Avalanche Tricolor: nada pode ser maior!

 

Grêmio 2×0 Flamengo
Brasileiro – Arena Grêmio

 

DSC_0637

 

Estou aqui para falar de vida e peço perdão se você, caro e raro leitor desta Avalanche, esperasse ler – se é que alguém me espera – sobre a vitória do Grêmio na tarde de domingo, em Porto Alegre, que praticamente lhe garantiu presença na Libertadores – faltam apenas alguns pontinhos. Desta vez, por estar de corpo presente na Arena, na minha estreia neste palco impressionante do futebol, até poderia tratar da bola rolando com mais precisão do que quando assisto aos jogos pela televisão. Mas não haveria espaço para tal diante das emoções que senti desde que cheguei à capital gaúcha e especialmente à arena gremista.

 

Claro que a vitória renderia um ótimo papo com você, pois foi construída a partir de dois tempos bastante distintos e dois gols que mostraram a categoria do time de Roger – um time que joga com paciência, segurança e talento, mistura que às vezes é difícil de ser entendida pelo torcedor. O primeiro dos gols, aliás, foi obra prima, pois se iniciou com a visão de jogo e o passe preciso de Douglas, o drible de categoria e a humildade de Luan, coisa rara no futebol competitivo que temos, e, claro, a velocidade e oportunismo de Everton. O segundo, valeu também pelo conjunto da obra, mas gostei muito de ver a calma do atacante Bobô para escapar da marcação e tocar a bola distante do alcance do goleiro.

 

Como disse, porém, não vim aqui falar de futebol. Quero falar de vida!

 

A partida desse domingo foi o presente de 80 anos que escolhi dar ao pai, que, convenhamos, não requer mais apresentações. Foi ele quem me ensinou ser gremista – entre outras tantas coisas boas que fez por mim na vida. Nunca havíamos assistido ao Grêmio na Arena e eu fazia questão de lhe proporcionar este momento levando-o até lá, assim como ele me levou de mãos dadas algumas centenas de vezes ao Estádio Olímpico. E não fomos sozinhos. Estavam lá filhos e netos. Queríamos que fosse um momento especial. E foi muito mais do que isso.

 

Velhos conhecidos o paravam para saudá-lo enquanto caminhávamos até o espaço reservado para assistir ao jogo. Entre abraços havia lembranças das épocas de narrador, e na voz de quem o cumprimentava a saudade dos tempos do Milton Gol-gol-gol Jung! Ouvir o locutor do estádio anunciar os gols da partida com os três gritos repetidos que se transformaram em sua marca parecia mais do que uma coincidência: soava como exaltação. Aliás, os gols – que não tinham como estar programados para a festa, mas que foram muito bem-vindos – me deram a chance de vibrar ao lado do pai mais uma vez como fizemos tantas outras no passado. Dei-lhe um abraço com a alegria que as vitórias costumam nos oferecer. Não esta que o futebol nos proporciona, já que esta é fugaz. Refiro-me a vitória que é estar vivo para compartilhar nossas alegrias em família, mesmo diante de todos os percalços que a vida nos impõe. Vê-lo sorrindo e com o olhar brilhando e ter filhos e netos ao lado dividindo a mesma emoção foi muito especial.

 

DSC_0696

 

Ao fim do jogo novas emoções nos esperavam, pois a direção do Grêmio o recebeu para cumprimentá-lo e lhe presenteou com uma camisa do clube. Lá estavam o presidente Romildo Bolzan, o vice-presidente de futebol César Pacheco, o supervisor Antônio Carlos Verardi – companheiro dele de antigas batalhas -, o diretor executivo de futebol Rui Costa dos Santos e o técnico Roger Machado, que antes de seguir para a entrevista coletiva foi apertar-lhe a mão. Assim como eles, antigos funcionários do clube também passaram para trocar algumas palavras e demonstrar admiração. Confesso que não sei se o pai percebeu a dimensão daquele gesto, pois ele sempre foi comedido nestes momentos, mas posso garantir que, assim como meus irmãos e os netos dele, assistimos a tudo com muito orgulho.

 

Obrigado, Grêmio! De todas as alegrias que você me deu até hoje, nenhuma poderia ser maior do que o respeito demonstrado ao pai.

Avalanche Tricolor: a superstição não é capaz de resolver todos os nossos problemas

 

Flamengo 1×0 Grêmio
Brasileiro – Maracanã/RJ

 

Confio mais em Roger do que em superstição (foto Grêmio Oficial no Flickr)

Confio mais em Roger do que em superstição (foto Grêmio Oficial no Flickr)

 

Houve época em que para assistir ao clássico gaúcho no campo adversário, seguia para lá acompanhando parte da diretoria e comissão técnica do Grêmio. Era jovem ainda e meu pai, que narrava as partidas, por segurança, entregava minha guarda a um de muitos amigos que tinha no clube. Isso me permitia, por exemplo, o privilégio de chegar ao estádio e frequentar dependências restritas à delegação visitante. Lembro de quando entramos no vestiário que, em seguida, receberia os jogadores gremistas, e encontramos os espelhos pichados com palavras de ameaça religiosa. Se é que a memória não falha, havia coisas do tipo “suas pernas serão presas pelo santo-sei-lá-qual”. Isso foi pelas décadas de 1970 e 1980. Prontamente pessoas que estavam comigo começaram a apagar as frases pois disseram que se os jogadores lessem as ameaças teriam seu desempenho afetado em campo. Parece-me que vencemos aquele clássico.

 

As superstições sempre fizeram parte da nossa vida e, na maioria das vezes, de forma inexplicável. Aliás, essa é uma de suas características já que são crendices, estão baseadas em situações de casualidade que não podem ser analisadas de forma racional ou empírica. O esporte é rico nessas histórias. Você há de se lembrar de Zagallo que impôs ao número 13 a responsabilidade pela classificação do Brasil para o Mundial da Alemanha, em 2006. Muito antes disso, em 1962, os jornalistas que cobriam a Copa foram levados a repetir em todos os jogos a mesma roupa que vestiram na primeira partida. Fomos bicampeões. Tem jogador que se trocar o número da camisa marca menos gol, há os que tomam o cuidado de entrar em campo pisando com o pé direito ou fazem o sinal da cruz inúmeras vezes.

 

No Grêmio, até algumas rodadas atrás, a camisa azul em degradê foi vestida à exaustão, partida após partida, pois seria ela a responsável pelo bom desempenho da equipe e a sequência de vitórias que nos levaram ao topo do Campeonato Brasileiro. Sexta-feira passada, um amigo tricolor me ligou pois soube que eu havia assistido à derrota contra o Criciúma, pela Copa do Brasil, em casa, aqui em São Paulo, e não no exterior, como fiz nos jogos anteriores em que tivemos muito mais sucesso. Fiquei na dúvida se a sugestão dele era que eu estendesse minhas férias até o fim do Brasileiro ou apenas desistisse de ver o jogo contra o Flamengo. Eu assisti ao jogo de sábado à noite em casa da mesma maneira que havia feito na terça-feira. Perdemos, como você já sabe.

 

Bem que eu gostaria de acreditar que foi a minha decisão a responsável pelo mau desempenho gremista, no Maracanã. Mas, infelizmente, a falta de precisão do meio para frente e de inspiração do meio para trás têm outras causas muito mais de caráter técnico e tático do que sobrenatural. E para resolvê-las prefiro confiar na capacidade de Roger.

Avalanche Tricolor: merecíamos a alegria da vitória

 

Flamengo 0 x 1 Grêmio
Brasileiro – Maracanã

golluanflaxgremiobudamendesgetty_l

 

Eu merecia,

Felipão merecia,

Nós merecíamos!

 

Desculpe-me pela falta de humildade, mas foi exatamente esta a sensação que tive ao ver a bola sendo desviada para dentro do gol flamenguista, aos 48 minutos do segundo tempo. Uma jogada que se iniciou sob o comando de Luis Felipe Scolari. Não apenas porque foi ele quem colocou em campo, já no quarto final da partida, os dois protagonistas da jogada, mas, também, porque, ao lado do campo, pouco mais à frente de Pará, que se preparava para cobrar a lateral, Felipão gritava e gesticulava para Fernandinho se deslocar para a direita, onde a bola foi lançada. Com o jogo de corpo, o meio-campista deixou o primeiro marcador caído no gramado e com mais três toques de pé esquerdo se livrou de dois adversários e passou para Luan. A tarefa do jovem atacante não seria mais simples do que a de Fernandinho, pois entre ele e o gol haveria mais quatro defensores a serem batidos. E o foram graças ao talento de Luan, que sabemos existir mas nem sempre nos é entregue. Desta vez, ele tocou cinco vezes a bola antes do chute final, todas com o pé direito, fazendo com que ela fosse para lá e para cá, confundindo os marcadores e deixando o goleiro distante de uma defesa.

 

Desde a volta de Luis Felipe tem sido evidente a melhora de desempenho da equipe, a forma organizada com que os jogadores se posicionam e a existência de uma lógica de jogo. Méritos que nem sempre resultaram em placares favoráveis. Sofremos com jogadas desperdiçadas dentro da área, escolhas erradas de passes e chutes, muitos em momentos cruciais, e até gols perdidos embaixo do travessão. Coisas do futebol, eu sei, mas que não faziam jus ao trabalho que se construía no Grêmio. Provocavam frustrações e escondiam a nossa verdade, gerando cobranças injustas e ironia desproporcional. Foi assim nas três derrotas sofridas no período de um mês no qual Felipão comanda o time. Sim, caro e raro leitor, Felipão só está há um mês no comando e mudou claramente nossa forma de ser e jogar. Neste tempo, e mais uma vez peço—lhe desculpas por me despir da humildade, mesmo diante do revés, previ que iniciaríamos nossa Avalanche (no dia 22/08) e decretei seu início (no dia 24/08). A vitória fora de casa, na noite desse sábado, comprovaria esta tese calçada no sentimento gremista que compartilhamos e na razão que nosso jogo jogado demonstrava.

 

Chegamos a ter essa arrancada ameaçada, a começar pela injúria proferida por alguns dos nossos torcedores que tomaram atitude injustificável e provocaram abalo incalculável à nossa reputação. O preço que estamos pagando é caro e a forma agressiva com que torcedores adversários se dirigiram aos nossos, no Rio de Janeiro, revela o cenário que enfrentaremos a partir de agora (atitude intolerável assim como foram os intolerantes que atacaram Aranha e nos prejudicaram). Todo o drama vivenciado nestes poucos mais de sete dias tinha tudo para impactar o desempenho da equipe, provocando intranquilidade no momento em que o time se reconstrói. Nos desafiavam, também, ameaças muito mais íntimas do futebol, como um adversário embalado pela sequência de vitórias, que jogava em casa, com apoio de quase 60 mil vozes e treinado por um técnico (que não me deixou saudades) sedento de vingança; assim como desfalques importantes como o de Barcos, vice-goleador do Campeonato Brasileiro. Em campo, contudo, fomos maiores e maduros, mesmo os mais jovens. Fizemos o primeiro tempo melhor do que o adversário e tivemos o segundo marcado pela intensidade da nossa defesa e a organização estratégica de Felipão. Foi, então, que o dedo do técnico apontando para Fernandinho conduziu-nos à vitória. Merecida vitória.

 

A imagem deste post é do site Gremio.net

Avalanche Tricolor: um craque para vestir a camisa do Grêmio

 

Maxi 2 x 0 Flamengo
Brasileiro – Arena Grêmio

 

 

O Grêmio consegue chegar à vice-liderança do Campeonato Brasileiro mesmo depois de uma sequência ruim de resultados e desempenhos questionáveis. A impaciência do torcedor ilustra este cenário. Nossas vitórias vinham sendo resultado muito mais da forma voluntariosa, raramente qualificada, com que o grupo se comporta quando veste a camisa tricolor. Talvez o atacante Barcos, alvo de muitas críticas nas últimas partidas, seja o melhor exemplo disso. Pode-se reclamar que ele não tem feito aquilo para o qual foi contratado, mas ninguém pode dizer que ele não tem cumprido o papel para o qual está escalado. É sempre ele que tira a bola de dentro da nossa área nas cobranças de escanteio e de falta do adversário. Lá na frente, é um guerreiro contra os seus marcadores. Seja para segurar a bola quando esta é lançada normalmente por nossos zagueiros, seja para impedir que os zagueiros inimigos consigam sair jogando. Muitas vezes, o vemos no meio de campo roubando a bola do adversário e tentando armar a jogada. Sofre na luta pela bola tanto quanto sofremos ao vê-lo não marcando gols. Essa vontade de acertar, que não é só de Barcos, para, porém, na movimentação claudicante das peças em campo e nos frequentes passes errados.

 

Há algum tempo venho esperando um atuação individual marcante. Aquele jogador que entra em campo e desequilibra a partida com seu talento. Capaz de driblar o adversário, desconcertar o marcador, limpar a jogada e se colocar em condições de fazer o gol. E, claro, fazendo o gol depois de criar essas condições. Na noite deste domingo, fui premiado. Eu e toda a torcida do Grêmio. Máxi Rodriguez mostrou em duas jogadas que está à altura da paixão dos torcedores por ele. Tem categoria e garra. Tem classe e suor. Tem futebol e carisma para ser titular do Grêmio.

 

Que assim o seja para o todo o sempre!

Avalanche Tricolor: O gol de Pará!

 

Flamengo 0 x 1 Grêmio
Brasileiro – Arena Mané Garrincha (DF)

 

 

Tivesse sido um jogador de futebol, eu seria o Pará. Percebi esta semelhança há três, quatro partidas quando tentava entender o papel de cada um dos jogadores gremistas em campo. E, por favor, minha referência não é visual (jamais teria coragem de usar aquele falso moicano sobre a cabeça, apesar de ser adepto do cabelo longo, abaixo dos ombros) é apenas funcional. Na curta carreira de jogador de futebol, totalmente dedicada à Escolinha do Grêmio, de onde já saíram grandes craques para o Mundo, migrei da zaga para a lateral esquerda. Joguei em uma época na qual os laterais não tinham direito de passar do meio campo e se o fizessem logo eram corridos aos berros do ataque, pois a prioridade era impedir o avanço do ponteiro. Eu cumpria bem esse papel. Importante ressaltar que o meu conceito de “bem” talvez seja um pouco diferente daquele usado pelos amantes do bom futebol. Ponteiros não ciscavam muito na minha frente porque eu tinha o hábito de entrar na jogada com o que, atualmente, os comentaristas costumam chamar de força desproporcional. Naquele tempo, era o suficiente para atender à responsabilidade que me era conferida.

 

Por favor, não imagine que pela descrição no parágrafo acima, analise o futebol de Pará como violento. Não é nada disso. Traço esse paralelo entre o que representa para o time nosso lateral direito e o que eu fazia vestindo a camisa do Grêmio, porque nunca tive técnica apurada, sendo incapaz de brincar com a bola em embaixadinhas, por exemplo. Jamais seria lembrado pelo talento nos cruzamentos ou pelo passe refinado, apesar de me garantir na posição pela personalidade que apresentava no comando do grupo. Tinha fôlego de causar inveja, mas corria mais do que pensava. Marcar gols, era raridade, então comemorava bolas despachadas para fora do campo e carrinhos que desarmavam o adversário (às vezes, causavam prejuízos maiores). Se precisassem de alguém para ser sacrificado, podiam contar comigo. Houve oportunidades em que esta vontade de bem servir acabava injustamente punida com cartão vermelho. Os árbitros nunca gostaram de mim. Eu menos ainda deles.

 

Pará nunca será um craque e, provavelmente, a camisa que veste não está entre as mais desejadas pelas crianças na loja do Grêmio, que costumam ser atraídas pelas dos jogadores do meio para frente. Ser lateral é quase uma falta de opção no Brasil. A última a ser ocupada no time de amigos, pois até para ser goleiro já existem aficionados. Há tanta carência que ele próprio jogou boa parte do ano passado no lado esquerdo e agora voltou para sua origem na direita. Se amanhã aparecer alguém tecnicamente melhor do que ele, não tenho dúvidas de que aceitará correr para o outro lado do campo. Pará é um soldado disposto a qualquer desafio e cumpre com eficiência esse papel. Ninguém espere um drible que desconcerte o marcador ou conte com sua presença na linha de fundo a todo momento. Mas tenha certeza de que ele aparecerá com o bico da chuteira para impedir que o inimigo ofereça perigo a seu time, não poupará esforços para chegar na bola antes do adversário e cerrará os pulsos para agradecer a graça alcançada.

 

No sábado à noite, Pará surpreendeu a todos ao cobrar a falta com qualidade e firmeza. Quando se preparavam para o chute de Alex Telles, esse sim um lateral refinado, Pará correu com tal personalidade que não tive dúvida de que resultaria em gol. Ele disse que voltara a treinar cobrança de falta na sexta-feira pela ausência dos batedores titulares do Grêmio. Ou seja, mais uma vez, se dispôs a atender às necessidades de seu time, mesmo que isso significasse um esforço extraordinário. Antes mesmo de a bola chegar ao fundo do poço, abri os braços para comemorar, praticamente repetindo o gesto do nosso lateral na festa pelo primeiro gol que marcou com a camisa do Grêmio. Pelo que entendi em sua fala pós-jogo, o segundo na carreira de profissional. Era o gol de todos nós jogadores de futebol frustrados; que não tivemos chances de brilhar em campo, mesmo quando escalados; que éramos abnegados e não desistíamos de lutar, mesmo diante de nossas limitações; que nascemos para servir a uma causa maior: a alegria de nossos torcedores. Era um gol de Pará.

Avalanche Tricolor: um abraço monumental

 

Flamengo 1 x 1 Grêmio
Brasileiro – Engenhão (RJ)

 

Abraço ao Olimpico from Fuca79 on Vimeo.

 

Acabo de assistir a mais um capítulo de FDP, seriado da HBO que tem um juiz de futebol no centro da trama, e mais uma vez o Grêmio é lembrado no roteiro de José Roberto Torero. Dia desses apareceu nossa torcida em sua avalanche e hoje um dos alunos, ao ser perguntado para que time torcia, disse que era gremista, único clube fora do eixo Rio-São Paulo a ser citado na sala de aula. As referências ao Imortal Tricolor apenas reproduzem na tela a percepção que temos do Grêmio na vida real, e a mobilização desse sábado, em Porto Alegre, confirma nosso sentimento. Na comemoração dos 109 anos, reunimos cerca de 25 mil torcedores, de acordo com informações do site Gremio.net, para dar um abraço no Olímpico Monumental, estádio do qual nos despediremos este ano. E o abraço foi muito além das expectativas, pois para um dia sem futebol no gramado, nossa torcida mostrou sua força ao comparecer em número que é mais do que o dobro da média de pessoas que têm visto os jogos do Campeonato Brasileiro. Não pude estar lá, mas a família esteve bem representada pelo Christian, Vitória e Fernando que fizeram questão de compartilhar conosco o vídeo acima.

 

Antes do seriado da HBO, assisti ao Grêmio enfrentar o Flamengo e empatar partida na qual tínhamos todas as oportunidades para vencer e encostar nos líderes, preparando o bote final à liderança. Fizemos um golaço após troca de passe que deixou clara a qualidade técnica de alguns de nossos jogadores e nosso potencial. E deixamos de fazer muito mais porque, às vezes, tenho a impressão de que falta uma fagulha para acender a alma de cada um dos que estão em campo. Aquela chama que o torcedor é capaz de provocar quando invade o Olímpico Monumental. Também não quero ficar aqui cobrando de uma equipe que tem se mantido em posição privilegiada nesta competição há muitas e muitas rodadas. Mesmo porque – e já escrevi sobre isso na edição anterior da Avalanche – temos de ter muita paciência para darmos o passo (ou seria o passe?) na hora certa, atingirmos o topo na rodada final, no jogo que marcará a real despedida do nosso estádio, na Azenha, quando, então, daremos um abraço monumental, um abraço campeão.

Avalanche Tricolor: Para curar a ressaca

 

Grêmio 2 x 0 Flamengo
Brasileiro – Olímpico Monumental

 

Jogos tensos costumam provocar uma tremenda ressaca na partida seguinte. O desgaste físico e emocional é enorme, principalmente após uma frustração como a sofrida na Copa do Brasil. Assim, não era de se esperar muito na partida desta tarde de domingo, ao menos de minha parte. No entanto, ao ver o céu azul, claro e bonito, em Porto Alegre, logo na abertura da transmissão da televisão entendi aquela imagem com um sinal de bons agouros. Aqui em São Paulo, o domingo também estava bonito e quase me arrependi de deixar de lado tudo o que havia programado para este dia. Excessão a ida à missa dominical todo o resto foi transferido para outra data qualquer. Preferi ficar em casa, descansando, me preparando para a semana que sempre se apresenta complicada, ao lado da família e deixando o tempo passar. O único compromisso à tarde era ver o que seria da ressaca tricolor. Fui recompensado, assim como boa parte da torcida gremista.

 

Depois de duas partidas de muita tensão, nós bem que estávamos merecendo um jogo como o de hoje. A troca de passe lateral e a falta de criatividade chegaram a incomodar em um primeiro momento e sinalizavam mais um desempenho pífio e sofrível, mas de repente a dupla Kleber e Marcelo Moreno começou a se entender. E de uma tabela deles, fazemos um a zero em uma jogada de muita paciência. Digo isso porque Moreno não se impressionou com a impaciência da torcida, dos locutores e do técnico. Esperou o momento certo para matar. Nem bem havia começado o segundo tempo e já havíamos aberto dois gols de diferença, graças a uma cobrança de escanteio e a forma como Werley se antecipou a defesa adversária.

 

Perdemos muitos gols durante o restante da partida, o que poderia ser motivo de irritação dos torcedores – como parece ter sido em alguns momentos. Para mim, relaxado no sofá, satisfeito com o resultado e sempre confiando de que algo novo está para aparecer e renovar nossas esperança, revelava uma mudança de postura em relação aos jogos anteriores em que os chutes a gol e as jogadas de ataque eram cenas raras. Por falar em algo novo, a postura de Tony na lateral direita foi entusiasmadora para um time que não tem chegado a linha de fundo há algum tempo. Confesso que não o conhecia, mas fiquei satisfeito com a performance dele.

 

Terminamos a rodada no G-4, o que nos põe no caminho de nossa obsessão, a Libertadores, esta mesma que desperdiçamos ao não sermos capazes de chegar ao título da Copa do Brasil. Estamos a apenas dois pontos do líder, o que, levado em consideração o desempenho das últimas temporadas, é uma excelente notícia. E estamos a espera de Zé Roberto, que pode dar um jeito na meia cancha (como diziam os mais antigos).

 

Não sei se foi aquele céu que apareceu no início da transmissão, mas com certeza o domingo foi muito mais agradável em campo do que eu imaginava. Parece até que descobrimos um ótimo antídoto para resolver a ressaca: jogar futebol.

Avalanche Tricolor: Um craque, sem dúvida

 

Grêmio 4 x 2 Flamengo
Brasileiro – Olímpico Monumental

Ao Grêmio restavam duas decisões nestas rodadas finais, a primeira dela nesta tarde incrível de Porto Alegre, em um Olímpico completamente tomado por seus torcedores (ok, ok, havia um espaço destinado à torcida adversária). Por todas as circunstâncias bem conhecidas, caro e raro leitor, que os locutores de TV fizeram questão de repetir, irritantemente, a cada minuto de partida (ok, ok, hoje estou um pouco exagerado, não foi nesta frequência), vencer era definitivo para a temporada quase perdida de 2011. E vencemos. E de virada. E de goleada (me convence do contrário).

Dito isso, é preciso abrir aqui um parêntese. Mais um, aliás, neste texto cheio deles. Resignados, temos de admitir que o Cara é um craque. Quando não é covardemente agredido pelas costas – quantas faltas sofreu na partida de hoje -, sempre que consegue receber a bola, transforma-se. Tem um toque rápido para o colega que se aproxima, consegue se movimentar de maneira a chamar atenção da defesa inimiga, mete a bola entre as pernas do marcador, sem contar a precisão do chute. Sim, é um guerreiro, também. Isto sabíamos, faz parte da índole de quem passou pelo Olímpico Monumental. Tromba com o adversário e não se incomoda se este está no caminho do gol. O supera. Hoje, não foi diferente. No primeiro, trombou e marcou. No segundo, com talento, driblou o zagueiro e colocou no canto esquerdo do goleiro.

Evidentemente que o parágrafo (ou seria entre parênteses?) acima é dedicado a André Lima, o Guerreiro Imortal. Sei que deveria oferecer algumas linhas a outras craques que apareceram em campo, como Vítor que, aos três minutos, salvou a lavoura com uma defesa incrível ou a Gilberto Silva que anulou os atacantes no segundo tempo ou Douglas que jogou como poucos e fez o gol da virada ou a Miralles que matou o jogo com apenas uma jogada. Mas é preciso dar o braço a torcer, nas duas últimas partidas foi André quem decidiu com quatro gols e foi dele o mais bonito da tarde. Merece o título de craque nem que seja por alguns instantes.

O quê? Se não vou escrever nada sobre um outro craque? Perdão, não vi mais nenhum jogando hoje no Olímpico Monumental.

Avalanche Tricolor: Haja paciência !

 

Flamengo 2 x 0 Grêmio
Brasileiro – Engenhão (RJ)

A mão escorrega pelo rosto e puxa as bochechas para baixo, ao mesmo tempo em que os olhos se voltam para o céu, em busca de alguma explicação para o erro, enquanto os lábios se espremem impedindo que palavras impublicáveis se dirijam injustamente àquele que o assiste. De forma repetitiva, o gesto se expressa a cada chute com destino tortuoso, como se a bola ter ido a um lugar qualquer que não o seu objetivo fosse desejo próprio deste ser inanimado, nunca resultado da falta de habilidade ou desajuste do protagonista.

Tem sido assim, jogo após jogo, a reação de nossos Imortais a cada tentativa frustrada de ataque. Já deixei de contar as vezes em que não conseguimos sequer chutar em direção ao gol; são raros os momentos em que o goleiro adversário tem de fazer algum esforço para impedir a investida de nosso time; normalmente o destino da bola é o braço dos gandulas, quando esta não é despachada para um lugar qualquer. Inevitável, porém, é a cena do desespero (pela sua mediocridade, talvez) mal interpretada e destacada na televisão por nosso atores, como se aquilo fosse uma injustiça dos Deuses do Futebol, jamais resultado de sua incompetência.

E nós que só temos o poder de torcer, sofrer ? Passamos a mão no rosto, olhamos para o alto, esprememos os lábios, pensamos o quê? Deveríamos desenvolver um grau de paciência que vai além da capacidade de qualquer monge tibetano? Acreditar no poder de nossa mística ? Na história de um clube que nos apaixonou?

Você, caro e raro leitor deste blog, sabe o cuidado que tenho de sempre exaltar os méritos do tricolor, mesmo que estes se resumam a um chutão para a lateral ou uma roubada de bola. Sabe que o sofrimento a cada rodada sempre é visto por mim como o momento de provação que devemos ser expostos para alcançarmos a glória que nos aguarda na próxima esquina. No jogo desse sábado, no Rio, até parecia estarmos diante de um time diferente daquele que se apresentou nas últimas partidas.

Haja paciência, porém. Quando até mesmo nosso maior ídolo é constrangido pelo erro, defender quem – ou quem nos defende? Quando o comandante entende que toda crítica é política e se mostra incapaz à auto-crítica, esperar que a mudança venha de onde? Quando você olha para o banco e não vê opção, não enxerga confiança nos gestos de seu treinador, por que acreditar que haverá crescimento?

Paciência, muita paciência. E olhar para o que já enfrentamos e como solucionamos nossos dramas. São os caminhos que temos para continuar torcendo, sofrendo e acreditando.

NB: Logo após a derrota para o Flamengo, o presidente Odone disse que Wellington Paulista seria contratado e substituiria André Lima, que será sacado do time até melhor sua forma física. O ex-atacante do Palmeiras está ameaçado de não vir mais. Será obra da oposição, presidente Odone?

 

Avalanche Tricolor: E tudo começou com um carrinho

&nbsp

Grêmio 2 x 2 Flamengo
Brasileiro – Olímpico Monumental

No grupo de jornalistas esportivo, um deles era gremista de quatro costados. E na roda o tema era o Grêmio, lógico. Assim que me aproximei, meu conterrâneo foi definitivo: “É consenso, Douglas e Souza não podem jogar juntos”.

Como entendo muito pouco das estratégias de jogo, das formações táticas, do estilo de cada um em campo e das combinações possíveis, e enxergo as partidas de meu time pelo coração, neguei-me a compactuar com aquela conspiração: “Não vejo problema nenhum – desde que joguem”, complementei.

O toque rápido de Souza que deixou Douglas em condições de marcar o primeiro gol do Grêmio me fez lembrar o diálogo de ontem à noite. O que devem ter pensado aqueles especialistas em futebol. Talvez preferissem outro qualquer em campo, como se estivéssemos com gente sobrando no elenco.

Douglas e Souza podem jogar juntos, sim, desde que joguem.

Hoje, enquanto os dois estiveram no time, estávamos na frente, graças, aliás, a outra bola de Souza que encontrou André Lima e rebateu nos pés do goleador Jonas. Aliás, André e Jonas também podem jogar juntos desde que façam os gols necessários. Nem sempre conseguem.

A propósito, depois que Souza saiu, Douglas não conseguiu jogar mais.

Conto toda está história, mas não posso deixar de citar o mais importante. A TV pouco destaque deu, na vez que mostrou parece ter sido sem querer, pretendia chamar atenção para outra coisa. Mas a crônica deste jogo começou com um carrinho de Adílson na intermediária que não se limitou a roubar a bola do adversário, serviu-a para Souza e o resto você já sabe.

Vamos precisar de muitos carrinhos de Adílson e companhia para seguir em frente.