Por Maria Lucia Solla
No meu tempo de criança a gente não dizia a palavra câncer. Tinha uma amiga dos meus pais, muito frágil, que visivelmente sofria e definhava mesmo aos olhos de uma criança, mas eu ouvia dizer que ela tinha ‘aquilo’ ou ‘aquela doença’. Fui ouvir o nome da doença pronunciada com todas as letras, muito tempo depois. E fui ligar os pontos, ainda mais tarde. Para se referir a ela, levavam uma das mãos à boca e baixavam o tom da voz. Ainda era comum franzir a testa, inclinar a cabeça para um lado, erguer o ombro correspondente e olhar com cumplicidade mórbida, dando uma fungada profunda, longa e ritmada em sinal de lamento.
O que se passava no íntimo dessas pessoas, e o significado de tantos gestos simbólicos, se traduz numa palavra: preconceito. E é o mesmo preconceito que nos acompanha em tudo, desde sempre e ainda hoje. Inconformismo frente às curvas da vida, preconceito, medo, birra infantil fora de época, sofrimento frente ao novo, desconfiança do desconhecido, medo, preconceito. E mesmo querendo evoluir, andamos na direção oposta fortalecendo o medo, que é solo fértil para o caos estéril.
Branco tem preconceito de negro, negro tem preconceito de branco, e os cínicos têm preconceito da palavra negro e da palavra branco. Nos Estados Unidos, durante o julgamento de um branco que matou um negro – George Zimmerman X Trayvon Martin – só o que se ouvia, para se referir a ‘negro’, era ‘the N-word’, ou seja: a palavra que começa com ‘n’. Uma apresentadora de tevê acabou profissionalmente destroçada por ter usado a palavra ‘negro’, no ar. Ela explicou que cresceu usando e ouvindo as palavras negro, branco e índio – quando as palavras e nós éramos mais livres – durante toda sua vida, e que às vezes deslizava. Eu também deslizo.
pobre tem preconceito de rico
inculto de culto
medo
vice
versa
medo
quem acorda cedo
de quem abre os olhos
tarde
medo
o agressivo
de quem
é suave
o que não sua
do que sua
e onde fica o
cada um na sua
?
Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.
Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung
Querida Lú, é isto aí: preconceito, preconceito e mais preconceito. Sempre digo cuidado com preconceito invertido, que definiste sàbiamente.
Agora que quando te põe frente à frente com o diagnóstico: é câncer! Dói, incomoda e sei lá o que mais. Mas tem que ser assim mesmo, depois a gente assimila, junta os cacos e vai à luta com FÉ! Bjs Maryur
AMIGA MARIA LUCIA,
BOA TARDE.
LINDAS PALAVRAS.
ABRAÇOS
FARININHA
Maryur,
esta semana ouvi uma frase:
Deus dá as batalhas mais difíceis para os seus mais bravos guerreiros!
Beijo e excelente semana,
Farina,
obrigada por estar sempre por perto.
Beijo e excelente semana,
O câncer como doença tem sido combatido pelos médicos e cientistas e temos acompanhado sua cura nos próprios pacientes. Já o câncer social, infelizmente…
Bjs
magaly
A cura desse mal social, Magutcha, fica por conta de todos os que chegaram à compreensão, à decisão e à disposição.
E você lidera um grande grupo desse tipo.
I’m proud of you!
Beijo e excelente semana,
Adorei o que você escreveu. Vale a pena sabe? ler textos inteligentes e bacanas como o seu !!!
Parabéns!
Dione.
Dione,
Super obrigada.
Vale a pena ler comentários generosos como o teu.
Beijo e excelente semana,