Volta às aulas

 

Nos próximos dias, milhares de crianças se despedem das férias, conferem os cadernos, arrumam a mochila e seguem de volta à escola. As aulas recomeçam e a rotina dos estudos, também. Alguns tiveram tarefas durante a folga do meio de ano, porque os professores aprenderam que incentivá-los a fazer exercícios no recesso aquece a memória e ajuda a guardar alguns conceitos (em troca, os alunos são recompensados com pontos extras na avaliação). Reencontrar os amigos de sala já não provoca mais a mesma sensação do meu tempo, porque em tempos de rede social nada mais é novidade, tudo se conta, se posta e se “selfie”. Por mais que cada um vá para o seu lado, o Facebook nos deixa lado a lado, compartilhando visitas, encontros e baladas. Com tudo registrado em tempo real, imagino que ninguém mais se atreva a pedir para os alunos escreverem a velha composição com o título “Minhas férias”. Tá tudo no Face, professora!. Aliás, ninguém mais chama aquilo de composição, agora é redação.

 

Estou de volta, também, após 15 dias de férias nos quais tentei me manter o mais distante possível das obrigações. Em meu Twitter e Facebook apenas compartilhei o que era publicado no Blog; no e-mail da rádio, deixei acumular broncas, pedidos, convites e anúncios; no pessoal, respondi o que pedia urgência e guardei o que me daria trabalho. Mesmo assim é impossível desligar por completo, especialmente morando na cidade, onde cruzamos por pessoas, ouvimos comentários, o rádio insiste em contar notícias e o jornaleiro arremessa as manchetes na porta de casa todas as manhãs. Apesar de obrigado por força da profissão, gostaria de não ter sabido de aviões que caíram e foram derrubados, e dos números gigantescos de mortes provocadas por líderes-anãos que comandam seus países e quadrilhas.Lamentei que Ubaldo e Suassuna tenham ido embora. Fiquei triste com a morte de Rubem Alves que tantas vezes salvou-me de entrevistas medíocres com suas respostas inteligentes. A quem vou procurar na próxima pauta? Ao menos não precisei noticiar a falta de propostas para o Brasil no início da campanha eleitoral.

 

As férias terminaram. Passaram muito mais rápido do que planejei. Não tive tempo para fazer quase nada do que programei. Havia me proposto a ficar em casa para organizar a vida: arquivos, livros , discos e documentos. Vão continuar esperando para voltar ao lugar certo. A volta dos treinos de golfe vão ter de esperar, também. Até a bicicleta ficou pendurada na parede, andou menos do que quando estou na ativa. Fiquei devendo todas as visitas aos amigos e parentes. Li, não tudo que imaginava, mas li porque sempre estou lendo; ouvi mais música do que o normal e me diverti com os seriados e filmes à disposição no Netflix. Foram maratonas regadas a vinho. O que aproveitei muito mesmo foi a companhia da família porque era este meu único compromisso nestes dias todos. É para isso que se tira férias. Conversamos, nos divertimos, encontramos soluções para o problema dos outros e deixamos os nossos para lá, lembramos de histórias passadas e programamos outras tantas.

 

Agora, chegou a hora de conferir as tarefas, arrumar a mochila e voltar à ativa. Seja bem-vindo, trabalho!

17 comentários sobre “Volta às aulas

  1. Que bom que você se divertiu com sua família. Seu coração fica mais encantado e pronto para algumas notícias que concorrem contra o encantamento.
    ” A vida é um encanto tão raro que tudo concorre para rompê-lo”. Emily Dickinson.
    Bem vindo.

  2. Gostei muito de sua nota, Mílton. Igualmente tenho vivido com minha família dias muito intensos, fundamentais para renovar energias e reabastecer-nos. Bom retorno!

    • Queridíssimo, Marcelo, amigo de quatro costados, colega dos tempos de escola, companheiro de balada. Muito bom tê-lo por aqui. E que o destino nos reserve um tempo para lembrarmos das nossas histórias.

  3. Olá Milton, de volta ao trabalho! Curtir a família e amigos é maravilhoso, momentos inesquecíveis.
    Bom retorno ! Vamos compartilhar informação e coisas do Brasil. Gostei muito do novo visual do blog.

    abraço,

    Marcos Dias.

  4. Que bom férias! Família,amigos,.Por incrível que pareça Milton ,meu sobrinho Rafael ,de 10 anos não tem celular ,tablet não tem face, tem um computador que só é usado para pesquisas escolares. Sei que esses aparelhos são essenciais no mundo em que vivemos. Mas para uma criança de 10 anos não faz falta.
    E graças à Deus a escola em que ele estuda, a professora ainda pede aos alunos para fazer redação e a leitura de livros nas férias.Até quando não sei.Espero que essa escola fique assim por um bom tempo. Há ele mora em São Paulo (Perdizes). Abraços. Saudades meu amigo dos lindos tempos . Fatima Gallinari.

    • Fátima: quem diria que voltaríamos a nos encontrar de forma indireta após tantos anos. Que seu sobrinho Rafael se transforme, em breve, em mais um ouvinte da CBN. Beijos!

  5. Era sábado em São Paulo. E era dia de céu azul. Um dia desses a gente às vezes até esquece que existe em São Paulo. São Paulo é a cidade das segundas-feiras. Do dia feio. Do trânsito e da chuva que alaga e transtorna. São Paulo linda assim não deveria existir. É uma covardia com nosso coração maltratado São Paulo tão clara e tão leve. São Paulo radiante. Mas estava lá aquele sábado tão real como toda segunda-feira cinza e cansativa, tipicamente paulistana. E ele, como tudo nos últimos tempos, me deprimiu. Na cidade da crueldade e egoísmo, me sinto inocente em ter esperança. E cercada de segundas intenções e mentiras na cidade do exagero, me vejo respirando crueldade. Estou em uma terrível competição e me sinto comparada e julgada a cada palavra que digo ou passo que tomo. Se aqui é possível ser tudo, paga-se um alto preço por ser quem se quer. Os prédios oprimem o sol, que oprime meus olhos desacostumados com tanta claridade. A ressaca me maltrata. Nunca vi São Paulo dar segundas chances nem amparar distraídos. Um deslize é um furto, é se perder, é gastar demais e acreditar em quem não devia pra depois acordar sozinho ou ficar sozinho, por tempo demais. Bobeou, a fila andou, alguém te fechou ou então algum motorista estressado te buzinou. São Paulo não perde tempo, nem um segundo, nunca. E nessa desordem doente já não consigo entender um sábado de sol, que me faça querer perder tempo e andar devagar. Que me faça querer respirar. Confusa com e como São Paulo. Grande demais, com muito a nos revelar.

  6. Olá, Milton, apesar de escutá-lo todos os dias na CBN (bem vindo de volta!), hoje, ao enviar uma pergunta para o Mundo Corporativo, foi a primeira vez que entrei no blog e gostei muito. Voltei agora e lendo sua postagem parecida com uma leve crônica, resolvi comentá-la. Daqui a pouco, acaba o dia do meu aniversário e também escolhi ficar apenas com a minha família, indo a um bom restaurante e depois à exposição “Ópera da Lua”, de Os Gêmeos. À noite, jantamos em casa e cantamos parabéns em volta do bolo caseiro e do doce de chocolate com morango feito pelos filhos Tom (11 anos) e Gabi (8 anos). Foi um dia 3D: diferente, divertido e delicioso!!! Abraço, Gilvan.

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