Listas, muros e bons pagadores

 

Por Carlos Magno Gibrail

Innocente

Os muros, por mais que a história das civilizações demonstre que nunca funcionaram, são usados até hoje com o propósito de proteger ou de isolar. Foi assim em Berlim, está sendo no Oriente Médio. Bem, em São Paulo crescem para proteger moradores que ainda não perceberam que os bandidos chegam pela entrada social, com metralhadoras ou controle remoto.

As listas, intencionadas em premiação ou punição, dificilmente conseguem alcançar funcionalmente o objetivo inicial. Com o decorrer do tempo as de privilégios são aumentadas e as punitivas reduzidas.

Em suma, listas e muros não se sustentam, nascem com o mesmo objetivo e morrem do mesmo modo. Imprestáveis.

O Legislativo nacional acaba de aprovar o Cadastro Positivo, uma lista que pretende beneficiar os totalmente adimplentes. E, que mesmo depois de vetado pelo Executivo e receber muitas retificações, não deve beneficiar os consumidores, foco aparente do projeto.

A redução do custo do dinheiro, argumento básico do lobby do sistema financeiro é falácia, pois hoje existem vasos comunicantes afiados dentro destas entidades e o inadimplente é automaticamente identificado.

A autorização do cidadão à inclusão do seu nome no Cadastro Positivo é discutível, pois a negação levará a considerá-lo mau pagador, e ficar do outro lado do muro.

Ao permitir incluir o seu nome, estará dentro do muro, mas correndo o risco de informações financeiras particulares serem divulgadas e manipuladas para ofertas comerciais e financeiras.

A advogada Maria Inês Dolci, Coordenadora do Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) questiona: “Pessoas que atrasaram parcelas de um empréstimo não são, necessariamente, péssimos pagadores ou caloteiros. Podem ter enfrentado problemas de saúde ou desemprego. Governos caloteiam os precatórios. Estarão fora da lista positiva? E quem garante que os cadastros positivos não serão vendidos em CDs, na Rua 25 de março, em São Paulo, como as nossas declarações de Imposto de Renda?”.

Até o Estadão de domingo em seu editorial vê que a vantagem será apenas do gestor das listas. Poderá trabalhar com a segmentação de mercado, que irá informar os diferentes perfis de consumidor, gerando um banco de dados sofisticado e devastador como privacidade para os participantes na lista.
Estamos caminhando para uma dura realidade, em que o cidadão comum ficará cada vez mais exposto e imposto, enquanto os blindados pelo poder político e/ou econômico, menos sujeito a prestar contas, e, portanto, acima do muro.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve, às quartas-feiras, no Blog do Mílton Jung


A foto deste post é do álbum digital de Funcky64, no Flickr

7 comentários sobre “Listas, muros e bons pagadores

  1. Pois é caro Carlos

    Se uma pessoa ficar desempregada, doente, for assaltada e o ladrão levar todo o seu salario e mais alguns pertences, fatalmente não terá por uns tempos condições de saldar suas dividas e compromissos.
    E ai como fica?
    Vai para o cadastro “dos nomes sujos” também?
    O caso de quem fica desempregado, honesto, ou tem familiares doentes dependente somente deste ser se não pagar a pensão alimenticia vai preso sem dó nem piedade.
    Até agora os nossos Ilustres Ministros do STJ, legisladores, magistrados, senadores, deputados, não nos deram respostas sobre.
    Este tema “dividas e devedores” deve ser mais debatido

  2. Armando Italo, no meu ponto de vista o ruim é a tendência autoritária , tipo ditatorial, que se acentua.
    E, como sempre se viu nas ditaduras, os extremos pontificam. Enquanto o cidadão comum fica sem margem de manobra, permanentemente vigiado e exposto, os donos do poder fazem o que bem entendem. E eles sempre entendem o beneficio próprio.
    Veja a matéria de hoje no Estadão sobre a perseguição do Teixeira contra o PSDB de São Paulo.

  3. Douglas The Flash
    Muito boa a sua sugestão.

    Entrando no link indicado por você cliquei no GLOBO e a principal manchete é sobre Palocci. Diz o procurador geral da república que não há indicios que incriminem Palocci.
    Agora pergunto, que indícios há no cidadão que tendo restrição de crédito não pode fazer seguro de auto? Nem que o pague à vista?
    As companhias de seguro acham que há indícios e por isso não permitem, para prevenir eventuais prejuízos.
    Fica cada vez mais distante a imputabilidade entre quem tem poder e quem não tem.

  4. Carl Senhor Carlos Gibrail

    O que assistimos, ouvimos sobre desmandos, abusos, falcatruas, mensalões e mensaleiros, corruptos e ladrões do dinheiro publico imopunes, entre outras tantos nada mais resultado de um povo ignorante, manipulado por politicos espertos e uma oposição burra, incompetente
    Ainda bem que não moro no Brasil e espero nao retornar tão cedo.
    Porém como brasileiro fico sinto-me muito triste por ver como meu pais está afundando rapidamente.

  5. J.Carlos, comentário 5
    Infelizmente ao que tudo tem indicado, este fenômeno de corrupção não é particularidade brasileira. Talvez a diferença esteja na punição.
    Em todo caso, ao menos no futebol o abuso de poder, a discriminação , a usurpação dos direitos alheios, é universal. Aqui, ali, acolá.
    Como otimista vamos continuar protestando, assim como a sua manifestação já é um passo adiante.

  6. Carlos
    Certamente a corrupção existe no mundo inteiro
    Mas como no Brasil, a impunidade, o descaso, somente em paises republiquetas.
    Veja o que pode acontecer com politicos safados, corruptos nos EUA por exemplo
    Se forem pegos com a mão na cumbuca vai preso e cumprem a penal integral.
    Mais que comprovado, politicos ingressam na politica para legislarem somente em causas proprias.
    Se arrumarem, para ficarem biliardarios.
    Com segunda e terceiras intenções.
    Seja qual partido pertençam.
    Veja o exemplo da fidelidade partidaria!
    Um verdadeiro leilão de politicos
    Um exemplo recente.
    O Sr Chalita filiou-se no PMDB porquê?
    E ainda tem pretenções de ser prefeito de são paulo?
    Vale para o futebol que e a mesma coisa se não for pior.
    Veja o que lemos sobre a CBF, FIFA, R.Teixeira entre outros?
    E dai?
    Pergunto.
    E nada acontece com “os apadrinhados dos reis, principes, condes, duques.
    Esqueça de declarar dez centavos na declaração do imposto de renda para ver o que pode acontecer.
    Imediatamente vão te intimar para comparecer para saber porque nao declarou os dez centavos.
    E se naõ pagar tera bens penhorados, podera ser preso, humilhado, perde direitos, fica com nome sujo, etc.
    E os politicos apadrinhados ficam e saem ilesos numa boa

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