio 2 x 2 Atlético GO
Brasileiro – Olímpico Monumental

Foi um fim de semana especial. E antecipo que não me refiro ao futebol, sobre este falem os entendidos. Prefiro escrever de metas, sonhos e conquistas alcançados na sala de aula, onde não chegava a ser um aluno exemplar, mas deixei boa impressão, sem falsa modéstia, tendo tido participação na política e no esporte do colégio em que estudei boa parte de minha juventude, em Porto Alegre. Além de ter sido presidente do grêmio estudantil e jogado em algumas das equipes principais de basquete do Colégio Rosário, também construí excelentes amizades com professores que conseguiam entender minha personalidade. Minhas notas não eram suficientes para me colocar no topo da lista dos melhores alunos, no entanto me garantiam no ano seguinte – exceção à sétima série, do primeiro grau – rebatizado ensino fundamental -, quando tomei bomba e fui obrigado a repetir. Mesmo esta experiência trágica me proporcionou momentos importantes e situações que guardo na memória até hoje.

Quando o boletim recheado de notas vermelhas (nunca me dei bem com esta cor) chegou em casa o pai estava viajando para transmitir uma partida de futebol pela rádio, o que me deu tempo para em uma tentativa desesperada negociar com a mãe uma forma de impedir que ele soubesse do resultado. Evidentemente que ela não aceitou, nem haveria como evitar a situação, e me convenceu de que o melhor mesmo seria eu contar a ele o que havia acontecido. Sem coragem de encará-lo prorroguei ao máximo o momento da verdade e tenho dúvidas se teria conseguido não fosse a intervenção de meu padrinho e técnico Ênio Andrade, que na época treinava o Grêmio. Em uma jogada combinada com o pai que, lógico, estava inteirado do meu infortúnio, Seu Ênio me convidou a passear pelo pátio do Estádio Olímpico e com a mão sobre meus ombros fez algumas perguntas do cotidiano até chegar ao ponto crucial: o desempenho escolar. Em seguida, quis saber por que não tinha coragem de contar ao pai, afinal ele era meu companheiro e seria mais fácil enfrentar aquele momento de angústia. Ele e minha mãe tinham razão, assim que falei, o sofrimento foi amenizado apesar de ter ouvido justificáveis reprimendas.

Lembrei desta história, no fim de semana, depois que voltei da escola de meus filhos com o boletim deles em mãos. Ao mostrar a avaliação para o mais novo, recebi um comovido abraço seguido de lágrimas para as quais fiquei sem palavras. Me coube retribuir com um lento cafuné deixando o tempo passar e a emoção, também. Meu pequeno não chorava notas ruins nem a necessidade de realizar provas de recuperação, muito antes pelo contrário. Este havia sido um ano no qual teve pequenos tropeços, nada de anormal, e, talvez, não conseguisse passar por média pela primeira vez. Neste último trimestre, ele se dedicou muito, esteve mais atento e foi preciso nas lições de casa, além de ter mantido o bom hábito de participar das discussões na sala de aula. Em praticamente todas as matérias melhorou seu desempenho e teve seu esforço reconhecido pelos professores no Conselho de Classe. Chorou de alegria pela conquista alcançada em uma satisfação que me encheu de orgulho. Ele sai deste ano com mais uma lição aprendida e a certeza de que mereceu o prêmio recebido.

O mérito da vitória não existe para aqueles que não lutaram por ela. Ele lutou e nós vibramos muito com isso. Não posso dizer o mesmo do meu time.

Avalanche Tricolor: Cada um com o seu desafio

 

Atlético (MG) 2 x 0 Grêmio
Brasileiro – Sete Lagoas (MG)

“Estou curioso pra ler o que vais escrever na Avalanche Tricolor” foi a desafiadora mensagem que recebi de meu pai na manhã deste domingo. Esta tem se repetido com irritante frequência. Que fique claro: o que me irrita não são os e-mails enviados por ele – são sempre bem-vindos tanto quando as ligações telefônicas e as visitas a São Paulo -, mas o fato de ao fim de cada rodada escrever sobre o jogo no qual seu time de coração não fez por merecer uma só palavra de consolo ter se tornado comum. É simples a tarefa quando assistimos à uma partida como a do domingo anterior em que seus jogadores se transformam em campo e reproduzem com a bola nos pés aquilo que seu coração de torcedor tanto espera. Quando nos vemos em situações como a de ontem, dá vontade de chutar tudo para o alto e abrir mão da tarefa auto-imposta de descrever nesta Avalanche de palavras meu sentimento a cada partida.

Houve um tempo em que meu time superava os desafios mais impressionantes. Consagrou-se por estas histórias que beiravam o absurdo. Conquistava o que os outros eram incapazes de vislumbrar. Estar atrás no placar e ter um, dois, três, quatro jogadores a menos não fazia a menor diferença, não abalava nossa fé. Mas estamos vivendo um outro tempo no qual ter um jogador a mais em campo pouco significa, estar com o domínio da bola não resulta em nada além de algumas trocas de passes e chutes esparsos distante do gol. Não vou perder meu tempo pesquisando o histórico das partidas neste Brasileiro, mas tenho a impressão de que em muitas delas o adversário teve jogador expulso e nós não soubemos como se comportar diante desta situação. Deviam aprender com o padrinho Ênio Andrade que na simplicidade de seu olhar ensinava: cada um marca um e sempre sobrará um do nosso lado; não tem como perder.

A me consolar, algo sobre o qual já me referi nesta Avalanche: em uma temporada de tão poucos feitos tínhamos diante de nós duas decisões, a primeira vencida domingo passado, a próxima, marcada para a última rodada deste Campeonato. Pode parecer pouca pretensão para quem sempre está em busca dos grandes momentos, mas ao menos consigo responder ao desafio de meu pai e escrever uma Avalanche mesmo diante de tão pouca inspiração. Espero que o Grêmio seja capaz de responder aos nossos desafios. E esteja mais inspirado e inspirador na próxima.

Avalanche Tricolor: O passe, esse danado

 


Grêmio 4 x 0 Atlético PR
Brasileiro – Olímpico Monumental

Era guri ainda e sonhava em jogar futebol. Com acesso facilitado no gramado principal do Olímpico, assistia a quase todos os treinos dos profissionais. Ficava por ali pensando como seria legal um dia correr atrás da bola, marcar, driblar e fazer gols. Em meio a este deslumbre, ao fim de um treino, ao lado de meu pai, ouvia a conversa dele com o técnico Telê Santana. O “mestre”, ao me ver por ali, jogou a bola em minha direção e me desafiou: “vamos ver se você joga mesmo”. Pensei que ele iria pedir para fazer embaixadinhas, testar um drible ou coisa parecida. Telê pediu apenas para eu passar a bola com o lado de dentro do pé. Foram três, quatro, talvez cinco trocas de passe, até que, entusiasmado, resolvi mostrar minha habilidade, virei a perna para dentro, contorci o corpo e bati de três dedos. A bola foi até Telê, mas antes de chegar nela já dava para ouvir a minha primeira e última grande bronca de um monstro do futebol: “Esse é o problema de todos vocês, ainda nem aprenderam a passar a bola e já querem inventar”.

É de pé em pé que o futebol é bem jogado. Com a bola precisa, encontra-se o colega mais bem posicionado, facilita-se o deslocamento dos companheiros em campo, abre-se a defesa e se evita a pressão do adversário. O passe é o fundamento essencial, e dele surgem os grandes lances, os chutes a gol e, às vezes, a goleada como na tarde deste domingo. Foi assim no primeiro gol em jogada que saiu da defesa teve o toque rápido entre Escudero, André Lima, Douglas e Escudero, novamente. Foi assim no segundo, com André Lima, Marquinhos, Escudero e André Lima voltando a aparecer lá na frente, após uma movimentação veloz de todo o time. O terceiro, com um chute de fora da área, e o quarto, o do pênalti, foram resultado desta mesma agilidade.

Fazia tempo que não éramos capazes de jogar com a tranquilidade oferecida pelo placar. Que não assistíamos a um jogo sem o risco do revés ou o medo de um desastre. E, deixando de lado a fragilidade do oponente, não tenho dúvidas de que esta sensação só se tornou realidade graças ao passe. Este danado que me fez perder a chance de ganhar um elogio eterno do mestre Telê Santana.

Avalanche Tricolor: Tem de decolar

 

Atlético GO 1 x 0 Grêmio
Brasileiro – Serra Dourada (G)




Dentre os caros e raros leitores deste blog, um ou dois devem ter percebido a ausência desta Avalanche, que costuma ser publicada ao fim de cada partida, desde 2008. Meu silêncio desde o fim da tarde de domingo, ao contrário do que a maioria possa imaginar, não se deve ao desempenho e resultado – este consequência daquele – na penúltima rodada do Campeonato Brasileiro, véspera de um clássico. Estive fora de São Paulo no fim de semana e meu retorno, coincidência apenas, se deu na hora da partida. Como se sabe, nos aeroportos temos outras preocupações. O de Salvador, que leva o nome de Luis Eduardo Magalhães, de família com tradição na prática política, não se difere dos demais. A agilidade que a empresa área tenta oferecer com equipamentos eletrônicos para check-in nos leva rapidamente para uma enorme fila onde teremos de, pacientemente, esperar os trâmites de segurança que permitirá acesso à área de embarque. São minutos intermináveis que nos separam da poltrona do avião, marcados por cenas de angustia de passageiros que correm o risco de perder o voo, funcionários das empresas tentando acelerar o processo para que a decolagem ocorra na hora certa e agentes de segurança tocando a manada – desculpe-me pela expressão, mas é a sensação que tenho ao participarmos desta cena, mesmo quando a pressa não me aflige.

Dentro do avião, outro reflexo da desorganização. Passageiros pouco dispostos a perder tempo a espera das malas no aeroporto de desembarque preferem levar o que podem e não podem dentro do avião. Os primeiros que chegam tomam o espaço dos bagageiros, deixando para os demais a dura tarefa de encontrar um lugarzinho que seja para tudo que têm em mãos. A medida que cresce a falta de confiança na entrega das malas, aumenta o número de bagagens dentro do avião. Não sei como alguns conseguem burlar a vigilância carregando tanta tralha, como nas cenas que víamos naqueles caminhões pau-de-arara – e aqui não vai nenhuma conotação perjorativa à classe social, mesmo porque amassadas entre uma bagagem e outra nota-se muitas bolsas de grife e marcas de lojas famosas.

A chegada em Congonhas, São Paulo, que não leva nome de político, mas é resultado da falta de respeito que muitos deles têm por nós, não se difere muito da situação em Salvador. Em plena noite fria na capital paulista, os passageiros são deixados no meio do pátio para embarcar em um ônibus, pois não há lugar para todos os aviões que chegam. E a espera das malas segue interminável, somente superada pelo tempo que se perde para pegar um táxi.

Soube do placar da partida quando cheguei em casa, apenas após enfrentar estes desafios aeroportuários que, registre-se, não foram suficientes para estragar o prazer de uma estada na Praia do Forte, onde o sol, o calor e o cenário em nada se pareciam com aquilo que os paulistas – meus conterrâneos gaúchos e muitos outros brasileiros de Sudeste a Sul do País, também – tiveram de encarar nesse fim de semana.

Quer saber se a derrota me tirou o humor, como alguns colegas da CBN chegaram a supor nesta manhã ? De jeito nenhum. Nem o futebol apresentado pelo Grêmio nem a falta de estrutura dos aeroportos são suficientes para tal, apesar de que está cada vez mais difícil encontrar uma solução para os dois. Bem, ao menos para o Grêmio eu ainda tenho esperança. E nada como um Gre-Nal para decolar de vez.

Avalanche Tricolor: Que saudade !

 

Grêmio 2 x 2 Atlético MG
Brasileiro – Olímpico Monumental

Foi uma noite para relembrar os anos 1990. Naquela época trabalhava na TV Cultura e deixava a redação lá pelas 10 da noite quando o jogo do Grêmio já havia se iniciado. Pegava meu carro, ligava o rádio e escorregava o ponteiro do dial até o ponto mais à esquerda, próximo dos 500 mghz. Era ali que conseguia sintonizar, entre chiados e descargas elétricas, emissoras de rádio do Rio Grande do Sul. Ou a Guaíba ou a Gaúcha, dependia da condição meteorológica. Demorava no caminho, estendia meu caminho e dava preferência às Marginais, onde o som ficava um pouco melhor. Na maior parte das vezes era difícil até mesmo de distinguir quando o gol era do Grêmio ou do adversário.

Ontem à noite, saí de uma palestra da comunicação quando a partida do Grêmio estava se iniciando. Abri o Ipad, cliquei no aplicativo da rádio CBN e acessei a emissora de Belo Horizonte que estava com sua equipe no estádio Olímpico, em Porto Alegre. Durante todo o caminho até minha casa, demorado devido ao congestionamento, ouvi a partida em seus detalhes sem qualquer interferência. Transformei meu moderno tablet no velho radinho de pilha com a vantagem dele me permitir acesso a emissoras que não são aqui da cidade.

As diferenças de como e o que ouvia nos anos de 1990, infelizmente, não se resumem a qualidade do som e o meio de transmissão. Naquela época, o time era treinado por Luis Felipe Scolari e dava orgulho torcer por aqueles jogadores.

Avalanche Tricolor: Começa com um grande goleiro

 

Atlético-PR 0 x 1 Grêmio
Brasileiro – Arena da Baixada (PR)

Um grande time começa com um grande goleiro. Máxima consagrada por algumas das melhores formações do futebol mundial e bastante exercida no Grêmio que tem sua história identificada com a função, como nenhuma outra equipe. Haja vista sermos o único clube brasileiro a consagrar no hino o nome de um de seus jogadores e, não por acaso, este ser um goleiro, Eurico Lara (em destaque na ilustração do desenhista Xico).

Pode parecer curioso para muitos, afinal esta é das mais ingratas posições na equipe. Disse Don Rossé Cavaca, publicitário carioca, que de tão maldita, é onde está o goleiro que não nasce grama. No time de várzea a camisa 1 é a do perna pau. Na escola, raros se atrevem a por as luvas.

Evidentemente, existem loucos e abnegados que se prestam para a função. Alguns fizeram história.

O Grêmio de Lara tem tradição de grandes goleiros. Para não forçar a memória, lembro de Mazaropi, campeão mundial e da Libertadores, em 1983, da Copa do Brasil , em 1989, e de seis Campeonatos Gaúchos. Tem, ainda, Danrlei, campeão da Libertadores, em 1995, do Brasileiro, de 1996, de três Copas do Brasil e cinco Campeonatos Gaúchos.

Nossa história é tão intimamente ligada aos goleiros que é o nome de um deles, Galato, que soa forte nos ouvidos de todo torcedor quando somos levados a relembrar a Batalha dos Aflitos, como passou a ser conhecida em todo o mundo a incrível conquista da 2a. Divisão do Campeonato Brasileiro, em 2006. Portanto, não nos surpreende o melhor goleiro do Brasil estar, atualmente, do nosso lado.

Na tarde deste domingo, Vitor mostrou suas qualidades mais uma vez. Impediu o empate, o que parecia inevitável dada a quantidade de bolas jogadas dentro da área gremista. Fez defesas impossíveis, se esticou até chegar ao inalcançável, pulou como um gato em busca da presa, e somente não defendeu pênalti porque não lhe deram oportunidade.

Foi de todos os tricolores que estiveram na Arena o que mais fez. Pois nem o gol nos demos o trabalho de marcar. Deixamos para o atrapalhado zagueiro adversário o autogol – é como os portugueses chamam o gol contra, e eu acho ótima a expressão.

Dito isso, é preciso lembrar que, sim, um grande time começa com um grande goleiro. Mas só este não basta para sermos grandes. É preciso de zagueiros seguros, volantes intransponíveis, meias criativos e, ao menos, um goleador no ataque.

Avalanche Tricolor: Pelo direito de sonhar

Grêmio 3 x 1 Atlético PR
Brasileiro – Olímpico Monumental

Poucas vezes demorei tanto para publicar uma Avalanche. A partida se encerrou há 24 horas e você, caro e raro leitor deste blog, sabe do meu esforço para exprimir aqui sofrimentos, paixões, admirações e, na maioria das vezes, alucinações sentidas no decorrer dos 90 minutos de jogo tão logo este termine.

Desta vez, porém, deixei ir embora as emoções da partida, e toda a rodada se completar. Ao contrário do que possam imaginar, não tomei a atitude porque estaria concentrado na arte de secar o adversário, esporte preferido da torcida brasileira em especial quando o campeonato está próximo do fim.

Tenho tido o cuidado, desde o início desta nossa recuperação, de me ater apenas aos nossos feitos. Deixo que os defeitos dos outros se revelem por si só. Mesmo porque não acredito muito que olho grande mude alguma coisa no futebol. Seriedade, sim. Perseverança, também. Confiança, determinação, doação, humildade, bola rolando com sensatez, luta e talento. Todas estas coisas que apareceram em nosso time nesta segunda parte do campeonato.

Incrível a mudança que assistimos nesta sequência de resultados positivos. Nesta mesma fase, na primeira parte da competição, éramos um bando de desnorteados que contávamos, única e exclusivamente, com a nossa saga.

Sempre soubemos que nossa história havia sido marcada por provações até alcançarmos algo realmente relevante. Por isso, sempre nos damos o direito de sonhar com algo acima do possível.

As vitórias voltaram com um time mais bem organizado, marcação eficiente, passes em velocidade, carrinhos certeiros, movimentação coerente, chutes confiantes a gol. E muitos gols: temos o melhor ataque da competição, o melhor atacante e a melhor campanha neste segundo turno. Não tenho medo de dizer que temos, também, o melhor time nesta altura do campeonato.

Vítor não exige mais palavras; Paulão se mostrou zagueiro seguro; Neuton se revela a cada oportunidade, desta vez com um golaço; os dois volantes, Adílson e Rochemback, estão acima do lugar comum; o lado esquerdo alucina o adversário com a rapidez de Fábio Santos e Lúcio; Douglas tem um talento excepcional; e quando Jonas está no time, seja qual for seu companheiro, o ataque joga muito. Sem falar o simpático – pela cara, pelo jogo e pelo nome – Diego Clementino. E mais um grupo que está sempre pronto para atender ao chamado do técnico.

Apesar de tudo isso, ainda tínhamos dificuldade de nos colocarmos entre os mais bem classificados. O caminho estava congestionado. Havia muita gente na frente para ultrapassar. Alguns mais distantes, outros bem próximos. Mas todos foram ficando para trás. Um a um. Até colocarmos os pés no propalado G-4.

Ainda faltavam os resultados deste domingo para confirmarmos presença na elite do Campeonato Brasileiro. Não queria escrever antes disto se concretizar.

E a rodada se completou com o nome do Grêmio surgindo no alto da tabela.

O futebol recuperado não foi suficiente para nos dar a chance de disputar o título, apesar de termos time tão equilibrado quanto os três pretendentes. Não temos a garantia de que o quarto lugar nos levará à Libertadores, devido as mudanças no regulamento após a competição se iniciar.

Com certeza, porém, o Grêmio, sob o comando de Renato Gaúcho, voltou a ser o Grêmio de todos nós. Que sempre nos oferece o direito de sonhar mais. E sonharmos juntos.