Inteligência artificial não é fonte primária no jornalismo

Foto de Rahul Pandit

Se ainda havia dúvidas sobre os riscos de confiar cegamente na inteligência artificial para produzir notícias, um estudo da BBC tratou de dissipá-las. Ao testar quatro dos principais assistentes de IA – ChatGPT (OpenAI), Copilot (Microsoft), Gemini (Google) e Perplexity – a rede britânica identificou problemas em 51% das respostas geradas. Mais alarmante ainda, 13% das respostas mencionavam a própria BBC de forma errada ou simplesmente inventavam informações.

O alerta, trazido pelos meus colegas Leonardo Stamillo e Leandro Motta na newsletter Cartograma, não significa que a IA deve ser descartada pelos jornalistas. Pelo contrário, a questão central é saber como usá-la sem comprometer a credibilidade do nosso trabalho.

O Pulitzer Center propõe um critério simples:

  • Se a tarefa exige alta precisão e será consumida pelo público, o uso de IA deve ser cauteloso.
  • Se o conteúdo gerado será usado internamente, como análise de grandes volumes de dados, a tecnologia pode ser uma grande aliada.

A inteligência artificial não é inimiga do jornalismo, mas também não pode ser sua fonte primária de informação. Seu maior potencial está na automatização de tarefas mecânicas, na organização de grandes bases de dados e até na sugestão de pautas. Pode ajudar a redigir esboços de textos, revisar gramática e otimizar títulos para SEO. Mas a apuração, a contextualização e o olhar crítico seguem sendo prerrogativas exclusivamente humanas.

Se há uma lição nesse debate, é que não podemos tratar a IA com ingenuidade, mas também não devemos temê-la. O problema não é a ferramenta, mas como a utilizamos. A história do jornalismo está repleta de inovações tecnológicas que, inicialmente, causaram desconfiança. O rádio, a televisão e a internet foram recebidos com ceticismo e, hoje, são indissociáveis da prática jornalística. A IA, ao que tudo indica, seguirá o mesmo caminho.

A tecnologia avança, e o compromisso com a informação de qualidade permanece. E, para isso, o jornalista deve manter a postura que aprendeu desde seus primórdios: desconfiar, questionar, desenvolver olhar crítico e apurar a verdade. Assim como fazemos com as melhores fontes de informação, devemos agir, também, diante da IA.

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