Por Maria Lucia Solla
Quando eu era menina, ficava ‘emburrada’. Não falava com ninguém e ficava de ‘cara feia’. E não era só eu. Éramos uma legião de crianças emburradas. Longe de ser moda, era nossa expressão de descontentamento. Não vamos nos esquecer de que quando eu era ‘menina, o ‘emburramento’ era o máximo de expressão de revolta permitida a nós, os pequenos.
Não falava à mesa, não dava palpite, jamais interrompia quando um adulto falava, estudava e tirava notas excelentes, porque era o que se esperava de mim, e pronto. Meu pai dizia que eu não fazia nada além da minha obrigação. Ele tinha razão, e nesse ponto eu me dava bem porque sempre gostei muito de estudar. Agora, a parte do ficar quieta era a mais difícil. Engolia em seco o tempo todo, ‘tirava letra’ das músicas, e cantava, cantava, já que não podia falar. E escrevia. Diário, carta e desabafo. De lá para cá, vocabulário e regras podem ter mudado e evoluído, mas o homem.…
E fazer o quê, emburrar? Enredar pela via da crítica virulenta? Aquela do eu estou sempre certo, e você errado? Falar o tempo todo do descontrole e da selvageria que assola o planeta? E olha que não sei da missa um terço!
Tem solução? Está tudo errado? Não. Apesar do descontentamento individual e geral, nada está errado. A Natureza segue o seu caminho, de ação e reação, apesar de nós, e da nossa agressão a ela. Só isso. Há algum tempo, nós a violentávamos e assaltávamos, na calada da noite. Hoje, à luz do dia.
Selvagens, brincamos de cidadãos. Temos sempre uma palavra de crítica ao outro, e espantosamente sabemos a receita para todos os problemas. Do outro. Filho mata mãe, mãe não fica atrás. Rico come bem, estuda e saqueia o semelhante. Pobre passa fome, não estuda e faz o mesmo. Apesar do preconceito que devasta qualquer possibilidade de entendimento, de acordo e paz.
Tem juiz que se degrada, condenado que se recupera. Tem justiça e seu avesso. Em todo lugar, em todo posto. A qualquer preço.
E eu? Se tenho receita? Vivo como posso, me aninho como fazia quando criança , me acomodo na solidão que se acomoda em mim, reconheço no espelho a tristeza nos sulcos que não havia ali, e entendo que tenho ainda muito a aprender.
Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Escreve no Blog do Mílton Jung

Milton Jung, já afirmei que você é o paulista mais carioca que conheço. Sou seu ouvinte assíduo. Estou lhe enviando alguns artigos, e se você puder postar no seu blog, ou repassar pessoalmente vou me sentir honrado.
COTIDIANO EM SEGUNDOS: GOVERNO DILMA II X PRODUÇÃO http://alvoradaeconomica.blogspot.com.br/2015/05/o-cotidiano-em-segundos-o-governo-dilma.html
RESULTADO PRIMÁRIO DO GOVERNO http://alvoradaeconomica.blogspot.com.br/2015/05/cenario-nacional-resultado-primario-do.html
MEDIDAS RECESSIVAS http://alvoradaeconomica.blogspot.com.br/2015/05/cenario-nacional-medidas-recessivas.html
Milton Jung, desculpe pela brincadeira por afirmar que você é o paulista mais carioca que conheço…
Nossa fachada de descontentamento muitas vezes vem nessa forma de carranca, né? A gente esquece do “aceita, que dói menos” e segue o resto do dia (ou da semana, ou mês, ou ano) com a cara amarrada, fechada e trancada com um cadeado cuja chave faz questão de esquecer em qual prateleira colocou. Provavelmente naquela em que “colocamos as coisas que não queremos ver”, como diria Frankie.
Emburrado é a mesma coisa de estar burro? De fingir não conhecer as receitas pra se livrar daquilo que incomoda o humor? Ou de se permitir ser ignorante em relação a algo que perturba a alma?
Sem respostas para o domingo, desemburremos-nos para não repetir de ano.
Bjos
Sim, Bruno, sim!
Emburrar, além de manter uma cara sisuda, é empacar! Não podemos esquecer desse detalhe. E empacando…
aprender sempre!
Beijo, obrigada pela companhia incondicional (com emburramento ou sem) e boa semana
Adorei isso Bruno “aceita que dói menos”. Como quando a gente vai tomar uma injeção. Se contrair dói muito mais. Malu, um passinho a cada dia né? As vezes maior, as vezes pequenininho, mas sempre pra frente. Assim vamos desfazendo os nós… desemburrando. Bjim goiano
Elizabeth querida,
desfazer os nós, nesta altura dos acontecimentos, desmancha o trabalho todo…, mas você está certa. A gente começa de novo, ué!
Beijo, e não tem como não repetir o que disse para o Bruno: obrigada pela companhia incondicional (com emburramento ou sem) e boa semana