Passaporte para todos

 

Por Carlos Magno Gibrail

O caso dos passaportes diplomáticos para os parentes de Lula contribui para uma oportuna discussão sobre liberalismo e socialismo na área pública. Silogismo que leva ao nosso velho e conhecido nepotismo. Universal, nacional, público e privado.

Tecnicamente, capitalismo e liberalismo se opõem a socialismo e igualitarismo, donde poderíamos concluir que os regimes socialistas estariam menos propensos ao nepotismo.

Sabemos, entretanto que a experiência não comprova e socialismo não é condição necessária e suficiente para que haja o tratamento igual para todos.

O jornalista Hélio Schwartsman na Folha de sábado dá uma aula sobre o tema, ao lembrar os estudos do psicólogo de Harvard, Steven Pinker.

Pinker, partindo da origem do homem sob o aspecto animal e considerando o instinto do mamífero protetor da prole, estabelece o paradoxo da política:

O ambiente da sociedade moderna que exige justiça, diante desta faceta animal, que leva ao protecionismo dos entes consaguineos.

E, quanto maior o poder, mais suscetível o desequilíbrio e a injustiça.
Além disso, é preciso considerar os genes, que os deterministas insistem em respeitá-los a tal ponto que poderemos criar uma sociedade de inculpáveis.

É o caso do desequilibrado mental que ao cometer um crime, sua defesa se abriga na questão do gene defeituoso que o levou ao delito.
A tal ponto que chegamos à charge da New Yorker : “ O meu marido me batia porque teve problemas na infância. Eu o matei porque também tive problemas na infância”.

O paradoxo da política e o determinismo explicam o nepotismo, fenômeno endêmico de nossa sociedade, pois se alastra em todas as corporações e sistemas onde existem seres humanos. Nos poderes públicos, não escapa nenhum (executivo, legislativo, judiciário), nas empresas privadas (pequenas, médias, grandes) também.

O desafio para a mudança e equilíbrio aponta para a evolução dos genes, que certamente só virá diante de transformações no ambiente.

Ou seja, será preciso estabelecer normas e controles para impedir a tendência natural protecionista que o homem tem demonstrado.

Luiz Inácio da Silva ao transferir aos herdeiros o “Lula da Silva” em seus nomes já sinalizou a proteção e a transferência de poder.

É justo que os herdeiros que nada fizeram recebam as benesses?
Provavelmente uma parte dos mamíferos faria o mesmo.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve às quartas no Blog do Mílton Jung

Ganhos privados em lugares públicos

 

Por Carlos Magno Gibrail

O rendimento mensal médio no emprego público é hoje de R$ 2.494,00, enquanto no privado é de R$ 1.323,00, uma diferença de 188%.

Lula herdou de FHC 156% e manteve, aproximadamente, esta diferença entre público e privado no primeiro mandato, mas a partir de 2006 acentuou o “gap” chegando até os 188% de hoje.

Estes dados obtidos do IBGE e do Ministério do Planejamento balizaram os jornalistas Gustavo Patu e Pedro Soares em reportagem na Folha, onde chamam a atenção pela acentuada tendência do aumento salarial e do crescimento de contingente no setor público.

Ao mesmo tempo, o jornalista Fernando Dantas no Estado informa que a terceirização de mão de obra cresceu 85% de 2006 a 2009 de acordo com o TCU.

Estes crescimentos de gastos foram sustentados pelo desempenho econômico que manteve a gestão Lula dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal, pois o PIB brasileiro , 8º do mundo, avaliza gastos e crescimento.

E gera dispersões e distorções, pois de um lado tal posição da atividade econômica deveria possibilitar remuneração do trabalho privado maior do que a pública. De outro lado, o serviço público poderia ter dado mostras de melhoria, na medida em que oferecendo rendimentos maiores teria maior capacidade e eficiência administrativa.

É por isso que apenas na economia somos 8º do mundo, pois em educação, saúde, habitação, transportes e demais indicadores como IDH, GINI, etc estamos distantes das boas posições.

É por isso também, que é de espantar que diante de desafios tão instigantes, política e políticos fiquem com assuntos privados (aborto, Deus, reajustes corporativos) em funções públicas.


Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve, às quartas, no Blog do Mílton Jung

A imagem deste post é do álbum digital de Mateus Waechter no Flickr

A primeira entrevista a gente nunca esquece

 

Carlos Magno Gibrail

… a gente e a autora, também.

Dilma Rousseff reafirmou ao “Washington Post” o que já tinha externado em sua primeira entrevista como presidente eleita, quando sinalizou uma mudança na política externa brasileira ao definir como “bárbara” a ameaça de um provável apedrejamento contra a iraniana Sakineh Mohammadi de acordo com as leis e tradições locais.

Mais uma vez, coube ao tradicional jornal americano o mérito de estampar tão importante indício, publicando a fala sobre o apedrejamento, e que, certamente, repercutirá internacionalmente assim como aconteceu ontem na imprensa nacional:

“Não sou presidente do Brasil, mas me sentiria desconfortável, como uma mulher eleita presidente, em não dizer nada contra o apedrejamento. Minha posição não vai mudar quando eu assumir. Não concordo com a posição brasileira. Não é a minha posição.”

“Não concordo com práticas que tenham características medievais contra as mulheres. Não há nuances. Não vou fazer nenhuma concessão nessa matéria”.

As mulheres são de Vênus e os homens de Marte?

Vejamos o que o presidente Lula disse sobre o mesmo tema:

“Se começassem a desobedecer às leis deles para atender aos pedidos dos presidentes, daqui a pouco haverá uma avacalhação”.

No momento em que a Suíça quebra a isonomia democrática, com o tratamento dado aos imigrantes após plebiscito nacional, e Holanda, Itália e Dinamarca se tornam precursoras de um fantasma que assombra a Europa, designado de fascismo suíço por Vladimir Safatle em seu artigo de ontem na Folha, é imprescindível que o Brasil se apresente de forma enérgica em defesa dos Direitos Humanos.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve às quartas-feiras no Blog do Mílton Jung

Cochichos e recados nos caminhos do Morumbi 2014

 

Direto de Roma/Itália

Toda vez que o presidente Lula abre a boca pra falar de Copa, o projeto Morumbi’14 sai da gaveta novamente, onde está guardado com pastas e documentos importantes que podem decidir o destino do estádio de São Paulo.

No lançamento do estranho logo para o Mundial do Brasil, Lula passou recado ao prefeito da capital paulista Gilberto Kassab (DEM), que está na África sob a alegação de que precisa conhecer programas e soluções desenvolvidas por aquelas cidades.

Kassab foi, na verdade, fazer política, não planejar.

As constatações do prefeito de que São Paulo não deve nada ao sistema de transporte de Johannesburgo e seria impossível construir um Soccer City com dinheiro público poderiam ser feitas de dentro do gabinete dele, no Viaduto do Chá. Haja vista que ao planejarem a Copa da África, as autoridades sul-africanas foram a São Paulo, especificamente na região do ABD paulista, passaram por Curitiba e esticaram viagem a Bogotá, na Colômbia, para entender como transportar passageiros com qualidade. Devem ter ficado presos em congestionamentos na cidade de São Paulo, onde não se investe em corredores de ônibus, há bons anos.

E como Kassab foi fazer política, voltará da África com o recado do presidente lhe coçando a orelha: “Continue a brigar pelo Morumbi” – está no Blog de Cosme Rímoli, em 08/07/10.

Há pouco mais de um ano, em outro cochicho nem tão baixo assim, Lula falou ao Ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, durante cerimônia no estádio do Morumbi: “Diga ao Ricardo (Texeira) para parar de falar m…. . É preciso baixar a crista dele. O Morumbi é o estádio de São Paulo para a Copa” – descreveu Juca Kfouri em 24/06/09

Pode parecer uma contradição (mas só a quem mantém a visão ingênua de que tudo é uma questão de preferência clubística), o corintiano Lula tem sido o “Embaixador do Morumbi” desde o primeiro minuto de jogo e seu esforço aumentou após encontro com o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio – o mesmo que ao assinar nota em resposta a exclusão do estádio da Copa, ameaçou: “A Justiça é filha do Tempo. O Tempo é o Senhor da Razão. O Tempo dirá. E nós também” (16/06/10). Dirá o quê ?

Há quem não consiga dissociar a frase final daquela nota com o comentário presidencial, na cerimônia africana, de que o Brasil é feito de gente que não desiste nunca. Disse isso em uma das três vezes nas quais citou nominalmente Ricardo Teixeira, durante a cerimônia. Mais do que um slogan, um alerta ?

Destacou, também, o necessário combate a corrupção na Copa 2014. Quando, aliás, não será mais presidente do Brasil: “pode contar comigo no que for necessário” – fez questão de avisar a Teixeira.

Terça-feira (07/07/2010), já em solo africano, em outra das suas frases, Lula não foi descuidado na fala: “Se a CBF adotasse o que eu adotei quando era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, a cada oito anos a gente trocava a direção da CBF. No sindicato a gente trocava”.

Quanto a Kassab, não-alheio a discussão, voltará a São Paulo talvez com a bagagem vazia de projetos urbanísticos, mas com um aparente alívio: poderá reaproximar seu discurso pró-Morumbi ao do Palácio dos Bandeirantes, de onde se ouvia dos corredores críticas pesadas contra o alcaide. E, ao mesmo tempo, costurar com investidores a construção do Plano B, ou P, o Piritubão.

Desembarcará em São Paulo, com um pé em cada estádio.

Por enquanto, vizinho do Palácio, Juvenal Juvêncio só abre a gaveta de seu escaninho, cheia de pastas e documentos, pra remexer no projeto de reforma do estádio do Morumbi.

É das conversas ao pé de orelha, bate-papo nos bastidores e recados indiretos que se constrói o caminho para São Paulo ser sede da abertura da Copa do Mundo de 2014. Ou qualquer outra coisa que tenha o mesmo valor.

De Chacrinha a Lula, filhos de Pernambuco

 

Por Carlos Magno Gibrail

Lula e Chacrinha

Conceitos e preconceitos, dicotomias e isonomias, talvez expliquem o talento de comunicação destes dois pernambucanos cultos e sem erudição.

De Chacrinha, vimos a consagração com o título de “professor honoris causa” da Faculdade da Cidade, as inúmeras teses e dissertações acadêmicas que analisam seu desempenho na área de comunicação, ou ainda as homenagens como a de Gilberto Gil, em “Aquele abraço” (…o Velho Guerreiro balançando a pança e comandando a massa...). Atestados de sucesso.

De Lula, os 72% de aprovação em fim de mandato ou a Copa 2014 e a Olimpíada 2016, ou ainda “That is the man”, que sinalizam uma eficiência inquestionável em comunicação.

Chacrinha, radialista vigoroso; Lula, sindicalista agressivo; começaram as carreiras estribados em intensa comunicação com estilos próprios e carismáticos. Quase sempre no limite entre a ética padrão e a manutenção da personalidade.

Do “Velho guerreiro”, segundo ele próprio, acima de tudo um ouvinte de rádio e radialista extremado, temos:

– “Quem não se comunica se trumbica”
– “Eu vim para confundir e não para explicar”
– “Vocês querem bacalhau?” Campanha para seu patrocinador Casas da Banha, quando desovou um enorme
encalhe de bacalhau, apostando na premissa que brasileiro adora um presentinho.

Abelardo, o pernambucano de Surubim, tinha consciência que sua mensagem era popular, e entre o padrão vigente na mídia a uma linguagem direta com seu público, não hesitava em optar pelo rudimentar.

O homem de Garanhuns, recentemente em São Luiz do Maranhão não teve dúvida em usar termo inapropriado para o cargo de Presidente da República. Disse que “vai tirar o povo da merda” e foi ovacionado.

Segunda-feira, Mílton Jung sob o título “Não basta governar, tem de parecer e comparecer” analisou ação e comunicação no episódio das enchentes na capital paulista, do Prefeito Kassab, um político erudito. Economista pela FEA USP e engenheiro pela POLITÉCNICA USP, lastreado por moderno equipamento de Marketing agiu de forma elitista. Falou para letrados e compareceu tarde aos locais acidentados pelas enchentes.

Milton cita opinião do Prof. José de Souza Martins da Filosofia da USP publicada domingo no Estadão, que comparou o Prefeito e as chuvas com o Presidente e o palavrão : “Kassab se revelou mau ator porque seguiu à risca o roteiro de seu desempenho como prefeito, pois não compreendeu em tempo que o cenário havia sido mudado, dominado agora pelas apreensões e emoções do desastre. Lula, por seu lado, revelou-se bom ator, ainda que incorreto na expressão que usou, justamente porque violou o roteiro prescrito para quem governa”.

 

Parece que o Professor Martins tem razão, pois ontem o G1 da Globo publicou : “Lula rouba a cena com discurso divertido e emocionado no Prêmio Brasil Olímpico”. Deixou o calhamaço contendo o discurso programado de lado, e de improviso divertiu a plateia preponderantemente de atletas, com linguagem adequada ao momento sem se distanciar do estilo pessoal.

Ao se aproximar o ano eleitoral será oportuno que os políticos cuidem de si, ao invés de apontar erros e defeitos dos adversários.

As propostas devem privilegiar tanto conteúdo quanto forma e não podem deixar de considerar as características de cada um. Se culto, habilitar a erudição, se erudito habilitar a cultura. E plagiando Milton, não basta se candidatar, tem de parecer e comparecer.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda, escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas, e assistiu ao Chacrinha na TV

Não basta governar, tem de parecer e comparecer

 

Kassab no Aliás

Sempre atento ao que sua área de marketing e comunicação indicam, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) errou feio na administração da crise provocada pela enxurrada das últimas semanas. Demorou para reagir no dia do temporal que parou a cidade a ponto de ter aceitado participar de evento de lançamento do torneio internacional de futebol feminino, enquanto milhares de paulistanos eram reféns da falta de estrutura da cidade. Ao falar, já quase ao meio-dia quando boa parte dos moradores havia perdido a terça-feira, tentou negar o que as imagens escandalosamente mostravam na televisão: a cidade vivia um caos.

Dias depois, novo tropeço de comunicação. Abandonou o Jardim Pantanal a sua própria sorte e ao ser cobrado pela sua ausência justificou que havia visitado a área três vezes. De helicóptero. Pior é que olhando lá de cima, avaliou errado ao sugerir uma impossível estratégia de sugar a água que teve de ser cancelada um dia após sugerida.

“Economista e engenheiro, Kassab reagiu de acordo com os parâmetros dessas profissões e com a mentalidade de sua classe social. Ao fazê-lo, expôs o abismo que não raro separa o poder e o povo”

A opinião é do professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP José de Souza Martins publicada em artigo no caderno Aliás, do jornal O Estado de São Paulo, deste domingo.

Martins também compara o comportamento de Kassab com o do presidente Lula que disse querer “tirar o povo da merda”, durante evento em São Luis do Maranhão, tendo sido ovacionado apesar de se valer de expressão pouco apropriada para o discurso do maior mandante do País .

“Kassab se revelou mau ator porque seguiu à risca o roteiro de seu desempenho como prefeito, pois não compreendeu em tempo que o cenário havia sido mudado, dominado agora pelas apreensões e emoções do desastre. Nem sempre os governantes entendem com a rapidez necessária a pauta cambiante do poder para falar e agir de conformidade com a conduta que o momento pede e a única que pode ter sentido naquela circunstância. Lula, por seu lado, revelou-se bom ator, ainda que incorreto na expressão que usou, justamente porque violou o roteiro prescrito para quem governa”.

O prefeito de São Paulo cometeu o mesmo erro de sua antecessora Marta Suplicy (PT) que no último ano de governo, em 2004, estava de férias em Paris, enquanto a cidade encarava mais um dia de enchente. Uma falha de comportamento inexplicável para a administradora que antes era elogiada por suas aparições nos cenários de crise: incêndio em favela, bairro alagado ou deslizamentos de terra.

Apenas para continuarmos em São Paulo, o governador José Serra (PSDB) também foi cobrado pelo sumiço no combate a crise no Jardim Pantanal atingido pelas águas do Tietê e pela ineficiência da Sabesp. Tinha a desculpa de que estava na Conferência do Clima, em Compenhangen, Dinamarca. Não devemos nos esquecer, porém, que em seu primeiro mês de governo também pecou pela ausência durante o acidente que matou sete pessoas no Metrô, em Pinheiros. Demorou mais de 24 horas para deixar o Palácio dos Bandeirantes e descer até o local da tragédia ali pertinho.

Jornalista entrega trabalho de mestrado ao presidente Lula

 

Conversei com a jornalista Eliana Calixto de Campinas na redação da CBN, em São Paulo. Havíamos marcado entrevista para falar sobre o programa Café com o Presidente, criado pela área de comunicação do Governo Lula, tema do trabalho de mestrado realizado por ela na Faculdade Cásper Líbero. A tese que defendeu é de que a ação governamental também pode ser considerada jornalismo. Tinha lá minhas dúvidas, principalmente levando em consideração a experiência que temos de projetos de comunicação na área pública.

Seja como for, fiquei surpreso a perceber a personalidade de Eliana que após a conclusão do trabalho de mestrado decidiu ir a Brasília entregar seu projeto nas mãos do presidente. Isto ocorreu, nessa quarta-feira (08.12), no Centro Empresarial Brasil 21, onde se realizava a entrega do Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar, com a presença do presidente.

Eliane aproveitou o fim da cerimônia para se aproximar de Lula, chamou atenção do presidente e, além de entregar o livro ao próprio, ainda foi convidada pela equipe do Blog do Planalto para gravar um depoimento.

O resultado da pesquisa dela está no site da Faculdade Cásper Líbero.

“Tempo de política” retrata eleição no interior do Brasil

 

Lula avisou que a divisão da base do governo nos estados prejudica campanha de Dilma em 2010. Alerta assim para um problema sobre o qual ele conhece bem. Sabe da dificuldade de construir “palanques” em várias partes do Brasil. São desavenças familiares que separam os que deveriam ser aliados políticos; políticos ameaçados de morte por grupos que disputam currais eleitorais; eleições passadas que deixaram sequelas permanentes. Nem sempre somos capazes de entender estas diferenças que distanciam os que deveriam ser próximos e aproximam os distantes.

Interessada em entender a influências das políticas locais. a estudante de jornalismo da USP Amanda Rossi esteve em cinco cidades pequenas de quatro estados, durante um mês, na campanha de 2008. Conheceu Limoeiro e João Alfredo, em Pernambuco, Itabaiana no Sergipe, Delmiro Gouveia em Alagoas e Januária em Minas Gerais, municípios nos quais identificou peculiaridades na participação política.

Ficou impressionada com a quantidade enorme de moradores da cidade de Itabaiana que foram as ruas todos os dias para participar da campanha eleitoral. Surpreendeu-se com o toque de recolher decretado ilegalmente no interior alagoano. E conheceu a importante participação de um ONG para tornar mais limpa e transparente a política em Januária.

As reportagens com texto, fotos e vídeos estão no site “Tempo de Política” que ganhou este nome pois é a expressão usada nestas cidades interioranas para definir o período eleitoral. “A política – que em essência se manifesta nas relações cotidianas em todo lugar p ganhas nas eleições um tempo e um local definido. A democracia vira sinônimo de voto a cada dois anos”, diz na descrição do projeto.

O trabalho de Amanda é uma aula para quem planeja a cobertura eleitoral do ano que vem e gostaria de ir além da cobertura política realizada pelos grandes meios de comunicação que se restringe ao eixo DF-RJ-SP e, quando muito, estica o olhar para MG-RS, não conseguindo oferecer ao cidadão uma foto fiel do cenário político brasileiro.

Vinte anos de eleição presidencial

 

Por Antônio Augusto Mayer dos Santos

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A eleição presidencial que completa 20 anos neste mês de novembro foi regulamentada quando o jogo já estava rolando, mais precisamente em junho daquele ano. Já a eleição de 2010, a primeira pós-89 sem uma candidatura Lula da Silva no páreo, terá regras que foram fixadas em outubro passado (Lei nº 12.034/09).

Ou seja: um Impeachment e quatro eleições presidenciais depois, não há possibilidade de casuísmos ou sobreposição de interesses por parte dos que lideram as pesquisas no ano eleitoral. Isto é muito importante.

Relativamente a data, lembra-se ao leitor que o primeiro turno de 1989, marcado pela restauração da plenitude democrática no país, ocorreu no dia 15 de novembro, Dia da República, no ano do seu centenário. O pleito seguinte, de 1994, recaiu em 3 de outubro, Dia do Petróleo Nacional e da última eleição direta para Presidente da República (1960). A contar de 1998, elas ocorrem, em primeiro turno, sempre no primeiro domingo de outubro. Esta data fixa e permanente facilita a organização do processo eleitoral pois a mesma não recai em meio de semana ou feriado.

Quanto à distribuição dos horários gratuitos de rádio e televisão, sabidamente essenciais a qualquer candidatura, especialmente para Presidência da República, os minutos de cada partido ou coligação estavam atrelados às representações no Congresso Nacional (soma dos parlamentares da Câmara e do Senado) daquele momento de 1989 (junho, quando Collor já ostentava significativos 37,7% dentre as intenções de voto). Ou seja: as adesões se incrementavam conforme os percentuais adquiriam musculatura.

No entanto, para 2010, este critério se revela muito mais rigoroso e mesmo coerente porque decorre do resultado eleitoral da eleição parlamentar anterior (2006) e está vinculado apenas à representação da Câmara dos Deputados, excluído o número de Senadores. É importante ter claro que o que vale agora é a vontade eleitoral manifestada no pleito anterior e não o número de Deputados Federais por partido na data da posse ou da elaboração da lei, como ocorria antes.

Outra distinção fundamental a ser relacionada é que em 1989 as entidades ou empresas que realizassem prévias, pesquisas ou testes pré-eleitorais estavam obrigadas a colocar à disposição, sem data específica e apenas dos Partidos Políticos com candidatos registrados ao pleito, os resultados obtidos, assim como as informações sobre os métodos utilizados e a fonte financiadora dos trabalhos. Ou seja: as informações eram rigorosamente restritas, o que praticamente impedia uma providência preliminar apta a impedir algum dano à verdade ou lisura do pleito.

Atualmente é praticamente incomparável. Empresas e entidades estão obrigadas a registrar na Justiça Eleitoral, para cada pesquisa feita a partir de 1o. de janeiro do ano eleitoral, até cinco dias antes da sua divulgação, as referidas informações. Esta exigência, introduzida a partir de 1994, a par de viabilizar o acesso dos dados ao Ministério Público, demais Institutos e candidatos, permite a impugnação da própria pesquisa.

Na prática, isto significa uma garantia de lisura pois se sabe que os eleitores, sobretudo daqueles colégios eleitorais que apresentam elevados índices de analfabetismo, baixa renda e desemprego, sofrem influência emocional dos números.

Admita-se, hipoteticamente, a possibilidade de uma pesquisa de dimensões nacionais viciada ou clandestina na iminência do pleito. Ora, ela pode influenciá-lo decisivamente, determinando a eleição de um candidato que, nesta circunstância, tenha se valido de fraude ou abuso. Daí esta necessidade absoluta de registros e checagens prévias para que ela possa ser amplamente divulgada.

Peculiaridade muito interessante é que em 1989 os outdoors eram livres para uso eleitoral, sendo destituídos de maiores limitações (de espaço, localização, distância, etc). Porém, se nas eleições de 1998 e 2002 eles sofreram algumas limitações, sendo inclusive sorteados pela Justiça Eleitoral, em 2006 os mesmos foram proibidos, o que, sem dúvida, significa um retumbante retrocesso.

Contudo, o que mais impressiona neste período de erros e acertos nas escolhas, é a evolução dos procedimentos relacionados à votação e totalização dos resultados. Em 20 anos, o voto manual em cédula de papel foi substituído pela urna eletrônica. Quanto aos resultados, na eleição presidencial de 1989, a apuração do primeiro turno onde 74.280.909 eleitores votaram, foi encerrada pelo TSE somente quase duas semanas depois.

Nas eleições de 2006, quando aproximadamente 126 milhões de brasileiros compareceram às urnas para eleger 1.627 candidatos (1 presidente da República, 27 governadores, 27 senadores, 513 deputados federais e 1.059 deputados estaduais ou distritais), a votação terminou às 17h e às 21h45 90% dos votos de todo o país já estavam totalizados.

Para 2010 a expectativa do TSE é reduzir ainda mais este tempo.


Antônio Augusto Mayer dos Santos é advogado especialista em direito eleitoral e autor do livro “Reforma Política – inércia e controvérsias” (Editora Age). Às segundas-feiras escreve no Blog do Mílton Jung.