Texto escrito para o Blog Adote SP

Semana que vem começam as obras do estádio do Corinthians, única alternativa paulistana para a abertura da Copa do Mundo de 2014. Ao menos esta é a última promessa feita pelo presidente do clube Andrés Sanchez. Bem verdade que ele já havia anunciado o início dos trabalhos para abril – aquele, do Dia da Mentira (coincidência ?) – depois maio e, agora, junho.
Desta vez tem o aval da prefeitura que autorizou o uso da área em Itaquera, na zona leste, a título precário.
Calma lá ! O precário do título nada tem a ver com as condições pelas quais foi feito o acerto entre o Corinthians e a Odebrechet, empreiteira que vai tocar as obras. De acordo com o site JusBrasil, “título precário” é o modo de conceder, usar ou gozar alguma coisa por mero favor ou permissão, sem constituir um direito.
O documento publicado em Diário Oficial diz que o terreno somente poderá ser usado para a construção do estádio e prevê a conclusão para dezembro de 2013, daqui a dois anos e sete meses, período que o Corinthians terá para barganhar com a construtora ou passar o chapéu entre parceiros e arrecadar R$ 1.070.000.000,00. Para você não se perder nos zeros: R$ 1,07 bilhão – é quanto vale o estádio da Copa.
A persistirem os sintomas, São Paulo terá o estádio mais caro do Mundial 2014. E isto não deve ser motivo de orgulho, principalmente se soubermos que parte deste dinheiro virá dos nossos impostos. Gilberto Kassab, o são-paulino mais amado de Andrés Sanchez, já garantiu R$ 300 milhões em Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento. CID é um mecanismo pouco usado até hoje para incentivar investimentos na cidade oferecendo em troca abatimento de impostos e tributos.
O prefeito nega que isto seja dinheiro dos cofres da prefeitura para o estádio do Corinthians. Através do secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Marcos Cintra, defende que o CID é uma isenção sobre impostos e tributos que não seriam arrecadados se a obra não fosse feita.
Mesmo com este repasse fiscal no “ponto futuro”(apenas para manter-me no jargão futebolístico), o Corinthians ainda precisará de mais dinheiro para fechar a conta. E para piorar as coisas para o clube, a tentativa de levantar a grana no Palácio dos Bandeirantes ainda não deu resultado.
O governador de São Paulo Geraldo Alckmin insiste em não colocar um só tostão nas obras do estádio do Corinthians. Tem sido pressionado mais do que deveria, mesmo assim resiste aos pedidos que chegam a casa dos R$ 370 milhões. E não é resistente porque torce para o Santos. É porque tem ao seu lado boa parte do torcedor paulista. Pesquisa encomendada pelo Governo mostra que 70% das pessoas entrevistadas são contra o uso de dinheiro público no estádio, mesmo que isso signifique não ser sede da abertura da Copa.
Mantenha na retranca, Governador, pois mesmo sem este recurso, São Paulo já é a cidade que mais dinheiro público investirá nas obras de infraestrutura para a Copa, conforme números levantados pelo Tribunal de Contas da União e publicados pela Folha, nesta semana:
1- A conta da cidade subiu de R$ 3,41 bilhões para R$ 5,49 bilhões, entre maio de 2010 e fevereiro de 2011. O crescimento é de 61%
2- O gasto na organização da Copa em São Paulo é R$ 2 bilhões mais alto do que o do Rio, que está em segundo lugar no ranking”.
3 – Dos gastos, R$ 5,4 bilhões são do setor público e R$ 90 milhões, da iniciativa privada
Ao caro contribuinte resta usar das ferramentas que tem em mãos para proteger seu dinheirinho. Pressionar o poder público, cobrar transparência nas contas e, se for o caso, denunciar irregularidades aos órgãos competentes.
Comece por pedir explicações ao prefeito Gilberto Kassab, mande um e-mail para o gabinete dele (gabinetedoprefeito@prefeitura.sp.gov.br). Mostre sua opinião ao governador Geraldo Alckmin, no Fale Conosco do Palácio dos Bandeirantes. Reclame ao Ministério Público Federal (pfdc@pgr.mpf.gov.br). E não esqueça de cobrar do seu vereador, na Câmara Municipal, é obrigação dele fiscalizar como o dinheiro da cidade está sendo gasto.