O futebol e o orgulho de ser brasileiro

 

 

Lorenzo acordou cedo. Ainda está confuso pela diferença de cinco horas. Havia dormido tarde para assistir ao Brasil ser campeão pela primeira vez. Da última, em 2006, tinha apenas seis anos e quase nada lembra de Felipão e sua família em campo. Há muito não se mostra entusiasmado com as coisas do futebol, prefere os jogos de computador e seus ídolos sul-coreanos, capazes de vencer adversários em qualquer parte do mundo. Do meu Grêmio, curte mais ver o pai sofrendo e sorrindo do que propriamente, o time. Ontem à noite, aqui na Itália, se aboletou ao meu lado no sofá para ver na televisão a final da Copa das Confederações contra a Espanha, repetindo o que havia acontecido na semifinal, quando ainda estávamos em São Paulo.

 

Ele assiste ao jogo de uma forma diferente da minha, que me concentro apenas na TV. Está com um fone no ouvido, o Ipod nas mãos, os olhos na tela e curioso para cada acontecimento. Assim como eu, se assustou ao ver o gol em menos de três minutos em um jogo que eu havia dito a ele que seria muito difícil de vencermos. Lorenzo não tem as informações que eu tinha do adversário, além de saber que a Espanha era a campeã de quase tudo e tinha um goleador chamado Torres, mais famoso para ele por ser alvo das brincadeiras nas redes sociais. Talvez por isso não tivesse o mesmo medo que eu, e entrou para a partida confiante na conquista.

 

O futebol se transformou em uma tremenda diversão para nós. O gol deitado de Fred, a comemoração no meio da torcida (pai, posso ficar lá no próximo jogo?), a caça dos espanhóis a Neymar, a firmeza da nossa defesa. Esse era para matar, heim, pai? – disse ao ver Paulinho tentar um gol de cavadinha lá de fora da área. Comemorou ao meu lado quando David Luiz e sua cabeleira despacharam a bola para fora do gol brasileiro com um carrinho que deveria ter sido festejado na galera, se houvesse tempo. O velho Felipão, cara de avô e bigode de gente boa, foi motivo de muitos comentários entre nós. A bronca nos jogadores quando o domínio era nitidamente verde e amarelo e os espanhóis estavam batidos causou dúvidas nele. Responsabilidade, Lorenzo – explquei de bate-pronto. Já era madrugada por aqui quando eu e Lorenzo fomos para a cama, felizes por vermos que o futebol brasileiro voltava a ser campeão e era motivo de elogios dos comentaristas da TV italiana.

 

Agora cedo, cara de sono, café a ser servido, antes mesmo do bom dia, ouvi dele:

 

– E o orgulho de ser brasileiro, heim, pai?
– Foi uma baita vitória, mesmo, respondi.
– Não, tô falando do pessoal que está protestando, não vai parar, vai?

 

Pegou a bola, me deu um drible e se foi embora aproveitar as férias.

4 comentários sobre “O futebol e o orgulho de ser brasileiro

  1. Não o deixe perder a alegria e a importância desses momentos. Ser exigente com os acontecimentos do país é tão importante quanto saborear uma vitória ou sofrer com uma derrota esportiva. Tudo tem o momento certo!

  2. Sim, temos um imenso orgulho de nossa pátria mãe : seja quando conquistamos títulos, prêmios, na família unida, destaques positivos em mídias nacionais e internacionais, no prazer do fazermos bem feito, profissionalmente e/ou particularmente, em nosso dia a dia. Hoje, a idéia é de que possamos nos orgulhar da construção de um país , agora diferente , em todas as esferas de sua coletividade, da conscientização e da concretização de um Brasil do povo, para o povo e pelo povo.

  3. Milton, excepcional este momento, de pátria de chuteiras dentro do estádio e pátria de contestação fora do estádio.
    O espetáculo do Maracanã foi total. Inclusive nos detalhes. Até mesmo a exclusividade do jogadores como protagonistas absolutos. Nada de cartolas e muito menos de políticos.

  4. Quanto mais qualificado é o adversário,mais significativa se torna a vitória. Se o Brasil tivesse ganhado da Itália,vencer seria considerado normal. Derrotamos,porém,a Espanha,tida e havida,atualmente, como a melhor seleção do mundo. Os deuses do futebol deram-nos de presente na final da Copa das Confederações o que havia de melhor futebolisticamente falando.Só não vale tentar tirar partido político dos 3 x 0. Milton,que bom teres ao teu lado um torcedorzinho atento e esperto.

Deixar mensagem para Carlos Magno Gibrail Cancelar resposta