Casamento de celebridades

 

Adriane Galisteu casou com o filho no colo, leio em um portal de notícias e entretenimento. Não fiz questão de acessar a notícia. Nada contra a moça que leva a vida do jeito dela e feliz. Menos ainda contra o casamento, estou em um desses há 17 anos (e que muitos mais tenhamos pela frente). Mas é das notícias que não me chamam atenção, raras vezes me levam para dentro de um página ou me desviam do que procuro neste emaranhado que está a rede.

Apesar de que hoje ficaria muito feliz em saber notícias de um casamento em especial. Simone e Marcos não estão na lista dos casais VIPs, aqueles que são caçados pelos fotógrafos e procurados pelos patrocinadores, mas fazem parte de uma restrita lista que mantenho em minha caderneta de anotações (meu ‘contacts’ pra ser mais preciso). Eles não são, necessariamente, amigos de receber em casa ou trocar confidencias, mas são daquelas pessoas pelas quais estarei sempre na torcida pelo sucesso.

Conheci os dois por causa do Marcos quando ainda ele era estudante de jornalismo. Me levou a São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, pra conversar com algumas dezenas de alunos. A Simone estava ao lado, era namorada ainda. Os dois se tratavam com um carinho contagiante e se dirigiam a mim com uma reverência que não merecia. Logo vi que ali estava um casal pronto para viver em harmonia, capaz de entender que a relação deles está acima de qualquer desafio que, certamente, surgirá.

Ele se formou e segue trabalhando em meio a jornais e revistas, na banca que foi do pai, em frente a FGV, na Nove de Julho. Tem tino jornalístico, identifica os fatos que são notícia com facilidade, não se cansa de me sugerir reportagens, está sempre de olho nas cenas que valem a pena ser registradas e tem uma capacidade singular para transformá-las em fotografias – muitas estão lá no álbum digital do CBNSP, no Flickr.

Hoje à tarde, Simone e Marcos casaram em Atibaia, interior de São Paulo, em um sítio, acompanhados de pessoas que são importantes na construção da vida que eles imaginaram levar em frente. Seu Joaquim, pai do Marcos, não estava presente, pois decidiu-se pelo descanso eterno, há pouco tempo, provavelmente após ter tido a consciência de que o menino dele estava pronto para seguir sua caminhada. Seu espírito e o caráter que transmistiu aos filhos, tenho certeza, estavam lá.

Particularidades de família me deixaram distante desta celebração à felicidade. Fisicamente distante, apenas. Fiquei o sábado imaginando como estaria sendo este momento singular. Da alegria sincera e humilde do Marcos ao beijo apaixonado da noiva. Do olhar entusiasmado dos parentes à satisfação dos amigos próximos. Dona Maria, Seu José e Dona Genésia, pais e mães dos noivos, orgulhosos dos filhos que criaram. Não tenho dúvida, para todos eles testemunhar a vitória de gente bacana neste mundo contaminado do qual fazemos parte foi um momento especial.

Simone e Marcos foram hoje celebridades. E a eles transmito meu desejo de que a mesma magia que os uniu siga interferindo nas suas escolhas.

(e que o Marcos Paulo Dias não esqueça de seguir fornecendo informações e fotos para este blog)

A difícil arte de confiar

 

Por Abigail Costa

Penso que ninguém escolhe ninguém pra ficar ao lado já com desconfiança.
Isso no caso de pessoas normais.
Ninguém escolhe amigos e desta relação manter o pé sempre atrás.
Entre irmãos o natural é se doar, não renegar.
Mas em todo o momento da vida a pessoa se vê obrigada a fazer escolhas.
Quando acontece alguma coisa fora do esperado, puxamos o breque.

Sempre tive dúvidas em relação a uma traição.
– Dá pra recomeçar sem a desconfiança natural?
– É possível encarar o outro de novo sem fantasmas ?
– Será que vai se repetir ?

Numa relação de intimidade entre amigos, onde se faz tudo junto, se diz tudo despreocupado e se toma uma bola nas costas, por experiências pessoais, nada é como antes
Desculpas são aceitas. Mágoas esquecidas.
Mas dá pra sentar num restaurante e brindar a amizade?

Tenho que melhorar isso com a meditação.
Na família isso é complicadíssimo.
Se tira a pessoa das listas de festas, dos almoços de domingo.
Foge dos telefonemas desagradáveis.
Mas não se deleta do coração.

É um conflito entre a razão e a emoção.
Crescemos lado a lado, dormimos juntos, fizemos planos.
E, agora, cada um para um lado.

Deveria ser assim: O médico prescreve um remédio, alguns meses de tratamento e….
A confiança de volta!
Sem o remédio pra isso, fica o amargo de um sentimento que era, não é mais, e quem sabe se um dia voltará a ser.
Enquanto isso vamos no lema dos que umdia se entregaram ao vício e estão se recuperando.
Pelo menos por hoje vou confiar.

Abigail Costa é jornalista e, confiante, escreve às quintas-feiras no Blog do Mílton Jung

Me dá um dinheiro aí !

 

Por Abigail Costa

Experimente contar um problema pra alguém.

– Isso não é nada!
– Imagine que….

Como se problema tivesse dimensão de mais ou menos, maior ou menor.
É problema e pronto.
Simples ? Não.

Fulano tem uma dívida, você ganha um pouco mais do que ele.
Logo, você vai dar uma força para cobrir a conta bancária do camarada.
Isso é o que ele espera, claro o teu salário é maior!
Mas e as suas despesas ? Elas também não são maiores ?

Tenho vivido fases parecidas.
Não se iluda, não falo de “gordos rendimentos”, mas dos que ainda acreditam que a obrigação é sempre dos outros.

Esse era um assunto que realmente não me incomodava. Deixava rolar.
Passou a incomodar quando começei a perder amigos e dinheiro.

É assim:

– Preciso da sua ajuda. No fim do mês, eu pag….

Sempre no fim de um mês que nunca chega.
Ele fugindo de você, e você sem jeito de cobrar.

E vem o pensamento:
– Por que não apliquei esse dinheiro na bolsa, lá se perdesse sabia do risco.

Passei por uma saia justa outro dia.
Eu e ele.
Quando desliguei o telefone, fiquei com raiva de mim.
Repeti em alto e bom som:
– Eu não aprendo !

Do fim do mês vai ficar para o dia 15.
Você acredita?
Quer apostar?
Não faça isso.
Corremos o risco de perder.
De novo.

Abigail Costas é jornalista, escreve às quintas-feira no Blog do Mílton Jung e, que fique claro, nunca me emprestou dinheiro.

De sentada na calçada


Pássaro por Maria Lucia Solla

Por Maria Lucia Solla

Ouça ‘De sentada na calçada’ na voz da autora

mas é real o que estou a ver
encontro e desencontro
tim tim
rindo a comer e beber
se fartando de mim

e quem está com os dois
não pode ser olhe lá
esperança e desesperança
não acreditaria se ouvisse falar

a Vida é mesmo mistério
digo rindo
e falando sério

pensava que fossem
de tribos opostas
que no mesmo ambiente
não estariam
nem de costas

no entanto parecem entrosados
os quatro
partilhando uns dos outros
copo e prato

tim tim
rindo a comer e beber
muito furtando de mim

há intimidade
é mais que um primeiro encontro
parece que vem de longe
que é sólida a amizade

riem
é só o que me falta
além do ar
desencontro abraçado
à esperança
os dois a gargalhar

Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira, realiza curso de Comunicação e Expressão, escreve no Blog do Mílton jung aos domingos, e é ótima companheira para bater papo sentada na calçada.

Carta a uma amiga

 

Por Abigail Costa

Hoje, sei que quando chegar ao trabalho não ouvirei aquela voz marcante gritando pelos corredores para mim: gataaaaaaa!!!! Sei que enquanto estiver driblando o trânsito e o calor, você estará longe dessa loucura. Aproveite esse tempo para ser mais feliz. Para ficar ainda mais bonita (se é que isso é possível).

Passe mais tempo na academia. Vá mais vezes à loja da sua amiga. E entenda, nem é pra comprar. Vá, admire os anéis, os colares. Tá bom, se gostar, compre, se dê de presente, mais um ou vários.

Passe um protetor solar e vá curtir o sol! Aproveite, sem a preocupação de borrar a maquiagem.
Por um tempo, livre-se das escovas e chapinhas diárias. Dê um sossego para os cabelos. Deixe sua pele respirar.

Longe da luz e do calor, preseve seu rimel, seu blush, seu batom. Eles não vão demorar pra encher sua necessaire outra vez.

Nesse tempo, apareça de surpresa no trabalho dele e ofereça um almoço.

Ele só tem 15 minutos? Que tal um suco?

O importante é ter você como companhia.

Não se preocupe, a gente vai se encontrar sempre. Se quiser, pode ser na minha casa neste fim de semana. Na próxima, num restaurante. Ou melhor, quero lhe ver hoje para desejar, pessoalmente, toda a sorte do mundo.

Beijos!

Abigail Costa é jornalista e às quintas-feiras está no Blog do Mílton Jung. Hoje, escreve especialmente para alguém que você não reconhece. Mas pode ser uma amiga sua ou, quem sabe, você mesma.

Amigos e o prazo de validade

 

Por Abigail Costa

Confesso já tive mais amigos do que tenho hoje, muito mais. A conta de dimiuição nesse caso tem um por quê. Lá atrás, com menos idade, mais paciência, menos desconfiada e mais aberta, conhecia, gostava, era amigo.

Em alguns casos, até era de verdade; na grande maioria amizade de passagem.
Isso, amigo com prazo de validade.

Considere até laços por conveniência. Entra na faculdade. Com sorte pra sair dela serão quatro, seis ou mais anos. Nesse tempo, encontrando a mesma turma, nos mesmos horários, vidas mais ou menos parecidas, conversas, confidências e AMIZADE.

Diploma, festa, os encontros diários são reduzidos, as ligações do tipo: hã acabei de me lembrar que…. Tô ligando pra dizer que acabei de ver o….

Rotinas diferentes podem até interferir quando essa amizade tem prazo de validade e, sem se dar conta, não tivemos tempo de ler o rótulo.

Alguém já teve um amigo, amigão no trabalho.

– Oi! vou me atrasar! você pode abrir o computador, estou precisando de uma informação, está na pasta pessoal. A senha é….

– Calma que eu já estou abrindo….

A senha foi passada sem desconfiança, não é preciso pedir sigilo. É amigo.
Você sai da empresa, ele fica. No meio do caminho vão ficando as sobras, as lembranças e um dia, nada.

O nada vem não pela falta do “cultivar aquilo que és responsável”. O fim do relacionamento chega por conta do prazo de validade.

Impossível escrever e não se lembrar de nomes. Um é da turma da igreja. No colégio pelo menos mais um. Minha primeira viagem ao nordeste foi a convite de uma amiga da faculdade. A Cleide, a Izilda, a Sandra….. nos despedimos um dia e ninguém se preocupou em trocar os telefones.

Uns saem, outros entram na nossa vida. Às vezes saem mais do que chegam….
Ultimamente tenho motivos para comemorar. Tenho amigos. Poucos, mas dos bons. E confesso, tenho usado meios para conservá-los !

Espero que com prazo LONGO de validade.

Abigail Costa é jornalista e escreve no Blog do Mílton Jung sem prazo de validade.

De volta

 

Por Abigail Costa

Agora é quase fim de semana. Não tenho do que reclamar.

Trabalho concluído e…. mesa de um boteco. Situação com a qual, quem me conhece sabe, não sou muito chegada, mas estou de mudança. Gostando do que ontem nem ousaria em pensar.

Pois bem, aperitivos e cerveja. Cerveja? Mas não engorda? Entre um gole e outro, engulo o que tanto disse a respeito desta bebida.

Ao meu lado um colega de trabalho. Um cara de 20 e poucos anos, com cabeça de gente grande. Bom de papo, ótimo profissional e a quem, daqui a pouco, terei o prazer de chamar de amigo. Na minha frente meu camarada (é assim que ele me chama). Naná foi uma grande surpresa na minha vida que chegou quando eu tinha só 22 anos e aprendendo a conhecer o jornalismo. Fomos apresentados, trabalhamos juntos, viajamos e enquanto ele ficou na empresa, eu decidi por outra.

Vinte e poucos anos depois, trocamos juntos de empresa. Ele lá e eu do outro lado, acabamos nos reencontrando. Naná mais velho, como eu. Ele absolutamente terra, eu, a eterna Alice no País das Maravilhas.

Novas surpresas, novos descobrimentos. Ele, não mais assistente, agora um baita repórter cinematográfico. Eu, repórter desde de sempre.

Dentre os 20 e poucos profissionais da “firma”, ele é o meu preferido. Não pense você que é só porque ele acerta o foco. Ele é diferente. Diferente no jeito de ser, diferente na maneira de pensar. Diferente porque ele é amigo. Daqueles que entendem o universo femino, desde a TPM, até escolher a camiseta pisicodélica para o meu filho usar numa feira da escola.

Estamos quase para encerrar o expediente, e Naná me pergunta:

– Onde estão os seus textos?
– Dei um tempo….
– Eu procurei por eles….

Decidi retomá-los….

Assim, pra dizer que coisa boa é ter alguém pra chamar de meu. MEU AMIGO. Daqueles de amor declarado. Porque ele é terra, mas tem sentimento.

Abigail Costa é jornalista e volta a escrever às quintas-feiras no Blog do Mílton Jung

De histórias da História

 

Por Maria Lucia Solla

Mesa de bar por Julianrod, em Flickr

Mesa de bar por Julianrod, em Flickr

Ouça “De histórias da História” na voz da autora

Olá,

Meu coração pipoca no peito quando me dou conta…
Então era por isso!

Eurekas são molas propulsoras que, às vezes, saltam e desarranjam o arranjado; derrubam o que estava em pé e constroem a partir de escombros. Trazem o que está lá no fundo à tona, para que possa entrar em contato com o oxigênio da consciência.

Então era por isso que o professor Haddock Lobo dava socos contidos, a custo, na mesa, deixando vir, ao palco dos lábios, palavrões só amplificados pelas caixas de sua intenção.
Era daí que desespero, desesperança e descrença brotavam e se debruçavam nas sacadas do seu olhar.
Os tempos eram de escola, no Colégio Rio Branco, em Higienópolis.
Aproximada a hora da aula de História, a sala minguava. Ele sempre se atrasava e, quando chegava, arrastava consigo um ar de desencanto. Desprovido de rapapés, convidava os não interessados a se retirarem. Fazia a chamada antes que saíssem, dando um empurrãozinho na decisão dos indecisos.
Só quando restávamos um punhado de gatos pingados era que ele sorria; um sorriso aliviado, iluminado por pares de olhos arregalados e acesos, cravados nele.
Vibrava ao som do conjunto de corações que batiam descompassados, ansiosos por seus relatos.
Seu sorriso dava duro para se encaixar no senho, que trazia sempre franzido.
O professor Haddock não camuflava o esforço hercúleo para se encaixar, ele mesmo, no senho cerrado da própria vida.

Eu era menina cultivada e mantida muito bem podada, pelo seu Solla, movido a crenças e medos. Era mantida afastada do mundo ameaçador que existia do lado de fora dos portões e muros da casa paterna e daqueles da escola.
Sonhadora, romântica, curiosa, tinha sede e fome de saber e de viver.
Comia pouco, e lia muito. Muitas vezes sentada no telhado de casa, alcançado pelo muro da sacada do meu quarto. Mas essa é outra história.
O professor Haddock plantava em nós a semente da inquietude, enquanto nos escancarava as portas da dor e do desprezo pelos homens.
Confiava em nós.
Contava histórias da História. Falava de gente, não de fato, enquanto se admirava ao ver em nossos olhos plurais, réplicas do próprio desespero, que acreditava singular.
Sentados à mesa de um bar perto da escola, na Avenida Angélica, ingeríamos drágeas de sabedoria a goladas de lúpulo e cevada, e nos mantínhamos alertas para detectar, antes que fosse tarde demais, um olheiro do diretor da escola.
Eu era a única menina à mesa. Ouvia tudo com atenção; entendia pouco.
As partículas do meu cérebro, encarregadas de absorver informação para depois transformá-las em conhecimento, deviam ser muito gulosas; se empanturraram de tal forma que acabaram levando anos e anos digerindo, tanto que ainda hoje, como aconteceu há pouco, uma ficha cai e me deixa assim.

Amado e sempre lembrado professor, onde quer que você esteja, pelas estradas misteriosas e nebulosas de todas as faces da vida, recebe o meu afeto e minha gratidão, porque isso eu tenho para dar, e sei que não vai faltar.

Hoje sei que a dor que sinto tem origem e vem certificada.
Também estou certa de que se uniriam a mim, numa homenagem a você, pelo menos dois outros integrantes da nossa mesa: Chico Solano, meu amigo Francisco, que entre outras peripécias viveu exilado na França durante um dos últimos períodos de retrocesso e de burrice explícita que campeava solta por nossa terra, e o Carlos Rodolfo Tinoco Cabral, meu amigo poema.
Decassílabo.

Um dos meus amigos livros acaba de me revelar que há aproximadamente mil e novecentos anos, a violência preenchia a escuridão dos becos, e não perdoava os lares, na Roma de Trajano.

A multidão babava extasiada e anestesiada entornando o sangue bárbaro que manchou perenemente a arena do Coliseu.

A fauna selvagem rareava na Europa, no Norte da África e no Oriente Médio, para manter saciados os instintos do homem.

No imenso e luxuoso edifício do Senado, construído por J.C. (coincidência?) – o imperador Júlio César -, senadores tomavam decisões que ainda repercutem na tua vida e na minha .

Ali, no Foro de J.C., distanciados da República, asseclas do imperador agradavam e obedeciam ao seu senhor, desfilando barrigas obscenas, cobertas por panos obscenamente caros.

Mestre, mestre querido, você sabia!
Pois saiba que a tua angústia se mantém viva, em mim.

E você, caro leitor-ouvinte, quando foi que teve o último Eureka?

Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.

Maria Lucia Solla é terapeuta e professora de língua estrangeira. Aos domingos, reabre o livro “De bem com a vida mesmo que doa” e o convida a reescrevê-lo. Não a decepcione mesmo que doa

Inferno astral

 

Por Abigail Costa

Meu amigo desfrutava as últimas horas do fumódromo permitido dentro da empresa. Entre uma tragada e outra uma conversa entre virginianos. Como estamos próximos de completar mais um ano de vida, tudo o que não vem dando muito certo é culpa do inferno astral.

– Relaxa! Deixa pra resolver depois. São esses dias!

– Calma! Esse tipo de preocupação vai passar assim que chegar o dia do seu aniversário.

– Sério? Isso existe? De verdade?

Sabe que em determinados momentos é até bom acreditar em horóscopo, meditar nas palavras escritas no adesivo do pára-brisa do carro na sua frente.

“Deus deu a vida para cada um cuidar da sua”.

Essa li outro dia e costumo repetir a frase em tom de brincadeira.

Já pensou se a gente pudesse entregar a nossa vida nas mãos de alguém que durante um tempo zelasse por ela com paciência, amor, carinho, e nos devolvesse com juros, cotação lá nas alturas? Assim como um investidor cuida do nosso dinheiro, vez ou outra? Ações, euro, dólar, imóveis. Não quero nem pensar, faça o melhor por mim.

Acontece isso quando o mundo parece despencar na nossa cabeça. Vem de lá, de cá. Aparecem problemas até no pé da mesa!

Jesus apaga a luz ! Quando acender de novo tudo estará resolvido.

Enquanto ninguém toca na tomada, vou acreditando neste tal Inferno Astral, um jeito malandro que meu amigo me ensinou de ganhar tempo pra pensar melhor. No balanço das contas a gente percebe que alguns problemas não são assim tão urgentes.

Eles aparecem pra testar a nossa fé.

Abigail Costa é jornalista e escreve no Blog do Mílton Jung sem nunca perder a fé

Esse cara eu escolhi para ser meu irmão

Por Abigail Costa

Na sexta-feira, por conta da morte de Zé Rodrix, foi marcada uma entrevista com Ronnie Von. O momento era de tristeza, claro. Mas existia uma ternura nas palavras do Ronnie falando do amigo que o ambiente ganhou leveza.

Chamou-me atenção uma frase dele se referindo ao cantor-compositor-instrumentista-arranjador-publicitário-autor:
– Esse cara, eu escolhi para ser meu irmão!

Caramba! Que forte isso.

Desfrutar da companhia de alguém por décadas, alguém escolhido a dedo;, e em quase 50  anos de amizade, falar isso com a mais pura admiração. Não pela fama, pelas composições ou pelos prêmios conquistados. Falar pela gratidão da amizade. E olhe que a referência aqui são dois homens, senhores de 60 e alguns anos.

Ter alguém que se importe com você.

Ronnie lembrou as boas cobranças:
– E aí meu irmão, já fez o check-up, dizia Zé ?

Ouvi atentamente o amigo-irmão falando do outro por mais de uma hora.  Agradeci a entrevista e nos despedimos.

Levei a frase na cabeça: “escolhi esse cara para ser meu irmão”.

Enquanto pensava, contava: Quantas pessoas elegi como parente?  E quantas ainda se sustentam no poder? Não tive dificuldades em fechar a soma.

Colegas, companheiros, parceiros, esses entram e saem na vida da gente durante quase todo o tempo. Mas, “Os Caras” ? Esses são raros, poucos e bons.

Depois de puxar o traço, me dei conta de um resultado que me enche de orgulho. Eles não chegam a dois dígitos se pensarmos na quantidade. Mas em qualidade não tenho do que me queixar.

E você? Quantas pessoas fazem parte da sua família, por livre e espontânea vontade?

Abigail Costa é jornalista, escreve no Blog do Milton Jung às quintas-feiras e sabe o valor de uma amizade