A multidão tem seus braços voltados para a cena que se desenrola ali na frente e na ponta dos dedos manipula o celular captando a imagem que será compartilhada imediatamente com um sem-número de pessoas. São centenas de imagens sendo registradas ao mesmo tempo e espalhadas para diferentes pontos até onde sua rede social alcança. A verdade ainda não é conhecida, o que não impede que comentários se multipliquem para diversas plataformas ajudando a construir a opinião pública (o que é mesmo que está acontecendo ali?).
O acesso simplificado à tecnologia e a facilidade com que nos conectamos em rede permitem que o cidadão conte os fatos a partir de seu ponto de vista e construa sua própria história, influencie pensamentos e se transforme em fonte da informação. Uma quebra de hierarquia em sociedades que se acostumaram a ter nos meios de comunicação o monopólio da notícia. Este empoderamento, que democratiza os debates e mobiliza a sociedade, não significa que o cidadão é um jornalista. Ele seguirá cidadão, mais forte e influente, e o jornalista permanecerá com seu papel de cobrir os assuntos, levantar as mazelas, cobrar mudanças, identificar exemplos e buscar a verdade que se constrói na investigação e não apenas no primeiro olhar. Tem obrigação de mediar as forças envolvidas, encontrar o equilíbrio que ajuda a esclarecer e assumir a responsabilidade da publicação, respondendo pelo que diz, mostra e escreve.
Jornalistas e jornalismo devem respeitar a força da informação em rede, estruturada pelo somatório de fatos registrados pelos cidadãos em diferentes meios, mas jamais temê-la. Quem souber melhor dialogar com esta sociedade, usufruir desta massa de informação à disposição e ofereccer a ela conteúdo qualificado e diferenciado vai se sobressair. Esta fórmula funcionará seja nos meios tradicionais de comunicação seja nos novos formatos que estão para surgir. Nada impedirá que o jornalista seja autor e autoridade, pois também não dependerá exclusivamente desse veículos para transmitir seu conhecimento. Formas de financiamento compartilhado já existem para sustentar a realização de reportagens e coberturas. E mais uma vez, independentemente de toda tecnologia desenvolvida, o que fará diferença é a credibilidade. Enquanto soubermos cultivá-la com nosso trabalho, o jornalista e o jornalismo persistirão. E o cidadão estará ainda mais fortalecido.
A imagem deste post é do Flickr da Fundacion CiberVoluntarios

É isso mesmo, Milton.
Não é fácil, pois até matérias de fontes com credibilidade as vezes são replicadas sem maior análise. Como ninguém é infalível, se contiver erros o repassador fica mal.
Por exemplo, na terça a FOLHA divulgou pesquisa Datafolha sobre o Minhocão. Esta pesquisa ignorou a segmentação de moradores. É tão grotesca quanto o Minhocão. Prato cheio para quarta-feira.
Prezado Carlos, apesar de estar fora do tema principal, não querendo defender o Instituto, mesmo porque este tem sólida qualificação e tradição para os trabalhos executados, mas acredito que consultar a população local seria uma forma de tendenciar a pesquisa.
O local é um ponto de referência tradicional e pelos depoimentos divulgados pela imprensa, os moradores locais apreciariam a ideia de transformá-lo em área de lazer. Ponto identificado na pesquisa.
Mas, também concordo com a afirmação de que a pressa, muitas vezes, faz vítimas na desinformação e a imprensa tem que ser tão rápida no filtro da informação quanto a velocidade com que as tecnologias podem alcançar.
A participação do ouvinte e cidadão é admirável e deve ser incentivada.
Prezado Rafael, o que o Datafolha fez, bem comparando com uma pesquisa sobre produto, foi dar o resultado da pesquisa não distinguindo quem usa o produto, quem gosta do produto e quem rejeita o produto.
Foi tão grosseiro o erro que um colunista, jornalista premiado, e da casa FOLHA colocou a sua coluna para corrigir a falha.
O problema que a maioria da mídia agiu como papagaio, e alastrou a informação. Bem fazia o Delfim que vivia chamando atenção para tomar cuidado com as pesquisas. Para o bem e para o mal.
Amanhã, meu caro, darei mais detalhes aqui mesmo no BLOG do MILTON JUNG.
Creio que o melhor comentário sobre o teu texto que posso fazer é este:nada a acrescentar nem mesmo forçando a barra.