Por Juliana Furtado
Ouvinte-internauta, moradora do Itam Bibi
Era uma vez uma rua sem saída.
A moça bonita passa e joga uma bituca de cigarro, rosa como seu batom desbotado e cinza como seus pulmões.
O executivo ofegante joga um comprovante de pagamento, do bife à milanesa que aumentou em alguns pontos seu colesterol.
A loja ao lado joga uma caixa de produtos vazia, como o cérebro do seu dono.
Na caixa vazia o estudante joga um copo de café, que o manteve acordado na aula que não lhe interessa.
Uma empresa joga um vaso com uma planta. Alguém leva o vaso e ali deixa a planta e a terra, mortas como aquela calçada, fazendo companhia para a bituca, o comprovante, a caixa e o copo de café.
E a entrada da rua vira um lixão.
Por muitos dias passei ali, com a esperança de que o ex-dono da planta a visse, que a prefeitura limpasse, que o lixeiro levasse. Mas nada aconteceu, nada ia acontecer.
Munidos de pá, vassoura e balde, destinamos um tempo do nosso feriado para limpar aquela sujeira que não era nossa, na rua que consideramos nossa.
Enchemos dois sacos grandes e uma caixa. Colocamos no porta-malas. Levamos a um lixo adequado. Esfregamos com água e sabão. Corremos o risco de uma leptospirose. Nos sentimos mais leves.
No dia seguinte, uma caixa. Hoje, talvez, novas bitucas e copos de café.
A cidade é suja como quem está nela. Porque tem diferença entre quem é da cidade e quem apenas está. Sem compromisso, sem consideração.
Quem fica sem saída somos nós.












