Mundo Corporativo: para Juliana Rios, da Latam, estratégia digital mudou a jornada do passageiro

Juliana Rios nos bastidores da entrevista online Foto: Prisicila Gubiotti CBN

“É muito importante manter uma missão clara e a gente buscava sempre com objetivos grandes? Então, a gente aspira ao 100%.”

Juliana Rios, Latam

A experiência de voo deixou de ser comparada apenas entre companhias aéreas e passou a disputar atenção com qualquer serviço digital que cabe no celular do passageiro. Foi a partir dessa percepção que a Latam Airlines decidiu redesenhar processos, reorganizar dados e usar inteligência artificial para mudar a relação com o cliente. Este foi o tema do Mundo Corportivo que entrevistou Juliana Rios, CIO da Latam Airlines.

Juliana lidera a área de tecnologia, dados e transformação digital do grupo. Ela conta que o ponto de partida foi reconhecer que o passageiro leva para a experiência aérea o padrão de usabilidade que encontra em outros serviços do dia a dia. “O desafio de trazer a tecnologia, na verdade, tinha que ter uma grande motivação. E a motivação que a gente usou é a experiência do cliente”, afirma. Segundo ela, “o cliente, quando vive a experiência aérea, ele não tem só a comparação com um concorrente ou uma outra aerolínia. Ele tem experiência digital que ele vive no dia a dia”.

A pergunta que passou a orientar a companhia foi direta: “Como é que a gente repensa a tecnologia e usa tecnologia no setor aéreo, na nossa companhia, para entregar uma melhor experiência ao cliente?” A resposta não veio de um novo sistema isolado, e sim de uma mudança de modo de operar.

Cliente no centro, tecnologia ao lado

Na avaliação de Juliana, transformação digital é, antes de tudo, um movimento cultural. “A primeira coisa pra gente falar sobre tecnologia, sobre transformação digital, é que na verdade é um movimento muito mais cultural, muito mais associado à maneira como se opera do que à tecnologia em si”, resume.

A Latam trabalha num setor altamente regulamentado, com processos e sistemas antigos que precisam conviver com novas ferramentas. A tecnologia disponível para empresas nativas digitais é, em essência, a mesma à qual a companhia aérea tem acesso. A diferença está no uso.

A mudança começou quando a empresa revisou passo a passo a jornada do cliente: “desde que você começa a pensar numa viagem, que você vem buscar opções de para onde voar, começa a entender preços, começa a entender o que fazer nessa viagem”; e passou a montar equipes que juntam quem entende de mercado, marketing e comportamento do cliente com quem desenvolve tecnologia.

Um dos objetivos estratégicos foi dar autonomia ao passageiro para resolver tudo pelo celular. “A gente tinha de dar a condição para que 100% do que um passageiro tenha necessidade de interagir ao longo da experiência de viagem, ele pudesse fazer desde o seu bolso – como a geste costuma dizer –, desde o telefone na sua mão.”

O resultado aparece nas métricas. A Latam acompanha o Net Promoter Score (NPS) da experiência digital – indicador de recomendação da marca em escala de 0 a 10. “O score que a gente tinha na época que a gente começou era um score de 20 pontos de NPS, para você ter uma ideia. Hoje em dia, a gente já ultrapassou a barreira do 70”, relata Juliana. Segundo ela, essa evolução está ligada ao fato de a experiência digital estar “cada vez mais completa”, com mais serviços disponíveis e mais autonomia para o cliente administrar a viagem e lidar até com imprevistos.

Do aplicativo à pista: dados em toda a operação

A virada exigiu, primeiro, arrumar a casa dos dados. “O primeiro desafio que a gente teve quando a gente começou em 2019 era um desafio de ter melhor acesso a dados”, conta a executiva. Era preciso organizar informações de códigos de reserva, tarifas, assentos marcados, programas de fidelidade e histórico de viagens para, no futuro, simplificar o acesso a tudo isso e até prever necessidades do cliente.

Com essa base, o uso de inteligência artificial ganhou tração. Um exemplo é o check-in, que passou a ser cada vez mais automatizado. Outro está no contact center. “A gente tinha uma capacidade de identificação de 10% dos passageiros”, lembra Juliana. “Hoje a gente consegue identificar 90% dos passageiros só de receber a chamada.”

Quando o passageiro liga, o atendente passa a ter na tela o histórico recente: se há voo em andamento ou programado, se existe reclamação em aberto ou dúvida não resolvida. “Tudo isso já aparece na frente do agente do contact center e esse agente com isso consegue imediatamente dar um melhor serviço”, explica. O efeito é redução do tempo da chamada e atendimento mais eficiente.

A inteligência artificial também foi aplicada ao monitoramento de filas e da operação em solo, em parceria com o aeroporto de Guarulhos. Câmeras permitem acompanhar o tamanho das filas de check-in, a necessidade de distribuir melhor equipes e abrir mais balcões, além de registrar dados para planejamento futuro. “A gente consegue usar não somente no momento como depois”, diz Juliana.

Nas áreas de apoio à operação, as câmeras ajudam a acompanhar a movimentação dos aviões na área externa ao terminal: se o abastecimento de combustível começou, se o caminhão de catering já chegou, se a limpeza foi finalizada. “Tudo isso a gente hoje em dia consegue através de uso de câmeras, conectados aos sistemas operacionais, levantar os flags e fazer também as validações de que o processo já avançou”, detalha. Não é necessário um equipamento sofisticado: “Não tem que ser câmeras muito sofisticadas. A tecnologia com câmeras simples, na verdade, a tecnologia que existe hoje em dia disponível, ela consegue capturar. O que você precisa é treinar um modelo que seja capaz de capturar essa imagem e traduzi-la em eventos.”

IA com cuidado em frente ao cliente

Quando o assunto é inteligência artificial diretamente na interação com o passageiro, Juliana adota cautela. “A gente está sendo muito cuidadoso de colocar a inteligência artificial nos processos em frente ao cliente”, afirma. Ela lembra que sistemas mal treinados ou mal modelados podem “sinalizar” errado e comprometer a experiência.

Por isso, a prioridade tem sido garantir que a IA acesse dados e documentos que representem adequadamente a Latam. Internamente, o uso já é intenso. Externamente, a empresa iniciou pilotos em outros países, com a perspectiva de levar esse tipo de interação para o aplicativo da companhia.

A executiva acredita que haverá avanço também na capacidade de diferenciar, pelo tom e pelo contexto, situações em que o passageiro prefere falar com uma pessoa. “A gente sabe, a gente tem identificado, em alguns casos, a gente consegue entender qual é o tom. Dependendo do tom e da situação ou de algumas casuísticas, a gente deriva diretamente a uma pessoa”, explica. Para ela, “a graça da tecnologia é você aprender. É a tecnologia aprender e você aprender com tempo para ter essa condição que a gente estava falando de ir melhorando essa experiência com tempo”.

Da área de negócios ao comando da transformação

A jornada profissional de Juliana também passa por uma mudança de rota. Foram cerca de 20 anos no mercado financeiro antes de chegar à Latam. Em 2019, ela assume a área de tecnologia, depois de ter construído carreira em marketing, serviços, segmentação e estratégia.

“Foi difícil sair dos meus 20 anos de carreira no mercado financeiro, no primeiro momento tomar essa decisão, para ir para um mundo totalmente diferente, que tinha desafios completamente distintos”, recorda. “Eu sempre fui, como a gente costuma falar, sempre fui do negócio.”

Ela conta que encarou a transição com curiosidade e descreve o papel que assumiu como o de tradutora. “O grande aprendizado para mim tem sido ser uma boa tradutora. Porque a tecnologia, ela muitas vezes tem dificuldade de se aproximar do problema”, diz. A tarefa, na visão dela, é aprender “a se apaixonar pelo problema, não pela solução”, já que a possibilidade de melhoria é constante.

Quatro pilares para a transformação digital

Da experiência acumulada na Latam, Juliana destaca quatro pontos como essenciais para qualquer empresa que queira avançar na transformação digital:

  1. Ambição e aspiração claras – “Ter uma ambição, ter uma aspiração, porque isso resulta depois em elemento estratégico.” É partir de um alinhamento sobre o que a empresa busca e para que existe.
  2. Modelo operativo integrado – É difícil falar em adoção de tecnologia se ela não está “sentada à mesa ao lado das pessoas que estão pensando na experiência, que estão pensando nos processos”. Na área que lidera, Juliana conta que deixou de trabalhar com metas específicas de tecnologia e passou a mobilizar a equipe pelas métricas de negócio, como resultado financeiro e satisfação do cliente.
  3. Talento e fluência digital – Há funções altamente técnicas, que exigem conhecimento especializado, e, ao mesmo tempo, a necessidade de elevar a fluência digital de toda a organização. “Num ambiente onde todo mundo entende de tecnologia, é muito mais fácil avançar com uma agenda e construir uma experiência digital”, afirma.
  4. Acesso a ferramentas adequadas – Ter boas tecnologias e plataformas que permitam construir e avançar mais rápido completa o conjunto.

Para Juliana, distribuir a tecnologia por toda a companhia é decisivo. “A Latam é uma companhia que no Brasil tem 20 mil funcionários e a gente falava: ‘Imagine o poder que teria se todos os funcionários tivessem a capacidade de uso de tecnologia no seu dia a dia’.” A estratégia, segundo ela, é fazer com que a tecnologia ajude as pessoas a “desfrutem mais do seu trabalho”, automatizando tarefas menos desejadas e liberando tempo para atividades de maior valor.

Assista ao Mundo Corporativo

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã pelo canal da CBN no YouTube. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN e aos domingos, às 10 da noite, em horário alternativo. Você pode ouvir, também, em podcast. Colaboram com o Mundo Corporativo: Carlos Grecco, Rafael Furugen, Débora Gonçalves, Priscila Gubiotti e Letícia Valente.

Conte Sua História de São Paulo: estive lá no dia em que o metrô foi inaugurado

Clênio Caldas

Ouvinte da CBN

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Na manhã de sábado, 14 de setembro de 1974, tudo apontava para um acontecimento aguardado há tempos pela população de São Paulo: o início da operação comercial do Metropolitano de São Paulo!

Desde 1968, quando as obras de construção do novo sistema de transporte coletivo começaram, ali no bairro do Jabaquara, confluência das avenidas Fagundes Filho e Jabaquara, numerosas ruas, avenidas, praças, sofreram severa intervenção de máquinas, caminhões e operários que rasgaram o solo e aprofundaram escavações para implantar o corredor Norte-Sul do metrô da cidade.

O povo paulistano suportou com paciência os transtornos de interdições, alteração de itinerários de linhas de ônibus e alternativas diversas para o trânsito caótico da capital paulistana. 

O serviço de bondes, tradicional e histórico na cidade, fora definitivamente encerrado em abril daquele ano. Era preciso dar lugar à moderna tecnologia. Paulatinamente, a obra foi seguindo o curso da linha pioneira que ligaria o bairro do Jabaquara, na zona sul, à outra extremidade, no bairro de Santana, zona norte. A extensão para além de Santana, para o bairro do Tucuruvi, ocorreu somente anos mais tarde.

Dois anos antes, em 6 de setembro de 1972, como parte das celebrações do Sesquicentenário da Independência do Brasil, fora inaugurado o pátio de manobras do metrô no Jabaquara, com as presenças do governador Laudo Natel e do prefeito José Carlos de Figueiredo Ferraz. Ali estávamos prestigiando o grande evento e cumprimentando as autoridades. 

Nos fizemos presentes, também, na viagem inaugural da operação comercial, mantendo até hoje o bilhete, picotado por fiscais. Embarcamos na composição que rumou da estação Jabaquara para a estação Vila Mariana, percorrendo apenas as estações Conceição, São Judas, Saúde, Praça da Árvore, Santa Cruz, até alcançar a estação terminal provisória, Vila Mariana. Daí em diante, outros trechos foram sendo liberados gradativamente à medida que as obras eram concluídas.  

Mais de cinquenta anos decorridos daquela radiosa manhã! O sistema metroviário foi ampliado gigantescamente: além da Linha 1-Azul, vieram as Linhas 2-Verde, 3-Vermelha, 4-Amarela e 5-Lilás; foram acrescentadas a Linha 15-Prata do monotrilho e a integração com as linhas da CPTM, formando um extenso complexo metroferroviário na Grande São Paulo

Dentro de algum tempo, a linha 6-Laranja passará a integrar essa rede. 

Nestas cinco décadas minha admiração pelo Metrô de São Paulo não esmoreceu, pelo contrário, se converteu em orgulho genuíno por esse transporte, a ponto de traçar comparações com outros sistemas visitados nas cidades de Chicago, Boston, Nova Iorque, Washington, Toronto e Santiago do Chile. 

A todas nosso metrô se destaca e se sobrepõe! Declarei isto em visita monitorada ao CCO, a convite da Direção do Metrô, anos passados, dirigindo palavras a funcionários reunidos no anfiteatro local. 

Este é o meu testemunho de brasileiro, residente há 70 anos nesta megalópole, e ainda na expectativa de participar de outras inaugurações do melhor e mais elogiável sistema de transporte sobre trilhos, o Metrô da Cidade de São Paulo!!!

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Clênio Falcão Lins Caldas é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você também mais um capítulo da nossa cidade: escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outras histórias, visite meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: a cidade vista através dos relatos de uma amiga


Muita gente diz que São Paulo é uma cidade fria, onde relacionamentos duradouros são raros. Meu filho reclama que amigos de infância, escola ou trabalho estão longe – em outras cidades, países ou até em bairros distantes. Ele mantém contato com alguns pela internet, mas sabe que não é o mesmo que estar junto. E repete uma queixa comum: os amigos que temos são mais “meus” que “dele”. Isso é algo que ouço frequentemente, até em revistas e jornais. Parece ser uma reclamação geral: conversamos mais pelo celular do que pessoalmente.

Será São Paulo mesmo uma cidade fria?

Em certos aspectos, talvez, mas há cenas tão humanas que podem passar despercebidas por quem vive com pressa ou simplesmente alheio ao que acontece ao redor.

Minha amiga Lígia sempre volta para casa com histórias para me contar, já que pouco saio. Em uma ocasião, alguém parou para lhe dar uma informação; em outra, uma senhora ofereceu carona depois de descobrir que moravam perto. Há ainda o caso do motoboy que devolveu a bolsa de uma amiga que ela havia perdido no estacionamento. A vida segue, cheia desses momentos.

Esta semana, Lígia me contou duas histórias que achei especialmente bonitas.

Em um dia, ela subiu em um ônibus lotado. Os assentos para deficientes e idosos estavam ocupados, então ela se segurou pacientemente. Mas uma jovem se levantou e lhe ofereceu o lugar. Lígia agradeceu e disse:

– Por favor, não se levante. Você deve estar cansada depois do trabalho. Eu passei o dia inteiro descansando.

A moça insistiu, e Lígia, observadora como é, notou que ela conversava com um rapaz sobre “nossa mãe”. Aproveitando a liberdade de seus 83 anos e cabelos brancos, perguntou:

– Vocês são casados?

– Não, somos irmãos – responderam, rindo. Só então ela percebeu a semelhança nos traços e a cumplicidade entre eles.

– Vocês se amam? – perguntou ela.

– Muito! – responderam. E a moça ainda acrescentou:

– Eu sempre digo a ele que quero partir antes, porque não suportaria ficar sozinha.

Lígia sentiu um aperto e comentou:

– Eu dizia o mesmo ao meu irmão, mas ele se foi há um ano e meio.

Uma lágrima escorreu de seus olhos. Quando olhou para eles, viu que também estavam emocionados. Em silêncio, trocaram um olhar de compreensão. Pouco depois, eles se despediram, dizendo:

– Boa semana!

– Foi um prazer conhecê-la – disse o rapaz, com um sorriso e o apoio da irmã.

Cidade fria?

Mais tarde, Lígia foi para o metrô. Sentou-se no banco da estação e notou que o único lugar vago era ao seu lado. Um jovem, de uns 14 ou 15 anos, aproximou-se, com cabelos compridos, roupas simples e uma mochila nas costas, segurando a mão de uma garotinha de uns cinco anos, com trancinhas e vestida de modo simples como ele. Ele a colocou no banco e ficou de cócoras ao lado dela. Mas a menina preferiu sentar-se entre as pernas do rapaz, ao invés do banco. Ele, sorrindo, sentou-se no chão, cruzando as pernas na posição de lótus, como vemos nos filmes.

Ela, radiante, acomodou-se em seu colo, e então ele tirou um livro infantil da mochila e começou a ler para ela, que escutava, atenta.

– Que beleza, irmãos tão jovens e unidos! – comentei.

– Não, pai e filha – corrigiu Lígia. – Ele parecia muito jovem, mas, observando melhor, vi que talvez fosse estudante da USP. Um pai dedicado.

Fiquei em silêncio, absorvendo a beleza dessas cenas.

São Paulo, uma cidade fria? Às vezes sim, outras vezes acolhedora. É uma cidade de mil ou milhões de facetas. Basta saber olhar.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo


Edith Suli é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva seu texto agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Greve de ônibus expõe, mais uma vez, falhas das empresas que exploram transporte por aplicativo

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A greve de motoristas e cobradores, em São Paulo, nesta quarta-feira, revelou mais do que os desafios constantes de um sistema de transporte caro e problemático. Expôs a fragilidade da relação entre usuários do transporte por aplicativo e as empresas que exploram esse serviço, especialmente Uber e 99. Enquanto a dificuldade de as partes entrarem em acordo, remunerando e oferecendo benefícios aos trabalhadores e conseguindo conter o custo do transporte de massa na cidade, deixou mais de um milhão e meio de passageiros a pé, o modelo de negócio dos ‘aplicativos’ voltou a prestar um desserviço à população.

Sem muitas alternativas, os passageiros de ônibus recorreram ao celular em busca dos “aplicativos” e foram surpreendidos, seja pela ausência de motoristas seja pelo alto custo. Foi enorme a quantidade de ouvintes da CBN reclamando do fato de terem tido uma série de corridas negadas pelos motoristas, mesmo depois de a viagem ter sido aceita — claramente, ato tomado pelos motoristas que perceberam que a remuneração seria bem menor do que o custo daquela viagem. Os passageiros que tiveram sucesso na chamada, se sentiram explorados pelo valor pago — resultado da tarifa dinâmica. 

Por coincidência ou não, ao mesmo tempo que ouvia as reclamações, ao vivo ou por mensagens dos ouvintes, recebi texto do meu colega de programa Jaime Troiano, um dos apresentadores do Sua Marca Vai Ser Um Sucesso. Dos maiores conhecedores na área da gestão de marcas do Brasil, Jaime, baseado na frustrante experiência que teve com o Uber, ditou: 

“Como cidadãos, fomos espoliados. Como profissional de mercado, que pensa em Branding, pensei em outra coisa: que oportunidade maravilhosa o Uber perdeu!”.

Jaime Troiano

Em um cenário ideal, Uber, 99 e as demais empresas que exploram o serviço de transporte por aplicativo — e aqui o verbo pode simbolizar sua pior versão — teriam se colocado ao lado dos cidadãos, oferecendo vantagens aos passageiros e remunerando de forma decente seus motoristas. Não foi o que aconteceu. E assim a receita adicional obtida nesta paralisação dos ônibus jamais cobrirá o “mal-estar provocado nos seus potenciais clientes e os respingos na imagem institucional”, como escreveu Jaime. 

Chantagear o cliente em momentos de dificuldade tende a cobrar um alto preço nas organizações. E torna um desperdício o dinheiro investido nas campanhas que assistimos estampadas em painéis eletrônicos pela cidade nas quais os “aplicativos” forjam uma sintonia com seus clientes, ao transmitirem mensagens de apoio às mais diversas causas. 

Forçam a mão no storytelling e desdenham do storydoing que no fim das contas é o que interessa às pessoas.

Por curiosidade: o texto que recebi de Jaime Troiano era uma referência a greve de ônibus anterior, ocorrida no dia 14 de junho, em São Paulo, e se encerrava com a esperança de que a lição seria aprendida:

“Torço para que ela (Uber) não perca outras oportunidades como a do dia 14 para demonstrar suas autênticas convicções e valores. Os mesmos que ela professa publicamente”.

Lamento dizer, Jaime, perdeu! Perderam!

O que empresas de massa têm a aprender com a Gestão de Luxo

 

Por Ricardo Ojeda Marins

 

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No mercado do luxo, sabemos que a excelência na qualidade dos produtos e serviços é imprescindível, tanto quanto no atendimento, o que proporcionará a sensação mais importante nesta relação com o cliente: o encantamento. A busca dessa qualificação é necessária também em empresas que não atuam no segmento de luxo. Mas, por estarem em um mercado de massa, os produtos e serviços oferecidos por essas empresas poucas vezes atingirão o mesmo nível. Independentemente disso, com o mundo globalizado e o mercado competitivo, todos precisam estar antenados na arte de encantar – lição aprendida em livro assinado por Guy Kawasaki.

 

Recentemente, observei essa preocupação em um caso envolvendo um casal de idosos e a companhia aérea TAM. Os dois passageiros receberam atendimento de altíssima qualidade nos aeroportos de Guarulhos e de Miami. Um deles, prestes a embarcar em São Paulo, com bilhete em classe econômica, emitido a partir do programa de milhagem, com saúde frágil, sentiu-e mal ao chegar ao aeroporto internacional. No momento do check-in, foi pedido à TAM uma cadeira de rodas para que ele pudesse se locomover. Em menos de 5 minutos, a companhia forneceu não apenas a cadeira, como deixou um funcionário à disposição do passageiro, tendo-o guiado por todo o percurso, desde a passagem pela casa de câmbio, Sala VIP, portão de embarque até entrar na aeronave. Em Miami, no desembarque, o atendimento se repetiu, com o passageiro sendo transportado até a loja de aluguel de carro. O retorno para o Brasil, desde Miami, foi acompanhado da mesma atenção.

 

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As companhias aéreas são geralmente alvo de reclamação no Brasil e têm razão os que as criticam, pois pecam muito em seus serviços, principalmente em terra, por diversos motivos. Nesse caso, porém, é justo elogiar a excelência do atendimento prestado que encantou o passageiro mesmo ele não sendo um cliente da primeira classe ou executiva.

 

A experiência vivenciada pelo cliente é hoje algo percebido não apenas por consumidores de alto poder aquisitivo. Clientes de empresas que não são de luxo nem atuam no mercado premium também têm – e merecem – seu nível de exigência e a expectativa de um bom atendimento. Muitas companhias, de diversos setores, deveriam atentar-se a contribuição que o conhecimento de Gestão do Luxo oferece aos seus negócios, produtos, serviços e marcas, mesmo que atuando em setores mais populares, e aprender como encantar seu cliente, favorecendo a fidelização.

 


Ricardo Ojeda Marins é Professional & Self Coach, Administrador de Empresas pela FMU-SP e possui MBA em Marketing pela PUC-SP. Possui MBA em Gestão do Luxo na FAAP, é autor do Blog Infinite Luxury e escreve às sextas-feiras no Blog do Mílton Jung.

Resultado com faixas exclusivas de ônibus causa desânimo

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

 

A CBN, há uma semana, dentro do programa de análise do primeiro ano da gestão Haddad, entrevistou o engenheiro e mestre em Engenharia de Tráfego Prof. Sergio Ejzenberg da USP, que trouxe significativos subsídios ao tema da mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Com o objetivo de ampliar o uso do transporte coletivo, Haddad aumentou a área destinada aos ônibus através de faixas e corredores exclusivos, chegando a 290 km. Ao mérito de atacar um dos principais entraves da cidade, o desânimo do resultado, pois não houve progresso, talvez retrocesso.

 

À complexidade do problema, o Eng. Ejzenberg simplificou a solução. Segundo ele, o aumento da área de circulação dos ônibus apenas trouxe mais rapidez aos atuais passageiros, o que não resolveu a questão da mobilidade, pois não houve acréscimo na frota. A meta não é a velocidade, é a capacidade. Para aumentar a capacidade é preciso aproveitar melhor o espaço colocando de 500 a 600 veículos por hora em cada uma destas áreas reservadas, enquanto estão sendo usados apenas os mesmos 30 ônibus por hora. O ônibus chega ao destino em menos tempo, mas não sai outro a seguir. Ao ocupar mais espaço com o transporte coletivo, Haddad reduziu o espaço para os automóveis. Além de não conseguir a transferência de passageiros dos automóveis para os ônibus, piorou as condições de tráfego para os usuários do transporte privado. Fato grave, não tanto quanto ao discutível aspecto econômico, pois são as pessoas que movem valores maiores no trabalho, mas pela quantidade. Metade da população usa transporte coletivo e metade usa transporte privado.

 

E como desgraça pouca é bobagem, ainda poderemos ter a proibição dos táxis circularem pelos corredores. Já são subutilizados e poderão ficar ainda mais, enquanto os automóveis disputarão espaços cada vez mais reduzidos.

 

Esse farto e valioso material deixado pelo Eng. Ejzenberg nesta entrevista à Fabíola Cidral ainda provou que ninguém é perfeito, porque o Professor depois de apontar tantas falhas deu nota 8 ao primeiro ano da gestão Haddad.

 

Ouça aqui a entrevista que foi ao ar no CBN São Paulo:

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Milton Jung, às quartas-feiras.

Passageiros secretos flagram motoristas sem respeito

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

Sem-ponto de ônibus

 

Não se sabe se a inspiração veio de Ian Fleming, o criador de James Bond, ou de modernas corporações que usam o cliente secreto. O fato é que as velhinhas cariocas estão se vingando dos motoristas de ônibus que não estavam parando para elas e para os demais idosos que tem o direito de viajar gratuitamente.

 

As autoridades cariocas decidiram contratar senhorinhas voluntárias para surpreender os motoristas desrespeitadores da lei, juntando-as a fiscais que, no ato da ocorrência, solicitam por rádio o bloqueio do veículo. Ao parar, o motorista recebe a multa de R$ 1.183,00, ouve a informação da obrigatoriedade de um curso de reciclagem e assiste ao fiscal expondo a sua falta diante dos passageiros para justificar o tempo de espera.

 

A prefeitura do Rio, por meio da Secretaria Municipal de Transportes, lidava com a informação que idosos, e estudantes, não estavam conseguindo usar o transporte público com regularidade. Foi criada então a Operação Gratuidade, em novembro de 2012, que já arrecadou R$ 566 mil, multando 478 coletivos.

 

Podemos prever que, dentro em breve, o problema de idosos e estudantes terá sido resolvido. E o passageiro secreto será mantido como manutenção. Um final feliz que poderia servir de exemplo pioneiro do uso do cliente secreto para o poder público. As mesmas vantagens obtidas no mundo corporativo com as técnicas de pesquisa do comprador camuflado poderiam ser potencializadas no setor público, que é muito mais amplo e suscetível a desvios.

 

Obras gigantescas com orçamentos de bilhões de reais poderiam ser mais bem controladas por fornecedores e clientes secretos. Temos a COPA, as OLIMPÍADAS, as obras do PAC e usinas hidroelétricas, metrôs, aeroportos, rodovias, ferrovias, portos, etc.. O cliente secreto como sistema, poderia vigiar, controlar, punir, motivar e premiar.

 

A propósito, também no Rio de Janeiro nos dias 5 e 6 de agosto haverá a 2ª Conferência Internacional do cliente secreto, coordenada pela MSPA – Mistery Shopping Providers Association Latin America. Que não será secreta, e exporá os mistérios do comprador misterioso.

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras.

GRU Airport: estão tirando o bode

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

 

A piada da sala caótica que recebe um bode para manipular piora e melhora, pode não ser engraçada, mas convenhamos, é explicativa e aplicativa. Se não, vejamos.

 

Um dos temas mais em evidência, desde que fomos escolhidos para sediar a Copa 14, é sobre nossos aeroportos. Principalmente porque episódios desagradáveis já tinham sido registrados inúmeras vezes, gerando brigas e confusões com passageiros. Inesquecíveis por sinal. Marta Suplicy que o diga. E tais fatos não geraram medidas para evitá-los, ao contrário. Os voos foram aumentados devido ao crescimento da demanda.

 

Sábado, a nova empresa criada em função da mudança na legislação, para dirigir o aeroporto de Cumbica, informou através da imprensa que já estão sendo executadas medidas para melhoria do atendimento. A GRU Airport que é constituída pela Invepar, conglomerado que tem a participação da Previ, Petros, Funcef, OAS, e da sul africana ACSA, possui 51% do capital, e assume a direção neste mês, entregue pela Infraero, dona de 49%, deste que é o maior aeroporto brasileiro.

 

Com ouvidos atentos, pois a FOLHA trouxe matéria sobre inovações no sistema de som, na segunda feira fui embarcar para Teresina no recém-batizado GRU Airport. A casa estava cheia, gente apressada, gente calma, gente que não desgruda do celular, gente que carrega volumes enormes como bagagem de mão. Cenário habitual para o maior aeroporto do país, que detém mais de 60% do movimento aeroportuário. A novidade, conforme a matéria dizia, era o som. Despoluição. De fato o que a cidade de São Paulo conseguiu fazer na despoluição visual, a GRU Airport fez no som. Permaneci mais de uma hora no saguão principal e o som não se manifestou. O fantástico é que o efeito é impressionante. O caos da circulação e dos espaços fica bem mais ameno com o silêncio dos alto falantes. Restrito aos portões de embarque. Melhorando ainda quando se entra nos novos sanitários. Limpos e sem chamadas irritantes.

 

Esta pequena medida, bem que poderia incentivar as companhias aéreas e a ANAC, a reduzir a fala dentro dos aviões. Ou, ao menos em inglês, se é que é inglês aquilo que muitas vezes se ouve.

 

Se ainda não dá para tirar o bode totalmente, pelo menos o berro já resolve.

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras

Foto-ouvinte: Congestionamento de passageiros

 

 

Congestionamento na CPTM

Recado e foto de Antonio Marcos Souza, ouvinte-internauta do Jornal da CBN:

Sei que o assunto é recorrenrte mas, infelizmente, não tenho alternativa se não tentar denunciar este “câncer” do transpote público paulistano chamado CPTM. Hoje, novamente, esta empresa proporcionou aos usuários da linha Esmeralda ( Calmon Viana – Brás) mais um espetáculo de incompetência, descaso e desrespeito ao passageiro, ao cidadão e ao ser humano.

Resposta da CPTM publicada na área de comentários do Blog (publicado às 17h03):

Nos horários de pico há grande concentração de usuários em todos os meios de transporte, e na Linha 12-Safira (Brás-Calmon Viana) não é diferente. Além disso, parte do aumento da demanda crescente na CPTM, que em 2005 transportava 1,4 milhão de passageiros/dia e hoje 2,4 milhões/dia, também se deve às melhorias já realizada no sistema, que acaba atraindo mais usuários.

Todas as seis linhas da CPTM estão sendo modernizadas. As obras abrangem troca dos sistemas de sinalização, telecomunicações, rede aérea e via permanente (trilhos), além da readequação de estações. São essas obras que permitirão que os 105 trens novos que já estão sendo entregues para a frota, tenham um melhor desempenho, resultando na redução do intervalo e no aumento da oferta de lugares.

Para recapacitar o sistema sem interromper a prestação de serviço, a CPTM vem fazendo um grande esforço para adequar o cronograma de obras, sem paralisar a operação de trens, priorizando sempre o atendimento aos usuários.