SOS Morumbi: “Policiamento não é suficiente”, diz Conseg

 

O Governo de São Paulo se antecipou a manifestação de moradores do Morumbi por mais segurança na região e anunciou a instalação de uma base da Polícia Militar ao lado da rua Doutor Francisco Thomaz de Carvalho, o Ladeirão, onde ocorrem assaltos com frequência. Além disso, o secretário de Segurança Antonio Ferreira Pinto disse que o policiamento será reforçado para coibir os roubos a residências. Na noite passada e neste madrugada era possível ver uma quantidade significativa de viaturas da PM paradas em pontos estratégicos da avenida Giocanni Gronchi. E para não haver dúvida de que estavam lá, todas com o giroflex ligado.

As ações, porém, não são suficientes para reduzir os índices de criminalidade na região, disse o diretor do Conseg Portal do Morumbi, Agnaldo Oliveira, em entrevista ao Jornal da CBN. Para ele, não bastam medidas pontuais, é necessário a criação de uma política planejada e permanente de segurança pública. “De acordo com o Censo 2010, o crescimento populacional da Vila Andrade foi de 73%, na última década, nem a infra-estrutura nem o efetivo policial aumentaram neste ritmo”, justificou assim os motivos que levarão os moradores a participar do SOS Morumbi, na Praça Vinícius de Moraes, no domingo, dia 28, a partir das 10 e meia da manhã.

Para o Conseg Portal do Morumbi, não adianta construir uma base policial no Ladeirão, é preciso instalá-la dentro da Comunidade de Paraisópolis “para gerar segurança inclusive para as pessoas que moram lá dentro que são reféns da criminalidade”, disse Agnaldo Oliveira.

Ouça a entrevista com o diretor do Conseg Portal do Morumbi, Agnaldo Oliveira, ao Jornal da CBN

“Olha bem para minha cara”

 

Foi surpreendente a coragem da mulher que denunciou e encarou policiais militares que executaram um homem, no terreno de um cemitério, em Ferraz de Vasconcelos, região metropolitana de São Paulo. A fala dela ficou gravada no sistema de comunicação da PM e revelou atitude pouco comum na sociedade brasileira.


Ouça a reportagem que foi ao ar no Jornal da CBN

Impulsionada pela indignação, não teve medo de narrar ao policial que a atendeu por telefone o que havia assistido, nem mesmo de peitar os PMs que tinham recém cometido o crime: “olha bem para minha cara”, ameaçou ela ao ouvir de um deles que a pessoa assassinada tinha reagido à prisão.

“Viu só que mulher burra?” – foi o que acabei de ouvir de alguém que discorda da atitude pois entende que ela teve morte decretada a partir da denúncia feita. Ela e parentes dela que serão ameaçados pelos policiais agora presos ou por comparsas da dupla.

Muito pior, com certeza, foi a reação de gente que condena o comportamento da mulher por dar razão aos policiais-executores. Parcela de uma sociedade que defende o Esquadrão da Morte como forma de combater a violência no País. Como se isto já não existisse e com os resultados que conhecemos muito bem.

Há alguns meses foi uma câmera que testemunhou um garoto de favela sendo baleado covardemente por policiais, no Amazonas. Desta vez, uma mulher. Amanhã, pode ser você. Qual será a sua reação ?

As opções são poucas e definitivas: a coragem da mulher que denunciou, o medo do cidadão que não crê na segurança pública ou a covardia daquele que defende o assassinato.

De todas as poucas certezas que tenho neste caso, a última jamais terá meu aval, mesmo que isto vá na contramão do que pensam muitos dos que se pronunciam. Toda a sociedade que se pauta pelo desejo de vingança e ódio tende a pagar muito caro por isso.

O “olha bem para minha cara”, dito por esta mulher vítima e heroína, soa como uma tabefe na nossa cara.

Cidadão com medo é vida longa para vigia de rua

 

Zé da Rua trabalhava com um apito e montado em uma bicicleta. Sempre preferiu à noite para exercer sua atividade até que um pessoal de moto se aproximou e sugeriu que ele desse expediente de dia, pois eles iriam tomar conta da segurança noturna. Valorizando a própria vida, logo convenceu os moradores do quarteirão de que seria muito mais útil controlar as casas quando os donos estivessem fora, trabalhando ou na escola. Hoje, abandonou o apito e trocou a bicicleta pela moto que conseguiu comprar com o dinheiro que arrecada de 20 moradores, a maioria velhos conhecidos do Zé. Dois dos quais foram inclusive trancados com ele em uma mesma sala durante assalto com refém.

Grande parte das ruas de São Paulo e cidades de médio porte contam com a presença destes guardinhas, um serviço na maioria das vezes informal e vulnerável. Em alguns casos explorado por policiais ou grupos que mais se parecem com milícias que coagem os moradores a pagar pela suposta segurança.

Os vigilantes de rua ganharam destaque nesta semana após o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo impor a eles a responsabilidade pela falha no sistema de segurança que permitiu o assalto a casa do secretário de Transportes Saulo de Castro, que na gestão anterior de Geraldo Alckmin era o responsável por combater a violência, no Estado.

O delegado Marcos Carneiro Lima disse que “somente a polícia não consegue resolver problema desta envergadura” e propôs que todos vigilantes fossem cadastrados e fiscalizados. Sugeriu que passem a atuar como olheiros da polícia.

“O delegado falou o que não devia”, criticou o pesquisador dedicado à segurança pública Guaracy Mingardi.

A ideia o fez lembrar do inspetor de quarteirão, figura que existiu em diferentes épocas no País com funções bastante distintas nem sempre nobres. A última referência foi na década de 1980 quando os homens que atuavam na função, escolhidos pelo delegado, ganhavam carteirinha e passavam a abusar de seus poderes: “alguns brincavam de ser polícia e davam tiros”.

O governador Geraldo Alckmin e o secretário de Segurança Antonio Ferreira Pinto também consideraram a ideia desproposital, apenas fizeram isso de forma polida e tentaram defender o colega de governo com o velho jargão: “foi mal interpretado”.

Ambos aproveitaram a oportunidade para lembrar a derrubada nos índices de violência no Estado, noticiada com destaque nos últimos dias. Números oficiais mostram que temos 10,48 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes, próximo do que a Organização Mundial de Saúde considera razoável.

Há um dado, porém, que intriga.

Calcula-se que há cerca de 1,8 milhão vigias de rua, 400 mil no Estado de São Paulo. Todos irregulares, pois a Constituição prevê que esta é área exclusiva das polícias Civil e Militar, explica Carlos Roberto Silveira, do Sindicato dos Vigilantes e Segurança de São Paulo

Se o avanço no combate à violência foi tão significativo quanto mostram as estatísticas fica difícil entender porque a população se submete a contratar de forma precária vigilantes que oferecem serviço de qualidade duvidosa. Sem falar na quantidade de equipamentos disponíveis em torno da casa: muros altos, cerca elétrica, alarme e câmeras.

É esta a resposta que o cidadão busca pois está cansado de ter de pagar dobrado para um mínimo de tranquilidade. Sai dinheiro de impostos para financiar a segurança pública e do salário para a privada. E o medo permanece, conforme levantamento ‘Características da Vitimização e do Acesso à Justiça’, do IBGE: a sensação de insegurança afeta 47,2% dos brasileiros, 21% dos quais dentro de casa

Walter Maierovitch, do Instituto Brasileiro Giovanni Falconi, por telefone repetiu o que havia escrito recentemente em sua coluna semanal na revista Carta Capital: “o medo de se tornar vítima de crime virou um problema social e não só no Brasil. É causa da desconfiança, afastamento da vida comunitária, paranoia, autodefesa, enclausuramento etc”.

Meu ex-colega de CBN, sempre por mim consultado quando a coisa está complicada para o lado do cidadão, conta conversa que teve com Gianni de Genaro, que foi chefe da polícia italiana, na qual este sustentou que não adiantava apenas ter um número suficiente de homens em patrulhamento ostensivo ou em ações preventivas. Os policiais tinham de ter capacidade de dialogar com as pessoas e compreender suas reais necessidades, em cada comunidade.

Em cidades e países ricos, a exposição de tecnologia para vigilância também colaboram no combate ao crime, desde que usada inteligência de prevenção, como ocorreu em Nova York no governo Rudolph Giuliani.

Para Maierovitch é preciso reduzir a sensação de insegurança e restaurar a confiança no policial que deve estar próximo da população – o que não se faz pela força: “É sabido que a baixa dos índices de violência, por si só, não reduz o medo”.

Enquanto houver medo, Zé da Rua terá vida longa no emprego.

Empresa começa operar após brigas, bombas e ameaças

 

Concorrência acirrada atrasou início das operações da Leblon, na cidade de Mauá. Os ônibus da empresa começam a rodar, oficialmente, no dia seis de novembro. O MP investiga ações violentas

Ônibus da Leblon, Maua

Por Adamo Bazani/CBN

A prefeitura de Mauá, na Grande São Paulo, determinou que as operações da Empresa Leblon Transporte de Passageiros, vencedora da licitação do lote 02, que contempla 18 linhas, comecem no dia seis de novembro. Será um sábado, ideal para os passageiros se adaptarem às mudanças, e já no primeiro dia útil da semana, terem algum conhecimento das linhas que deixarão de ser prestadas pela Viação Januária, cujo grupo responsável, Baltazar José de Sousa, perdeu o certame público.

Apesar de a Empresa Leblon Transporte, do Paraná, ter vencido a licitação em 2008, esta só conseguiu autorização para iniciar as operações em novembro, principalmente por causa dos recursos jurídicos impetrados pelas empresas TransMauá e Estrela de Mauá, ambas do mesmo dono da Viação Januária, que contestaram a licitação.

Os recursos da TransMauá e Estrela de Mauá chegaram até o Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, instância na qual foram derrubados pelo presidente Ari Pargemdler, que teve o voto seguido por todo o colegiado do STJ, conforme já havia revelado a reportagem.

O secretário de Mobilidade Urbana de Mauá, Renato Moreira dos Santos, conversou com exclusividade com este repórter nesta quinta-feira sobre a expectativa pelo início de operaçao da Leblon: “É uma oportunidade importante para Mauá ter uma operadora com padrão de transporte premiado e que atua num dos melhores sistemas do País”. Em relação a bilhetagem eletrônica, Renato Moreira dos Santos falou que não haverá perda financeira para o usuário. Ele prevê benefícios e diz que o processo está bem adiantado em relação ao sistema a ser utilizado: “A empresa Leblon Transporte está atendendo ao edital de licitação. Até os dias 20 ou 25 deve estar concluída a interoperabilidade. Os equipamentos da Leblon e da Viação Cidade de Mauá vão se comunicar”

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Comandante da Rota diz que foi salvo “graças a Deus”

 

Vítima de atentado e alvo de 11 tiros na manhã de sábado, o comandante da Rota em São Paulo, Paulo Telhada, disse que não morreu “graças a Deus” e tomará ainda mais cautela, pois “você sempre espera que tenha problemas, agora [quando ataca] a sua casa é complicado”.

Ele afirmou em entrevista ao CBN São Paulo que a polícia não mudará sua forma de atuar contra o crime organizado e os ataques que ocorreram no fim de semana sinalizam que o trabalho da segurança pública no Estado incomoda os criminosos.

Para ele, muitas outras coisas precisam mudar, a começar pela “glamorização dos bandidos”. Telhada disse que “bandido aparece na mídia andando com mulheres bonitas” e visto como “um coitadinho, enquanto a polícia é algoz”. O comandante da tropa de elite da polícia paulistana voltou a falar em Deus quando comentou que “homem que vai a Igreja não mata”.

Um dos fatos que chamaram atenção é que para Telhada o homem que foi morto após participar de atentado contra o quartel da Rota é um egresso do sistema penitenciário, viciado em droga, que teria dívidas a pagar e, por isso, teria sido obrigado a participar da ação. Porém, o comandante preferiu não comentar sobre o fato de que o sistema prisional não é capaz de recuperar as pessoas que cumpriram pena pelo crime cometido.

O tenente-coronel Paulo Telhada nega que alguma facção criminosa domine os presídios no Estado de São Paulo e entende que é prematuro afirmar que os ataques contra ele e o quartel da Rota tenham relação com o incêndio de carros.

Ouça a entrevista completa do tenente-coronel e comandante da Rota Paulo Telhada ao CBN São Paulo

De onde vem esta força ?

 

Por Abigail Costa

Uma das maiores recompensas da minha profissão de jornalista é conhecer pessoas. Em todos os lugares, gente interessante com histórias para contar. Isso, histórias. Conhecimento.

Nem sempre você vai para uma reportagem de entrega de Oscar. Nem tudo são flores, ainda mais morando e trabalhando nesta cidade chamada São Paulo.

Esses últimos dias tem sido de um enorme aprendizado. Tenho conhecido mulheres, mães. Diferentes do que tinha visto antes.

Entro na casa delas para ouvi-las. Elas falam de dor, de perda. Choram, pedem justiça, não cruzam os braços. E num dado momento a conversa ganha um rumo diferente. A voz continua embargada, mas decidida.

Encontrei com Márcia numa manifestação no centro. Ela veio do Rio de Janeiro para contar que o filho foi morto. Vítima de uma “troca de tiros com policiais”.

Márcia passou quatro anos trabalhando para mostrar a inocência do garoto de 16 anos. Conseguiu provar que os assassinos do filho eram dois PMs. Hoje, condenados e expulsos da corporação.

Já Maria Aparecida, mãe de Alexandre, descreve o que aconteceu: o filho foi morto no começo do mês na frente da família. Apesar dos apelos da mãe, do irmão de 13 anos, a cena de espancamento só parou quando Alexandre já não oferecia mais “resistência”. O crime dele: a moto estaca sem placas, disseram os policiais.

Ouvir essas histórias tristes contadas por quem mais sofreu e sofre pela falta dos filhos é difícil. Mas no meio de tanta tristeza, elas têm uma força inacreditável. No caso da Márcia, incansável. Lutaram para provar que os filhos que criaram não são bandidos.

Elas são mulheres simples.
Elas são mulheres fortes.
Elas são mães.

Abigail Costa é jornalista, mãe de dois meninos e escreve às quintas-feiras no Blog do Mílton Jung

Pauta #cbnsp: Violência traz polícia de volta ao trânsito

 

CBN SPA violência no trânsito e a falta de capacidade da CET de atender todas as ocorrências fizeram o Governo de São Paulo recriar o Comando de Policiamento de Trânsito, oito anos depois de ter sido desativado. Em entrevista ao CBN São Paulo, o comandante Hervando Luis Veloso disse que o aumento da criminalidade levou a retomada dos trabalhos de uma polícia especializada. A PM deverá atuar para permitir melhor fluidez no tráfego segundo o coronel, também.

O advogado José Almeida Sobrinho, professor da Academia de Polícia Civil de São Paulo, entende que, além de realizar blitz, o CPTran deve combater alguns tipos de irregularidades que não são da competência dos agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego.

O Comando de Policiamento de Trânsito foi desativado durante o governo Geraldo Alckmin (PSDB), em 2002, sob a justificativa de que a PM deveria ter sua atenção voltada ao combate à violência urbana. Quando foi questionado sobre o fato de que a fiscalização ficaria enfraquecida, o ex-governador defendia que todos os policiais incluiriam nas suas funções o controle do trânsito. Foi criticado na época, mas se mostrou irredutível. Hoje, está claro que foi um erro da administração estadual a desativação do CPTran.

Ouça a entrevista do comandante Hervando Veloso

Conheça a opinião do advogado José Almeida Sobrinho

Acompanhe outros destaques da pauta #cbnsp:


Golpe eletrônico –
A polícia investiga “roubo” de créditos da Nota Fiscal Paulista, mas o número de casos é considerado irrisório pela Secretaria Estadual da Fazenda, em São Paulo. De acordo com um dos coordenadores da secretaria Evandro Freire os casos ocorrem apenas com contribuintes que não estão cadastrados e possam ter tido seus dados copiados. Ele explica que apesar das ocorrências a única preocupação do Governo é sobre o modo de operação dos ladrões.

Educação – Mais creches, professores melhores, dinheiro aplicado e ações inclusivas são quatro dos temas apresentados durante discussão sobre o Plano Municipal de Educação que deve orientar as políticas públicas do setor durante os próximos dez anos. Nesta semana, se encerram as reuniões nas subprefeituras e os encontros temáticos, mas o debate seguirá em frente. Após a elaboração das ideias, o Plano será enviado à Câmara Municipal para aprovação dos vereadores. Samantha Neves, do Movimento Nossa São Paulo, falou sobre o resultado deste denate até agora.

Esquina do Esporte –
A demissão do técnico Antonio Carlos Zago é mais uma demonstração da falta de controle do presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Beluzzo. Concordam com esta afirmação o comentarista Leonardo Stamillo e o narrador Marcelo Gomez que participaram do debate esportivo, no CBN SP.

Ação na Cracolândia foi deprimente, diz Maierovitch

 

A operação da polícia civil de São Paulo na Cracolândia, região central de São Paulo, causou uma tremenda confusão, social e política. Foram presos 33 suspeitos após trabalho de investigação que teria contado com a presença de olheiros, policiais disfarçados e equipamentos de gravação de vídeo escondidos em carros camuflados. Mais um monte de usuários também caiu nas mãos da Segurança Pública e foram levados para um centro da prefeitura que não estava preparado para recebê-los. Todos voltaram às ruas.

A polícia disse que a ação foi um “extremo sucesso”. A prefeitura, através do secretário Januário Montone, falou que foi um “espetáculo de pirotecnia”. Houve bate-boca pela imprensa entre os representantes do Governo Serra e Kassab o que causou enorme constrangimento pois são duas administrações que sempre andam de mãos dadas.

Para o presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falconi Walter Maierovitch a operação foi deprimente e desumana. Ele falou ao CBN SP e chamou atenção, também, para a falta de capacidade dos centros da prefeitura para atender usuários de droga: “fazem um atendimento de fachada”.

Ouça a entrevista de Walter Maierovitch

São Paulo pratica pena de morte ilegal

 

Título acima e reportagem abaixo, escritos por Renata Camargo, do Congresso em Foco, alertam para a violência policial no Estado de São Paulo. Para quem acredita que apenas a violência é capaz de impedir mais violência, uma boa leitura. Para todos os demais – entre os quais me incluo -, motivos a se preocupar:

“Dossiê elaborado por diversas entidades ligadas ao combate à violência no país revela que a polícia do estado de São Paulo pratica a pena de morte, ainda que esse tipo de condenação seja ilegal no Brasil. Embora o estudo tenha se concentrado na análise do comportamento da polícia paulista, os organizadores do dossiê alertam que as conclusões da pesquisa não representam uma realidade apenas de São Paulo. Como explica a historiadora Angela Mendes de Almeida, do Observatório das Violências Policiais de São Paulo, boa parte das constatações apresentadas no mapa de extermínio de São Paulo pode ser estendida para outros estados brasileiros.

O estudo, denominado Mapas do Extermínio: execuções extrajudiciais e mortes pela omissão do estado de São Paulo, revela que a polícia paulista tem usado a força letal de forma arbitrária e que o grau de extermínio de civis no estado é superior aos níveis mundiais aceitáveis.

As organizações trazem dados oficiais e extra-oficiais sobre o extermínio de civis feito por policiais em chacinas, em execuções sumárias aplicadas por agentes em serviço e fora de serviço e em mortes misteriosas de pessoas que se encontram sob custódia do Estado. As vítimas dessa “pena de morte extrajudicial” são, em sua maioria, jovens entre 15 a 24 anos de idade, moradores das periferias de grandes cidades, afrodescendentes e pobres.”


Leia a reportagem completa no Congresso em Foco

3.107 dias depois, Igor cumpre pena por assassinato

 

Oito anos mais velho, pesando pouco menos de 50 quilos, o que o fez parecer ainda menor do que já era, com os cabelos ralos de sempre, dentes apodrecidos e visivelmente extasiado. Com toda esta aparência de derrota, o ex-promotor de Justiça Igor Ferreira da Silva não perdeu a arrogância ao ser preso oito anos depois de fugir da condenação pelo assassinato da mulher que estava grávida. Convenceu a delegada que teria lhe dado voz de prisão a não colocá-lo no camburão da polícia, anunciou que estava se entregando e denunciou ter sido vítima de desrespeito aos direitos humanos durante a prisão.

Igor terá de cumprir os 16 anos e poucos meses de prisão, mas pode alegar problemas de saúde para ter a situação amenizada. Vai manter a tese de que a mulher foi morta por um assaltante e defender sua inocência. Todos os recursos possíveis e impossíveis serão usados por ele e família para tornar a condenação mais branda. Será persuasivo como já havia sido com seu advogado de defesa, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, a quem convenceu de que ficaria em casa enquanto o Órgão Especial do Tribunal de Justiça julgava seu destino, em abril de 2001. Tinha o direito de não comparecer diante dos colegas promotores. Assim que a sentença foi anunciada ele desapareceu.

Há oito anos, a polícia recebe notícias do paradeiro de Igor, algumas vezes policiais disseram ter estado muito próximos dele, mas nunca conseguiram colocar as mãos no ex-promotor. Teria tido aparições em Florianópolis e no Chile. Jamais confirmadas. Ele alega que sempre permaneceu no Brasil. A maneira como foi preso, após denúncia anônima, na calçada de uma rua da Vila Carrão, na zona leste, como se esperando a Justiça chegar, sinaliza que tenha cansado de fugir.

Durante três anos, os ouvintes-internautas do CBN SP acompanharam contagem progressiva do tempo de fuga do ex-promotor. A cada aniversário da condenação, realizávamos entrevistas com autoridades e especialistas no tema. Quase sempre o programa era seguido de um telefonema de membros da família de Patrícia Longo afirmando que confiavam na inocência de Igor Ferreira da Silva. Sim, os pais dela e irmão nunca acreditaram que o ex-promotor tenha sido o assassino. O pai dele, advogado, chegou a escrever um livro sobre o assunto acusando procedimentos ilegais da polícia e dos promotores que o julgaram.

Nos últimos anos, confesso, havia desistido de falar do caso.

A prisão aconteceu após 3.107 dias de fuga e concluiu o árduo trabalho da procuradora Valderez Deusdedit Abbud, que sustentou a acusação contra ele, convenceu os 25 desembargadores mais antigos da corte paulista, superou todas as barreiras impostas pelas manobras do experiente acusado e o desgaste de ter de condenar um colega do Ministério Público Estadual, mas que até esta segunda-feira não havia tido a oportunidade de ver a pena sendo cumprida.