
A entrevista com o prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico, nesta manhã de segunda-feira, no Jornal da CBN, trouxe à tona memórias e emoções profundas. A cidade, ainda despertando de mais um pesadelo, teve sua área rural devastada pelas fortes chuvas e passou a madrugada sob o impacto de um tremor de terra que, segundo relato de moradores, durou cerca de meia hora.
Caxias do Sul não é apenas um ponto no mapa; é um lugar de recordações pessoais vividas quando criança, durante as férias escolares, sempre ao lado dos Ferretti. Foi lá que meu bisavô, Seu Vitaliano, viveu. Foi lá que nasceu minha avó, Ione, e para lá que ela voltou apenas para parir meu pai. Das muitas lembranças, recordo das Tias Ema e Olga, esta última residia no casarão de madeira da Nove de Julio. A avenida, famosa pelo desfile da Feira da Uva, é um símbolo de momentos felizes da minha infância.
Adolescente, retornei a Caxias para jogar basquete com os amigos do Recreio da Juventude, clube esportivo e social da cidade. Essas experiências construíram uma conexão forte e duradoura com a região, tornando a entrevista desta segunda-feira especialmente tocante.
Durante a conversa, vários sentimentos se misturaram. O prefeito lembrou que Caxias do Sul era o maior produtor de hortifrutigranjeiros do Rio Grande do Sul, e as recentes calamidades dificultaram o acesso aos centros de consumo devido aos bloqueios nas rodovias. Desde o início, áreas de risco foram evacuadas e passagens foram abertas nas regiões de deslizamento para permitir o trânsito de veículos e o transporte de mantimentos para as famílias ilhadas.
Ouça a entrevista completa com o prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico
Cobrir essa tragédia em Caxias do Sul, mesmo à distância, é um desafio que vai além do profissional, evocando lembranças de tempos passados. Cada relato faz com que eu sinta a dor da comunidade como se fosse minha, reforçando a importância de uma cobertura empática e comprometida com a verdade e a solidariedade.
Manter o equilíbrio e a frieza jornalística em momentos como esse é uma tarefa complexa. Esforço-me para imaginar o que estão sofrendo os colegas jornalistas que presenciam a tragédia no “campo de batalha”. Muitos deles gaúchos como eu. A psicologia dessa cobertura exige um controle emocional que nem sempre é fácil de alcançar. É aqui que os ensinamentos de estudiosos do jornalismo se tornam particularmente valiosos.
Philip M. Seib, em “Broadcasts from the Blitz: How Edward R. Murrow Helped Lead America into War”, discute como jornalistas precisam equilibrar empatia e profissionalismo durante a cobertura de crises. Ele ressalta a importância de preservar a objetividade enquanto se reconhece o impacto emocional das histórias que estão sendo cobertas. Isso se aplica diretamente à minha experiência ao entrevistar o prefeito de Caxias do Sul, onde cada palavra e expressão trazia à tona uma mistura de sentimentos pessoais e responsabilidades profissionais.
Para abordar a necessidade de equilíbrio emocional no jornalismo, a obra de Anthony Feinstein, “Journalists under Fire: The Psychological Hazards of Covering War”, oferece uma análise detalhada dos efeitos psicológicos que os jornalistas enfrentam ao cobrir conflitos e desastres. Feinstein destaca a importância de intervenções psicológicas e de apoio profissional para ajudar os jornalistas a lidarem com o trauma e o estresse associados a essas coberturas.
Adicionalmente, os ensinamentos de Dan Harris, jornalista e autor do livro “Dez Por Cento Mais Feliz” — que já foi referência neste blog — são especialmente úteis. Harris defende a prática da meditação como uma ferramenta para melhorar a saúde mental e emocional, lição que aprendeu duramente após sofrer “panes” enquanto apresentava telejornais nos Estados Unidos. A meditação ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade, proporcionando uma maior clareza mental e um senso de calma, fundamentais para jornalistas que cobrem crises. Incorporar essas práticas pode fazer uma diferença significativa na capacidade de manter o equilíbrio durante coberturas emocionalmente desafiadoras.
Essas referências sublinham a importância de buscar um equilíbrio psicológico durante a cobertura de tragédias. Técnicas como a respiração controlada, a meditação e o estabelecimento de limites claros entre o pessoal e o profissional são cruciais – não, infelizmente, eu não as pratico. Além disso, buscar apoio em colegas e profissionais de saúde mental, reconhecer e aceitar as próprias emoções, sem deixá-las dominar a cobertura, são passos essenciais para realizar um trabalho ético e eficaz.
Revisitar Caxias do Sul em meio a uma tragédia — e ressalto, mesmo que à distância — me trouxe à mente não apenas a responsabilidade jornalística, mas também a necessidade de cuidar de meu próprio bem-estar emocional. Assim, posso continuar a fornecer uma cobertura que não só informa, mas também honra a resiliência e a humanidade da comunidade que tanto significa para mim.