Desemprego ganha Nobel

 

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Por Carlos Magno Gibrail


À sabedoria da natureza, que demonstra em seus sistemas que a cura do mal pode ser feita pelo próprio mal, alia-se agora o Prêmio Nobel de Economia.

O Modelo DMP de Peter Diamond do MIT, de Dale Mortensen da Northwestern University e de Christopher Pissarides da London School of Economics, desenvolveu a teoria econômica que apontou a flexibilização do mercado de trabalho para estimular e melhorar a geração de empregos. Isto é, facilitar as demissões irá facilitar as admissões, principalmente se o desemprego não for estimulado com auxílios duradouros.

É um prato e tanto para ser saboreado por Dilma e Serra neste momento de obscurantismo em que o debate presidencial está se encaminhando.
Um pouco amargo talvez para o senador republicano Richard Shelby que impediu a nomeação de Peter Diamond para o FED Federal Reserve, feita por Obama.

O presidente americano certamente buscou Diamond para um dos sete postos do conselho de diretores do Fed e de seu Comitê Federal, que define as taxas básicas de juros, influenciando a atividade econômica e a inflação, porque já sabia o que o economista Paulo Krugman escreveu em sua coluna no The New York Times sobre o trabalho de Diamond: “Trabalho fundamental sobre todo o tema da relação entre o desemprego e a taxa de emprego”.

Uma das conclusões dos premiados do Nobel, é que o mercado de trabalho não funciona como o de produtos, pois oferta e procura não atuam como no caso clássico. Não se encontram na mesma velocidade e com os mesmos custos. Não se amolda também da mesma forma, pois os trabalhadores não estão dispostos a baixar salários na mesma medida que os produtos. Além disso, a mão de obra está sujeita a desmotivação e quando se reemprega pode não desempenhar o suficiente para preencher a necessidade da função.

Na Europa, John Van Reenen, chefe de Pissarides na London School, relata que “ele demonstrou que as regulações do mercado de trabalho, as barreiras ao ingresso no mercado de novas empresas de serviços, as políticas fiscais e previdenciárias afetam as disparidades do emprego em todo o mundo”.
Pissarides defendeu normas mais flexíveis a serem implantadas na Europa e ganhou. Mas não levou, pois segundo Van Reenen: “Essas normas se baseiam nos princípios econômicos corretos, mas que as maiores barreiras à sua implementação decorrem da ausência de vontade política”.

O jornalista econômico Philip Inman do The Guardian reproduzido no Estadão de ontem, discorda: “Esses princípios econômicos “corretos” foram abandonados porque afetam os eleitores comuns”.

A observação importante para os BRICS é que ficam mais fáceis mudanças em início de desenvolvimento do que com estruturas antigas estabelecidas. É uma área em que temos chance de ficar em melhor posição que Rússia, Índia e China. Ou vamos continuar discutindo crenças e normas religiosas?

Obs. A Dinamarca (veja artigo de 17/12/08) comprova a possibilidade da flexibilização.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve às quartas no Blog do Mílton Jung

Imagem de Timothy Vogel do álbum digigital no Flickr

8 comentários sobre “Desemprego ganha Nobel

  1. Curioso é ver que um tema desta importância move poucas pessoas. E isso talvez explique a falta de manifestação por parte dos candidatos à presidência da República. Nenhum deles tem coragem de mexer nesta questão por mais necessária que seja. As mudanças são tão evidentes que o próprio mercado por conta própria toma suas medidas. As relações trabalhistas têm mudado à revelia da legislação. Precisaremos de um Getúlio Vargas para revolucionar as leis ? Na época dele, o regramento era necessário; hoje, precisamos revê-lo, urgentemente.

  2. Conrado Luiz, é realmente uma boa indagação se Dilma e Serra não tocam nos assuntos realmente macros e essenciais ao país porque ainda não possuam planos , ou porque como marketing seria uma perda de tempo.
    Como sabemos apenas Marina apresentou o Plano de Governo obrigatório por lei antes das elelições.

    Prezado Conrado agradeço a sua participação e endosso suas palavras.

  3. Carlos,

    Seu artigo é sofisticadíssimo e atualíssimo. Neste caso, as partes estão no tempo jurássico. O mais forte é guloso e o mais fraco morre de medo de ser devorado. Faltam evolução e cultura para ambas as partes.

  4. Beto, o prèmio Nobel deverá trazer alguma luz à essa premissa do mercado de trabalho.
    Sabemos que a CLT é uma peça importante mas que precisa se atualizar.
    A crítica mais severa devemos a Dilma e Serra que se envolveram com a religião fazendo com que fizéssemos um tremendo retrocesso na qualidade dos temas a serem discutidos. Perderam a oportunidade de levantar questões pertinentes como essa.

  5. Carlos,

    As maneiras baixas que estão usando para conquistar votos, me levam a crer que, o primeiro que levantar esta bandeira será acusado pelo concorrente de ser a favor do patrão e contra o trabalhador, com apelações marketeiras mais baixas ainda.

  6. Em tempo:

    -ABORTO
    -EX-ASSESSORA
    -EX-CRÍTICO POLÍTO QUE SE TORNOU ALIADO

    Três das quatro perguntas feitas pelos renomados jornalistas do principal telejornal do país, na primeira das duas entrevistas pós primeiro turno. Quem quiser saber sobre os planos de governo dos dois postulantes, que se vire!

  7. Beto,comentário 5
    Um dos problemas de baixar o nível e regredir uns 50 anos como neste caso da campanha entre Dilma e Serra é que podemos nos habituar com tal pobreza.
    Ou criar atalhos como o do Tiririca, tão irresponsável como ignorar os reais pontos importantes para a nação.

  8. Beto, comentário 6
    Quanto ao aborto , é incrível que Serra está se esquecendo que o jornalista Boris Casoy causou provávelmente a perda da eleição para a prefeitura de São Paulo ao FHC.
    Perguntou então se o FHC acreditava em Deus, o que na véspera tinha combinado com o mesmo que não iria colocar esta pergunta no ar.

    Na minha opinião estas perguntas não são originadas por ignorância, mas sim por total oportunismo pelo jornalista, que evidentemente acha que pode aparecer e se destacar.

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