Por Maria de Lourdes Figueiredo Sioli
Tia Ilze era a única irmã de mamãe. Era um pouco mais moça e fisicamente bem diferente dela. Mais clara, de cabelos cacheados e olhos grandes … muito bonita afinal.
Pelas fotos vejo-a muito ligada a minha infância, de primeira neta e sobrinha, lugar engrandecido na pequena família materna.
Casou-se com um americano – tio Mitchel – teve duas filhas, foi morar no Rio de Janeiro e na década de 50 voltou a São Paulo, onde nos encontramos novamente, pois eu terminara o ensino médio e frequentava um cursinho para o vestibular.
Foi morar na Rua Morás, uma rua calma e arborizada no Alto de Pinheiros, com um lindo jardim onde havia um pé de cerejas, que me encantava!
Um dia telefonou-me dizendo “Vou levá-la a um lugar que será inesquecível para você…” Nos encontramos na Praça Patriarca, na frente da Igreja de Santo Antonio e fomos de braços dados pelo Viaduto do Chá até ao Mappin para o chá das cinco!
Quando entramos no salão pensei assim como se fosse Alice entrando no País das Maravilhas tal o impacto sentido! Mesinhas redondas amparavam toalhas de fino tecido, em tons claro de azul, que iam até o chão. Sobre a mesa, xícaras de fina porcelana, talheres e demais objetos, tudo discreto e chique.
Compunha ainda o cenário, vários arranjos de flor natural que enfeitavam o ambiente. Em um canto do salão um pequeno conjunto tocava músicas suaves e o violino passeava pelo recinto detendo-se minutos em cada mesa, que tornava-se no momento, alvo de todos os olhares. E que olhares! A fina flor da sociedade paulistana ali se encontrava para o chá das cinco!
Os garçons elegantemente vestidos, com luvas brancas, trouxeram inúmeros pratinhos com petit four variados, a chavena de chá, leite e chocolate quente, que tomei deliciada!
Conversamos sobre várias coisas e o tempo passou como por encanto.
Voltei ainda algumas vezes ao Mappin para o chá, agora sem hora marcada e sem o encanto da primeira vez.
Assisti à decadência do ritual, o empobrecimento dos detalhes e a mudança da clientela, os músicos desapareceram e glamour acabou! Mas na memória ficou mesmo inesquecível aquela tarde mágica, a companhia querida da tia Ilze e uma grande saudade!
Maria de Lourdes Figueiredo Sioli e a tia Ilze são personagens do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Você pode contar também mais um capítulo da nossa cidade: envie seu texto para milton@cbn.com.br
Parabéns Maria de Lourdes ,vc me fez voltar no tempo e relembrar uma ocasião muito parecida em que fui também ao Mappin com minha madrinha.Me lembro até do vestido novo feito para a evento.
Jamais esquecerei aquela tarde encantadora.