Avalanche Tricolor: memórias e emoções de um guri, em Curitiba

Grêmio 0x1 Inter

Brasileiro – Couto Pereira, Curitiba/PR

A fumaça recepciona o time no Couto Pereira em foto Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Passavam das 11 da noite e um guri descia a escada rolante do hotel em que fiquei hospedado, neste fim de semana, em Curitiba. Por coincidência, o mesmo que a delegação gremista havia usado como concentração para o clássico de sábado. Chamou-me a atenção o fato dele ostentar a camiseta branca, de dimensões muito maiores do que seu corpo, que faz parte do segundo uniforme do Grêmio Parecia orgulhoso pelo troféu que, provavelmente, havia conquistado minutos antes das mãos de um dos nossos jogadores. Desconfio que tenha sido Rodrigo Ely quem fez a alegria daquele menino. Ao menos, era esse o nome estampado nas costas.

Vi o guri e lembrei dos muitos outros que havia encontrado mais cedo no trajeto que fiz até o estádio Couto Pereira, na capital paranaense. Nem todos vestiam tricolor. Alguns poucos estavam de encarnado. A maioria andava de mãos dadas ou ao lado de seus pais e mães, talvez tios e tias,  avôs e avós. Estavam prestes a vivenciar um dos maiores clássicos do futebol brasileiro.

Diante do acontecido, que a essa altura já é de conhecimento do caro e cada vez mais raro leitor desta Avalanche, nem todos tiveram a satisfação do grito de gol. Tenho certeza, porém, que experimentaram momentos que poucas atrações na vida proporcionam. A atmosfera do estádio, com a vibração das torcidas, os cantos e gritos de incentivo, a fumaça que toma conta do campo para recepcionar a entrada dos times, cria um ambiente contagiante e mágico.

Guris e gurias que presenciam essa energia coletiva sentem-se parte de algo grandioso, criando um senso de pertencimento e companheirismo. A observação dos jogadores em campo com suas habilidades (nem todos, né), estratégias (dos times que as têm) e trabalho em equipe (às vezes em falta), serve como uma aula prática de esportividade, determinação e cooperação.

A experiência vai além do jogo em si. A emoção de torcer para um time, a tensão das jogadas decisivas e a celebração dos gols (quando ocorrem) proporcionam uma montanha-russa de sentimentos que ensina a lidar com vitórias e derrotas. Assistir a um jogo ao vivo também promove momentos inesquecíveis de conexão entre pais e filhos, amigos e familiares, fortalecendo laços e criando memórias que serão guardadas para a vida toda.

Muitas dessas lembranças, emoções e sentimentos vivenciei ao lado do meu pai. E, por graça e obra do Grêmio, os compartilhei com os meus filhos. No sábado, o mais velho estava ao meu lado. Foi ele quem, sabendo de minhas memórias afetivas, me alertou para um dos rostos estampados em um dos muros do estádio do Coritiba: era uma homenagem a Ênio Andrade, campeão brasileiro pelo time paranaense em 1985. 

Seu Ênio foi de suma importância para minha formação. Ajudou-me na relação com meu pai. Deu-me lições de vida, a partir das perguntas que me fazia e do carinho com que me tratava. Adotei-o como padrinho, mesmo que ele nunca tenha sabido disso em vida. Tinha consciência, porém, de seu papel educador diante daquele guri que frequentava o Olímpico quase sempre ao lado do pai.

Foi aquele menino, alertado pelo filho mais velho, que correu até o muro verde em que estava a imagem do Seu Ênio, deu-lhe um abraço, registrado em foto, e se emocionou como uma criança diante de seu ídolo. Instantes que usufruí com a mesma alegria que conduzia o guri na escada rolante vestindo a camisa de um jogador de futebol e de todos os outros que estiveram no estádio Couto Pereira, neste sábado. E o fiz porque só o futebol tem a capacidade de me levar de volta a um tempo de inocência e alegria genuína.

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